O foco mudou por causa do Irão mas há uma guerra que continua mais violenta. Eis o que se passou na Ucrânia nos últimos dias

António Guimarães , com Lusa
15 abr, 21:08
Arista pintou mural onde foram deixados corpos de ucranianos na cidade de Bucha (AP)

Ocidente continua a recusar ajudar a Ucrânia como ajudou Israel. Enquanto isso a Rússia ganha vantagem em várias zonas: "A situação na frente está a tornar-se difícil", admite Zelensky

“Vimos como a união funciona a 100% e como se podem parar quase 100% dos Shaheds e mísseis”. O presidente da Ucrânia aproveitou o ataque do Irão a Israel para enviar uma mensagem ao Ocidente: o que feito para proteger Israel também pode ser feito na Ucrânia, onde dezenas de pessoas continuam a morrer todos os dias e os mísseis e drones não páram.

Os Shaheds a que Volodymyr Zelensky se refere são os drones de fabrico iraniano que foram lançados contra várias cidades israelitas, tendo a maioria deles acabado intercetados. São também estes os drones que a Rússia utiliza diariamente nos ataques que continua a conduzir na Ucrânia, numa tentativa cada vez mais feroz de aproveitar o agora menor apoio ocidental.

O mundo virou os olhos da Europa de leste para o Médio Oriente, nomeadamente porque uma ameaça tão grande como o Irão, de quem se suspeita que tenha ogivas nucleares, entrou em cena. Por agora parou, anunciaram as autoridades de Teerão, mas a dúvida instalou-se.

O que não parou foi a ofensiva russa – Putin já lhe chama mesmo uma guerra, depois de tantos meses a evitar essa palavra. E a situação está mais difícil: na habitual mensagem à população, esta segunda-feira Zelensky admitiu que a situação das tropas na linha da frente está a degradar-se, até porque Moscovo começa a utilizar grandes quantidades de bombas aéreas guiadas, beneficiando também de vantagens de artilharia, nomeadamente na região de Donetsk.

"A situação na frente é sempre difícil numa guerra tão intensa. Mas hoje em dia - e especialmente na região de Donetsk - está a tornar-se mais difícil", lamentou o presidente ucraniano, insistindo na necessidade de mais armas.

Soldados do Batalhão Azov aguardam ordens para disparar um morteiro na linha da frente de Kreminna (Alex Babenko/AP)

Chasiv Yar, uma cidade a 15 quilómetros de Bakhmut (sob controlo russo), é atualmente alvo da ofensiva as tropas de Mocovo, de acordo com o comandante das Forças de Defesa ucranianas, Oleksandr Syrsky.

“A liderança militar russa ordenou que as tropas tomem Chasiv Yar antes de 9 de maio”, escreveu no canal Telegram, aludindo ao dia em que a Rússia celebra a vitória sobre as forças nazis na Segunda Guerra Mundial.

A tomada daquela cidade abriria caminho aos russos para Kramatorsk, um importante centro logístico na parte de Donetsk que se mantém sob controlo ucraniano, a cerca de 30 quilómetros de distância.

Até ao momento, a Ucrânia conseguiu repelir as tentativas russas de ganhar uma posição num distrito da cidade, segundo Syrsky.

No entanto, é possível que as forças russas consigam avançar mais rapidamente do que nas ofensivas sobre Bakhmut e Avdiivka, observa o Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW na sigla original).

As Forças Armadas russas anunciaram esta segunda-feira a morte de cerca de 60 soldados ucranianos e "mercenários" estrangeiros num ataque aéreo à cidade de Slaviansk, localizada no norte da região de Donetsk.

De acordo com as Forças Aeroespaciais Russas em comunicado, entre os "mercenários" estrangeiros estavam cidadãos norte-americanos, franceses e georgianos, informou a agência de notícias TASS.

Por seu lado, entre as vítimas mortais ucranianas estão vários oficiais de carreira, incluindo de alta patente, embora estas informações careçam de confirmação independente.

A Rússia estima que possa haver uma centena de combatentes ucranianos nesta área.

Soldados russos em exercício militar na região de Donetsk (AP)

Ajudar sim, como a Israel não

Enquanto a Ucrânia continua a apelar aos aliados mais armamento e munições para enfrentar a superioridade russa no terreno, o chefe da diplomacia do Reino Unido, David Cameron, descartou a possibilidade de as forças britânicas abaterem drones do exército russo sobre o território ucraniano por receio de uma “escalada perigosa” da guerra no país.

“Devemos evitar que as tropas da NATO confrontem diretamente as tropas russas. Isso seria uma escalada perigosa”, disse Cameron numa entrevista à estação de rádio LBC para justificar a disparidade de reação em relação à colaboração de Londres com Israel para neutralizar os ataques realizados no sábado pelo Irão.

O governante, no entanto, salientou que o Reino Unido fez mais do que qualquer outro país para ajudar a Ucrânia: “Treinámos mais de 60 mil soldados ucranianos, fomos os primeiros a fornecer-lhes armas antitanque, artilharia de longo alcance e tanques de batalha”.

Cameron insistiu que a melhor coisa que o Reino Unido e o resto dos parceiros da Ucrânia podem fazer é continuar a atribuir somas significativas de dinheiro para comprar armas.

“Vamos dar-lhes armas para se defenderem, vamos treinar as suas tropas. Isso é, claro, a coisa certa a fazer”, declarou.

Soldados russos avançam para novas posições na Ucrânia (AP)

Só quando pressionado sobre as razões para colocar a aviação britânica ao serviço de Israel e não da Ucrânia é que Cameron considerou que se trata de uma questão "interessante", mas que a forma mais eficaz de abater ‘drones’ e mísseis são os sistemas de defesa aérea que Kiev exige insistentemente.

Nas últimas horas, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, confirmou a utilização da aviação do Reino Unido para neutralizar o ataque que o Irão lançou este fim de semana contra Israel.

A intervenção dos aliados israelitas, incluindo a França e os Estados Unidos, segundo o Exército de Telavive, permitiu neutralizar 99% dos projéteis que atingiram instalações.

Ainda assim há ajuda a chegar da União Europeia. A presidente da Comissão Europeia anunciou a aprovação de um pacote de ajuda no valor de 50 mil milhões de euros.

Servirá, segundo Ursula von der Leyen, para "reformas e investimento estratégicos" para uma Ucrânia mais "moderna e próspera".

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