Atsu: campeão pelo FC Porto, seguia atentamente Hulk e despede-se como herói

18 fev 2023, 11:59
Christian Atsu no FC Porto, em 2013 (Paulo Duarte/AP)

Ganês foi encontrado sem vida, aos 31 anos, nos escombros do sismo que atingiu a Turquia. Depois de um empréstimo ao Rio Ave, brilhou nos dragões, mas saiu para a Premier League por se recusar a renovar. No último clube, o Hatayspor, deixou uma imagem que jamais será esquecida

Foram 12 longos dias de avanços e recuos, mas terminaram com o desfecho que ninguém queria ouvir: Christian Atsu foi encontrado sem vida entre os escombros do sismo que atingiu a Turquia.

O ganês de 31 anos deixa três filhos da companheira Claire Rupio, que conheceu quando ainda jogava no FC Porto.

Atsu chegou aos dragões em 2009, oriundo da academia do Feyenoord no Gana.

Filho de uma família «profundamente religiosa e pobre», enganava a fome no país natal com os pontapés na bola.

«Tinha uma vida muito dura. Jogava futebol para esquecer as agruras do dia-a-dia, mas as infraestruturas não ajudavam. Os campos são terríveis. Mesmo os poucos relvados que há não prestam», explicou ao Maisfutebol, em 2011.

Atsu integrou inicialmente a equipa de sub-19 do FC Porto, durante uma época e meia, mas foi depois emprestado ao Rio Ave numa ótica de desenvolvimento e adaptação ao futebol português.

«Fui para Portugal em 2010. Treinei à experiência durante três dias, e depois assinei contrato. Joguei nos sub-19, depois fui emprestado ao Rio Ave, antes de chegar à equipa principal, pela qual fui campeão», recordou Atsu em 2018, revelando dificuldades nos primeiros tempos em Portugal.

«Foi um momento muito difícil, por causa do tempo, das pessoas e da comida, que era diferente. Agarrei-me ao meu sonho», admitiu.

Em 2011/12 foi uma das principais figuras da equipa vilacondense e terminou a época com um registo de seis golos e seis assistências em 31 jogos, o que lhe valeu um lugar no plantel principal do FC Porto na temporada seguinte.

Esse ano foi de sucesso isto porque voltou a superar a barreira dos 30 jogos (um golo e três assistências), sagrando-se campeão nacional e vencedor da Supertaça sob o comando de Vítor Pereira. Apesar de ter sido uma época profícua ao nível de títulos, Atsu já não participou, por exemplo, no célebre jogo no Dragão em que um golo tardio de Kelvin «roubou» o título ao Benfica e colocou-o à mercê do FC Porto.

O extremo terminava contrato com os azuis e brancos no verão de 2014 e recusou-se a renovar, pelo que em maio de 2013 já estava afastado da equipa principal e não fazia parte do projeto. De forma pública, assumiu o desejo de jogar na Premier League, mas mais tarde arrependeu-se e pediu desculpa nas redes sociais.

«Muito obrigado ao FC Porto pela grande plataforma que me deu. Peço desculpa a todos os adeptos pela minha decisão. Nunca planeei deixar o FC Porto, mas apenas ter a oportunidade de alcançar os meus sonhos. Espero que tudo se resolva de forma amigável», escreveu em julho no Facebook, ainda antes de, na reta final do mercado de verão, deixar os dragões para rumar ao Chelsea.

Foi emprestado logo de seguida ao Vitesse, um clube satélite dos blues, e andou em várias cedências – Everton, Bournemouth e Málaga – antes de se fixar no Newcastle. Chegou por empréstimo em 2016, mas na temporada seguinte assinou em definitivo pelos magpies, onde viveu alguns dos melhores anos da carreira e encontrou estabilidade.

«Foi uma grande honra jogar com Falcao, Jackson, Hulk, James ou Moutinho. Ajudaram-me muito. Aprendi muito, especialmente com o Hulk, pois jogava na mesma posição», lembrou em 2018 ao site do Newcastle, antes de um jogo particular com o FC Porto.

«Aprendi muito no FC Porto, evoluí rapidamente. Têm adeptos fantásticos, bons treinadores e muito talento. Aprendi muito lá, e sair foi uma decisão muito difícil, mas persegui o meu sonho de jogar na Premier League» justifica.

Atsu ainda seguia os jogos da antiga equipa, especialmente quando o adversário era o Benfica. «São sempre jogos loucos e tento ver. Apoio o FC Porto. Tenho grandes memórias, que ficarão para sempre comigo.»

Na última temporada, viveu uma aventura no futebol saudita, com as cores do Al Raed, que chegou a ser treinado por João Pedro Sousa e teve como colegas de equipa o avançado Éder.

Já no verão passado, ingressou no Hatayspor, mas até estava insatisfeito pela pouca utilização. A 5 de fevereiro fez o terceiro e último jogo pelo clube turco, mas saiu de campo como um herói, depois de marcar o golo da vitória, de livre 90+7m.

Esse golo, que para Atsu poderia significar o rejuvenescer no Hatayspor, poderá ter sido fatal, já que o fez ficar na Turquia, embora tivesse um bilhete de avião para viajar para França, e estar com a família.

«Antes do jogo com o Gaziantep [ndr. 1 de fevereiro], ele disse ao treinador que queria ter mais tempo de jogo. Perguntou se podia sair, se encontrasse uma equipa. O Volkan [Demirel] aceitou o pedido. Ele não jogou nesse jogo, e tinha um bilhete para viajar a seguir ao jogo com o Kasimpasa. Ia ver a família. Mas o treinador deu-lhe uma oportunidade com o Kasimpasa e o Atsu respondeu muito bem, e marcou no fim», relatou, por Fatih Ilek, «team manager» do Hatayspor.

A 6 de fevereiro, deu-se o sismo na Turquia, com epicentro próximo da cidade de Hatay. Atsu acabou por ser encontrado sem vida nos escombros da sua casa, localizada num complexo com 12 andares e 250 apartamentos, que colapsou após o terramoto que já matou mais de 40 mil pessoas e deixou milhares de feridos e desabrigados.

Relacionados

Patrocinados