Pelo menos cinco empresários russos morreram de aparente suicídio em apenas três meses

CNN , Ivana Kottasová e Uliana Pavlova
30 abr 2022, 08:00
Dois oligarcas russos e as suas famílias foram encontrados mortos em 24 horas

Pelo menos cinco proeminentes empresários russos foram reportados como tendo-se suicidado desde o final de janeiro, sendo que três deles alegadamente mataram membros das suas famílias antes de tirarem as suas próprias vidas.

Quatro dos mortos estavam associados à gigante de energia estatal russa Gazprom ou a uma das suas subsidiárias.

Os contactos feitos pela CNN para a Gazprom não tiveram retorno.

Um gestor de topo da Gazprom foi encontrado morto na sua casa de campo na vila de Leninsky, perto de Leningrado, a 30 de janeiro de 2022, segundo a órgão de comunicação estatal russo RIA Novosti.

A RIA noticiou que foi encontrada no local uma nota de suicídio, e que os investigadores estavam a investigar a morte como suicídio. A emissora nacional russa RenTv identificou o homem como Leonid Shulman, chefe do departamento de transportes da Gazprom Invest.

Apenas um mês depois, outro executivo de topo da Gazprom foi encontrado morto na mesma vila. O cadáver de Alexander Tyulakov foi encontrado na sua garagem a 25 de fevereiro, segundo o Novaya Gazeta, jornal independente russo. O Novaya Gazeta informou que ele se suicidou.

Leonid Shulman, chefe do departamento de transportes da Gazprom Invest

Alexander Tyulako, gestor de topo da Gazprom.

 

A CNN pediu comentários à Comissão de Investigação da Rússia sobre os dois casos, mas não recebeu resposta.

Mikhail Watford, um milionário russo nascido na Ucrânia, foi encontrado morto em sua casa em Surrey, Inglaterra, a 28 de fevereiro. A polícia de Surrey disse à CNN que a morte está sendo a investigada pelo médico legista, que disse que será feita uma audiência em 29 de julho.

Outro empresário russo, Vasily Melnikov, foi encontrado morto ao lado da sua família em Nizhny Novgorod no final de março, segundo o jornal russo Kommersant.

Melnikov era dono da MedStom, uma empresa de produtos médicos. De acordo com a Comissão de Investigação da Rússia, um homem de 43 anos, a sua mulher, de 41, e dois filhos de quatro e 10 anos foram encontrados mortos à facada a 23 de março. A Comissão não nomeou Melnikov, mas as idades dos mortos e a localização do incidente coincidem com o relatório do Kommersant.

A filial regional da comissão de investigação não atualizou o estado da sua investigação e não devolveu o pedido de comentários da CNN. Na altura do incidente, em março, disse que "não havia sinais de entrada não autorizada no apartamento" e que "foram encontradas e apreendidas facas".

"[Os investigadores] estão a considerar várias versões do que aconteceu, incluindo o assassinato dos filhos e da mulher pelo chefe da família, seguido de morte autoinfligida", afirmou a comissão.

No início deste mês, mais dois empresários russos morreram em aparentes incidentes de assassinato e suicídio.

Vladislav Avayev, ex-vice-presidente do Gazprombank, foi encontrado morto com a sua mulher e filha no seu apartamento em Moscovo a 18 de abril, segundo a agência de notícias estatal russa Tass. Citando uma fonte das forças policiais, a Tass escreveu que as autoridades estavam a investigar as mortes dos Avayevs como sendo assassinato-suicídio.

Vladislav Avayev, ex-vice-presidente do Gazprombank

Yulia Ivanova, representante da Comissão de Investigação de Moscovo, foi citada pela Tass a afirmar que um parente descobriu os corpos dos Avayevs depois de ser informado pelo motorista da família e pela empregada que eles não conseguiam contactá-los por telefone ou entrar no apartamento, uma vez que a porta estava fechada por dentro.

Igor Volobuev, ex-vice-presidente do Gazprombank, que recentemente deixou a Rússia para ir para a Ucrânia, disse à CNN que não acredita que Avayev tenha se matado.

"O trabalho dele era lidar com private banking [bancos gestores de fortunas] e isso significa lidar com clientes VIP. Ele tinha a seu cargo quantias muito grandes de dinheiro. Então, ele matou-se? Acho que não. Acho que ele sabia de alguma coisa e que representava algum tipo de risco", disse Volobuev à CNN.

Apenas um dia depois, a 19 de abril, Sergey Protosenya, antigo executivo da produtora de gás Novatek, que pertence parcialmente à Gazprom, foi encontrado morto no norte de Barcelona. Os corpos da sua mulher e filha foram encontrados nas proximidades, afirmou uma fonte oficial próxima da investigação à CNN na semana passada.

Protesenya, a sua mulher e filha foram encontrados em sua casa em Lloret de Mar, um resort mediterrâneo perto de Barcelona.

Os corpos das duas mulheres, que apresentavam sinais de terem sofrido violência, foram encontrados dentro da luxuosa casa da família, e o corpo de Protosenya foi encontrado no jardim do lado de fora, segundo a mesma fonte. O caso está a ser investigado como um duplo homicídio e subsequente suicídio, num caso de violência doméstica.

Magnata do gás russo Sergei Protosenya, com a sua mulher Natalya

Em declarações ao Daily Mail, o filho de Protosenya questionou a versão dos factos, sugerindo que o seu pai foi assassinado.

“Ele amava a minha mãe e especialmente Maria, a minha irmã. Ela era sua princesa. Ele nunca lhes faria mal. Não sei o que aconteceu naquela noite, mas sei que o meu pai não as magoou", disse Fedor Protosenya, que estava na casa da família em França no momento do incidente.

A polícia catalã da província de Girona, onde fica a cidade de Lloret de Mar, disse à CNN na sexta-feira que "a hipótese continua a ser a de um caso de violência doméstica, apesar das declarações do filho".

"A polícia catalã recebeu depoimentos do filho. Outras hipóteses foram descartadas. Também foi descartado um triplo homicídio", disse à CNN o assessor de imprensa da polícia. "Que isso foi obra da máfia russa? Bem, não", acrescentou a assessor.

A Novatek, ex-empregadora de Protosenya, disse que ele era "uma pessoa maravilhosa e um homem de família maravilhoso".

"Infelizmente, houve especulações sobre este tema nos média, mas estamos convencidos de que essas especulações não estão relacionadas com a realidade. Esperamos que as agências policiais da Espanha conduzam uma investigação completa e objetiva e apurem o que aconteceu " disse a empresa em comunicado.

 

Como obter ajuda: Em Portugal, contacte o Serviço de Saúde Mental do Hospital da sua região – Adultos, Infância e Adolescência. A linha SNS24 (808 242424 e www.sns24.gov.pt) e o 112 também estão disponíveis. Entre em contacto através das Linhas de Crise e da Linha de Aconselhamento Psicológico. Para mais informações, consulte o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio.

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