Pedrógão Grande: chefes de sala do CDOS confirmam em tribunal vários pedidos de socorro e dificuldades nas comunicações

Agência Lusa , BCE
22 fev 2022, 17:33
Incêndio em Pedrógão Grande

Julgamento ao trágico incêndio no verão de 2017, que causou mais de 60 mortos e 40 feridos, decorre no Tribunal de Leiria. Em causa estão crimes de homicídio por negligência e ofensa à integridade física por negligência, alguns dos quais graves

Os chefes de sala do Comando Distrital de Operações de Socorro de Leiria à data do trágico incêndio de Pedrógão Grande, em 2017, confirmaram esta terça-feira em tribunal que houve vários pedidos de meios e dificuldade nas comunicações.

Depois de explicar que os chefes de sala não trabalham habitualmente ao fim de semana, Pedro Borges disse ter chegado ao CDOS pelas 17:00 e que, a pedido do então 2.º comandante, Mário Cerol, comunicou com o comando nacional para fazer o ponto de situação dos meios já solicitados, pois “nunca mais chegavam”.

Pedro Borges afirmou que o registo de 177 operacionais, 48 veículos e dois meios aéreos “estavam escritos porque foram solicitados”, embora não tenha sido escrito que foram desviados.

“Quem faz esse registo é o comando nacional e deveria tê-lo escrito, pois quem está no teatro de operações pensa que os meios estão a caminho”, explicou, em resposta a Filomena Girão, advogada do arguido Augusto Arnaut, comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande.

O chefe de sala na altura admitiu ainda que nem tudo poderá ter ficado registado na fita do tempo, “tendo em conta a maior pressão a que a sala estava sujeita”.

“Não tenho dúvidas de que foram pedidos” reforço de meios e de meios aéreos, sublinhou Pedro Borges, que também afirmou que o despacho de aviões pesados são da responsabilidade do comando nacional.

O operador acrescentou que “houve pedidos que foram feitos pelos comandantes Sérgio Gomes e Mário Cerol diretamente ao comando nacional” e sublinhou que não havia “perceção dos meios desviados”.

“Recordo-me de duas situações: dois grupos que foram mobilizados, por volta das 17:00/18:00, e nunca mais chegavam. O Mário Cerol pediu-me para ligar para o comando nacional para saber onde estavam e disseram que tinham sido desviados para Portalegre. Outra situação foi que não havia rede SIRESP e do comando nacional informaram que estava a sair uma carrinha satélite às 21:00, mas só viria a chegar às 06:00 da manhã”, revelou.

Também Carla Marques, chefe de sala que substituía Pedro Borges, foi chamada para a sala de operações no dia do incêndio e disse terem sido pedidos meios para Pedrógão Grande. “Eu própria perguntava pelos meios e tanto o comandante distrital como o segundo me diziam que não havia”, referindo-se à resposta dada aos seus superiores pelo comando nacional de Proteção Civil.

“Antes das 17:00 não havia meios para reforçar”, frisou, admitindo que “entre uma chamada e outra pode ter falhado algum registo”.

Respondendo à advogado de Augusto Arnault, a operadora do CDOS explicou que “se é feito o acionamento e não está referido que os meios foram desviados, pode dar um número elevado” e não ser real.

Carla Marques também apontou a falta de comunicações, que começaram a sentir ao final do dia. “Tentámos estabelecer contacto com as corporações, por rede fixa, e posteriormente, por via SIRESP, e não era bem sucedido. Por isso, dissemos aos operadores que estavam na VCOC [Veículo de Comando e Comunicações] que iríamos colocar na fita do tempo todas as informações, porque a internet ainda funcionava”, revelou.

A operadora conseguiu, por vezes, contacto com o posto de comando através dos telemóveis pessoais.

Em causa neste julgamento estão crimes de homicídio por negligência e ofensa à integridade física por negligência, alguns dos quais graves. No processo, o Ministério Público contabilizou 63 mortos e 44 feridos quiseram procedimento criminal.

Os arguidos são o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, então responsável pelas operações de socorro, dois funcionários da antiga EDP Distribuição (atual E-REDES) e três da Ascendi (que tem a subconcessão rodoviária Pinhal Interior), e os ex-presidentes da Câmara de Castanheira de Pera e de Pedrógão Grande, Fernando Lopes e Valdemar Alves, respetivamente.

O presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, também foi acusado, assim como o antigo vice-presidente da Câmara de Pedrógão Grande José Graça e a então responsável pelo Gabinete Florestal deste município, Margarida Gonçalves.

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