opinião
Economista, investigador e professor universitário

Notas soltas de um debate: um ano de guerra na Ucrânia

3 mar 2023, 16:51

Recentemente participei num interessante debate no Consulta Pública da Antena 1 que abordou o tema “um ano de guerra na Ucrânia”. O programa contou também com a presença de Agostinho Costa (Major-General), Carlos Mendes Dias (Coronel), Pavlo Sadohka (Associação dos Ucranianos em Portugal) e Filipe Vasconcelos (comentador da Antena 1). Em jeito de notas soltas, partilho algumas das minhas intervenções nesse debate que reflectem a minha opinião sobre questões relevantes relacionadas com esta guerra injustificável. 

1. Quem está a ser mais prejudicado com a guerra? 
Independentemente da perspectiva é, sem sombra de dúvida, a Ucrânia. Está sob ocupação e está a ser destruída todos os dias. Estatísticas recentes apontam para a morte de mais de 7 mil civis e de mais de 18 mil feridos e também para um número muito significativo de deslocados. Temos famílias a sofrer todos os dias com uma guerra que não desejaram.

2. As consequências para o invasor e a queda da sua economia
A Rússia tem perdido imensos homens no terreno, tem-se verificado um aumento da contestação social, a sua reputação perante o estrangeiro tem caído e a sua economia tem sido penalizada, em grande medida, devido às sanções. Estimativas recentes do FMI apontam para uma contracção da economia russa de 2,2% em 2022. De acordo com os meus cálculos, tal corresponderá, em termos reais, a uma queda de cerca de 30 mil milhões de dólares. Também em termos de inflação, aponta-se para que no ano passado a Rússia tenha registado uma taxa em torno dos 14%, ao mesmo tempo que as suas transacções comerciais caíram. Claro que numa economia que não cresce, o Estado terá menos meios para tomar iniciativas (seja de guerra ou de outro tipo). 

3. O impacto nos países na União Europeia
Quem adoptou as sanções também está a ser penalizado. Para a União Europeia, o preço da guerra é a inflação e, consequentemente, a perda de poder de compra, o que significa diminuição do bem estar. Claro que já se verificava uma tendência de aumento dos preços antes da guerra, contudo essa tendência acabou por se acentuar com a invasão. E quanto mais a guerra se prolongar pior. Isto é um “jogo” em que todos perdem. Perde quem foi invadido, perde quem invadiu e perdem também os não beligerantes.

4. A Europa adormeceu com a paz
Se olharmos para os valores das despesas com a defesa em percentagem do PIB da média da União Europeia no período compreendido entre a década de sessenta do século passado e os nossos dias podemos encontrar uma tendência claramente descendente. Por exemplo, em 1960, as despesas com a defesa da média europeia significavam cerca de 4% do PIB. Já no ano de 2020 representavam somente 1%. Há também estudos internacionais recentes que consideram que a defesa de um conjunto de países europeus está hoje em níveis críticos. No seu conjunto, Alemanha, Espanha, França, Holanda, Itália, Noruega, Polónia, Reino Unido e Turquia têm hoje, face ao início da década de 90, por exemplo, -77% carros de combate, -57% de caças, -39% de grandes navios de guerra e -47% de submarinos. A Europa adormeceu com a paz.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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