Percentagem de jovens com casa própria caiu a pique nos últimos 20 anos

ECO - Parceiro CNN Portugal , Luís Leitão
4 out 2023, 16:29
Manifestação "Casa para Viver, Planeta para Habitar" em Lisboa (ANTÓNIO PEDRO SANTOS/ LUSA)

Se há duas décadas 70% dos jovens eram proprietários de habitação própria, hoje, essa percentagem é de apenas 40%.

O panorama de acesso à habitação em Portugal mudou muito nas últimas décadas. No início dos anos 1980, menos de 60% das famílias eram proprietárias da sua residência principal e quase 40% residiam em casas arrendadas, revela o Banco de Portugal no Boletim Económico de outubro publicado esta quarta-feira.

Nas duas décadas seguintes, assistiu-se a um crescimento do número de famílias proprietárias de habitação própria, que culminou num valor recorde, em 2001, com cerca de 76% dos agregados familiares a deter casa própria.

“Para este movimento contribuiu o crescimento económico do país, que se transmitiu ao rendimento das famílias, o maior acesso ao crédito, fruto da liberalização dos mercados financeiros e da integração na União Europeia, assim como a existência de um mercado de arrendamento muito regulamentado e pouco atrativo para os senhorios”, justifica o Banco de Portugal.

Esta evolução fez com que a idade média de compra de casa se tenha reduzido ao longo dos últimos anos e provocado um aumento da percentagem de famílias com encargos de empréstimos associados à habitação. Contudo, o Banco de Portugal nota que esta tendência inverteu-se nas últimas duas décadas: entre 2001 e 2021, a percentagem de proprietários de habitação própria passou de 76% para 70%.

“Dada a preferência das famílias pela compra de casa em idades jovens e a manutenção desse regime de ocupação ao longo da vida, esta redução reflete sobretudo uma recomposição acentuada do regime de propriedade entre os jovens nas gerações mais recentes”, lê-se no Boletim Económico.

O Banco de Portugal sublinha que “a redução na percentagem de proprietários após 2001 esteve concentrada nas famílias em que o representante tem menos de 65 anos e, em particular, nas que têm menos de 35 anos.”

Os dados disponibilizados pelo regulador mostram inclusive uma queda a pique da percentagem de jovens proprietários de casa nas últimas duas décadas: se, em 2001, 70% das famílias eram proprietárias aos 25/34 anos (nascidos na geração de 1967-1976), em 2021, a taxa de propriedade de casa própria entre os 25 e 34 anos (nascidos na geração de 1987-1996) baixou para os 40%.

Além disso, “a percentagem de proprietários com menos de 25 anos reduziu-se para menos de 35% nas gerações nascidas após 1986“, o que compara com valores entre 45% e 55% nas gerações nascidas nas três décadas anteriores.

Esta dinâmica aconteceu porque “as famílias mais jovens foram particularmente afetadas pelo aumento da taxa de desemprego no período 2000-2014, em resultado do fraco crescimento económico do início da década de 2000 e da crise de dívida soberana”, justifica o Banco de Portugal, sublinhando que, “nas famílias em que o representante tem menos de 35 anos, a percentagem de proprietários em 2021 reduziu-se para o nível de 1981.”

"O rendimento das famílias tem aumentado de forma muito significativa e isso contribuiu para a redução do esforço.” Mário Centeno, governador do Banco de Portugal

 

Este comportamento foi também acompanhado por um crescimento do mercado de arrendamento entre a população mais jovem. “Neste período, subiu muito a percentagem de arrendatários nas classes mais jovens, enquanto nas idades mais avançadas se continuou a reduzir”, revela o Banco de Portugal.

Além disso, a análise do Banco de Portugal nota um crescimento do acesso ao crédito bancário para a aquisição de habitação que, entre outras situações, fez com que, ao contrário do que ocorria com as gerações mais antigas (nascidas entre 1947 e 1966), a maioria dos proprietários das gerações mais recentes têm encargos com empréstimos associados à sua casa antes dos 35 anos.

O Banco de Portugal revela, por exemplo, que, em 1981, entre as famílias proprietárias, apenas 14% tinham um empréstimo à habitação. Esta percentagem compara com um máximo de 43% em 2011, que acabou por corrigir para 38% em 2021. “Esta evolução mais recente contribuiu para uma redução do montante total de empréstimos das famílias em percentagem do rendimento disponível de 125% em 2011 para 94% em 2021.”

Em simultâneo, o regulador sublinha que, para as famílias com empréstimos à habitação, a taxa de esforço média associada a estes empréstimos reduziu-se de 19% para 14%, no mesmo período. “O rendimento das famílias tem aumentado de forma muito significativa e isso contribuiu para a redução do esforço”, notou Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal na apresentação do Boletim Económico.

Dinheiro

Mais Dinheiro

Patrocinados