"É a NATO que não está preparada. Basta olhar para o exército português". Alemães acreditam que a Rússia terá capacidade de atacar aliança "a partir de 2026"

18 mar, 18:05

Relatório está a abalar os círculos do poder alemão, ao afirmar que a Rússia pode tentar atacar a fronteira oriental da NATO "já em 2026". Os especialistas acreditam que os Bálticos serão o alvo russo, mas alertam que isso poderia levar a uma escalada irreversível da violência

A forma como a Rússia está a acelerar a sua produção militar e as movimentações de armamento que tem feito no seu território levam os serviços de informação alemães a fazer circular um alerta entre membros do governo: Moscovo prepara-se para uma guerra de alta intensidade com a NATO "a partir de 2026". Os especialistas alertam que os países europeus da NATO se encontram numa posição de vulnerabilidade e que, a acontecer, a escalada poderia levar a uma confrontação nuclear entre os dois blocos.

“Todas as medidas que estão a ser tomadas fazem crer os serviços secretos alemães que, a este ritmo, a Rússia conseguirá reunir um potencial humano e material suficiente para lançar uma ofensiva. Bálticos, Polónia e Finlândia serão os principais alvos, por serem as localizações onde os russos podem lançar operações de guerra híbrida”, garante o major-general Isidro de Morais Pereira.

É precisamente isso que o documento que circula pelas mãos de algumas das principais figuras do governo alemão aponta. O serviço secreto federal, o Bundesnachrichtendienst, acredita estarem reunidas as condições para que a Rússia se torne uma ameaça credível à NATO na Europa, nos próximos anos. Segundo o documento, os analistas alemães entendem que o exército russo vai duplicar em tamanho e poder nos próximos cinco anos.

Mapa da NATO em 2024 (CNN)

A informação, avançada pelo Business Insider, não esclarece quais os dados utilizados pelos serviços secretos alemães para reforçar um alerta desta dimensão. Isidro de Morais Pereira, que serviu junto do Quartel-General do Comando Supremo das Forças Aliadas na Europa (SHAPE), garante que o serviço de informações alemão é “extremamente pragmático” e poderá ter intercetado comunicações militares e políticas na Rússia para sustentar o seu relatório. Além disso, o especialista em assuntos militares insiste que não devemos descartar que a Alemanha tenha agentes infiltrados na Rússia, que lhe possam estar a fornecer informação vinda dos mais altos níveis do Kremlin.

"Estes cenários não aparecem do nada. Existem porque [os serviços secretos] tiveram acesso e terão detetado comunicações. Há também certamente agentes infiltrados na Rússia que podem estar a entregar informação ao governo alemão", refere o major-general.

Nos últimos dois anos, Moscovo fez disparar a produção militar no país com um investimento de 7,5% do PIB em Defesa, cerca de um terço do orçamento para 2024. Estes valores são o suficiente para alterar quase por completo a natureza da economia russa, que coloca o seu principal foco na produção militar. Cerca de 3,5 milhões de russos, aproximadamente 2,5% da população russa, estão empregados neste setor.

Esta capacidade leva a Rússia a produzir uma grande quantidade de munições e armamentos para serem utilizados na Ucrânia, mas não só. O receio dos serviços secretos alemães é de que, além do material que é destruído ou utilizado na Ucrânia, a produção militar russa tenha uma dimensão suficientemente grande para duplicar o tamanho atual das forças armadas russas. A Europa, por outro lado, continua a tentar fazer arrancar a sua indústria militar, dois anos depois de Vladimir Putin ter dado ordem para invadir a Ucrânia.

“Não é a Rússia que não está preparada, é a NATO que não está preparada. Basta olhar para o exército português, francês, inglês, que nem munições têm. Neste momento, o exército mais poderoso do mundo é o russo, porque tem dois anos de treino, tem quase dois milhões de homens e tem a tríade nuclear”, explica o major-general Agostinho Costa.

Apesar deste documento estar a circular entre os principais membros do governo alemão, também já chegou às mesas dos planeadores militares da NATO. Este crescimento das capacidades russas preocupa, mas não é motivo para pânico na aliança. Oficiais citados pelo Business Insider acreditam que apesar do reforço das capacidades russas ser inegável, não é claro que isso se traduza num ataque contra a aliança. “Eu não creio que a Rússia, face à situação vivida no momento, tenha capacidade de abrir uma nova frente de guerra”, refere Isidro de Morais Pereira.

Para os oficiais dos serviços de informações americanos, o cenário é completamente diferente do que chegou às mesas dos oficiais alemães. Não só a Rússia não terá capacidades nos próximos anos para fazer frente à maior aliança militar do mundo, como deverá demorar entre cinco a oito anos apenas para recuperar as capacidades militares que possuía antes de começar a invasão da Ucrânia.

O documento dá conta de que a Rússia está a reposicionar muitas das suas novas unidades junto à fronteira da Finlândia e dos países Bálticos. Para os especialistas, estes são os principais alvos na mira dos russos por terem as condições certas para moldar o campo de batalha, antes de iniciar uma invasão militar. Isto acontece porque estes países têm uma percentagem significativa da população de origem russa. Isso permite às forças russas utilizar as simpatias de alguns destes cidadãos para fazer ações “híbridas” para lançar o caos no país. “Aqui é fácil acionar células adormecidas”, alerta Isidro de Morais Pereira.

Mas esse cenário, para já, não se coloca, defende Agostinho Costa. A Europa continua a não produzir o armamento necessário para estar preparado para “as novas realidades da guerra” e dos conflitos de alta intensidade. Apesar de tudo, o analista garante que a Rússia não deverá querer abrir uma segunda frente de combate, numa altura em que ainda continua por atingir os seus objetivos na Ucrânia, e começar uma guerra com a NATO, correndo o risco de escalar para uma confrontação nuclear direta entre os dois lados.

“A iniciativa de um ataque ao ocidente nunca será russa. Uma guerra com a NATO implica uma escalada nuclear. Com a NATO na situação de fraqueza em que está teria de recorrer ao uso de armas nucleares”, alerta o major-general Agostinho Costa.

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