"Roubar" aos russos para dar aos ucranianos. Como esta sucata recicla armas russas

CNN , Vasco Cotovio, Fred Pleitgen e Byron Blunt
21 mar 2022, 16:24
No interior da sucata de Kiev que recicla armas russas para as forças ucranianas

O som de rockets a serem lançados ao longe quebra o silêncio de uma manhã, que de outra forma seria tranquila, em Kiev.

“Somos nós, estamos a atacar posições russas perto de Hostomel”, disse um soldado ucraniano, à medida que os tiros são disparados a um ritmo sincronizado.

Neste preciso momento, os rockets que os militares ucranianos estão a usar para atingir as tropas invasoras de Moscovo são, na verdade, russos.

“Na noite passada, enviámos às Forças Armadas ucranianas 24 mísseis Uragan que estavam a caminho daqui para sobrevoar as nossas cidades”, disse Yuri Golodov, o vice-comandante de uma das Forças de Defesa Territorial da Ucrânia e um marujo aposentado da Marinha Ucraniana.

“Apreendemo-los intactos, demo-los às Forças Armadas da Ucrânia de noite, e agora, o exército ucraniano tem disparado mísseis contra eles,” disse Golodov.

Golodov desempenha um papel fulcral no reaproveitamento de equipamento militar abandonado pelo exército russo, ou apreendido deste.

Ele lidera uma equipa que trabalha numa sucata militar num local secreto em Kiev, reparando e repintando equipamento militar russo para uso das forças ucranianas.

“Tudo o que tiramos ao exército russo é transferido para as forças armadas ucranianas", disse ele.

Uma segunda vida para armas danificadas

Quando a CNN visitou a sucata, as forças ucranianas estavam a desaparelhar um veículo de suporte de munição de artilharia de campo, usado para localizar alvos.

A bandeira ucraniana foi pintada por cima de símbolos militares russos, e a unidade de Golodov retirava o equipamento de comunicações antes de o enviar para a linha da frente.

“Vamos usá-lo para transportar os feridos”, disse ele, acrescentando que será um “importante” contributo para o esforço de guerra da Ucrânia.

“Este é um veículo todo-o-terreno. Passa por cima de pântanos ou neve.”

Grande parte do equipamento usado pelas tropas militares russas é semelhante ou igual ao que é usado pelos soldados ucranianos, portanto, estão familiarizados com a sua operação.

“Remonta à União Soviética”, disse Golodov. “É bastante confiável.”

“Tudo está a funcionar devidamente. Parece um material de guerra antigo, mas, na verdade, se for usado de forma adequada ser-nos-á útil durante muito tempo”, acrescentou ele.

Golodov diz que o seu batalhão também é responsável por apreender algum do equipamento do ferro-velho.

“Somos um batalhão de forças especiais de reconhecimento profundo que trabalha por trás das linhas do inimigo”, explicou ele. “A nossa função é destruir as provisões do exército russo – munições, combustível, alimentos.”

Armas apreendidas às tropas sob fogo

Ao virar da esquina, um antigo camião de combustível do exército russo está pronto para ser recolocado e, sob uma manta de camuflagem, um veículo blindado de transporte de pessoal apreendido aguarda a sua próxima missão.

É uma maquinaria militar velha, enferrujada e pesada da era soviética que se ouve no pavimento, quando os membros das Forças de Defesa Territorial da Ucrânia a movem, mas os soldados dizem que lhe vão dar um bom uso.

Segundo Golodov, o veículo foi apreendido pela unidade dele, quando atacaram uma coluna militar russa.

“Disparámos sobre o primeiro veículo e quando este explodiu, a coluna parou”, disse ele. “Os soldados russos fugiram e levaram o seu equipamento militar.”

De acordo com Golodov e os respetivos homens, trata-se de uma ocorrência habitual no campo de batalha.

“Os soldados russos estão assustados e desmoralizados. Têm medo de se separar uns dos outros, porque estão a ser alvejados a partir de todos os arbustos”, disse ele.

Ele diz que alguns parecem muito jovens e inexperientes: “A maioria deles não sabe ou compreende por que razão se encontram aqui.”

As Forças de Defesa Territorial ucranianas também são igualmente inexperientes. A maioria não tinha qualquer tipo de treino militar antes da invasão da Rússia, mas os homens dizem que estão preparados para combater.

Noutra parte da sucata, soldados armados com AK-47 treinam para um possível encontro com tropas russas. Eles deslocam-se em grupos de uma forma organizada e parecem inabaláveis quando o comandante dispara balas de pólvora seca na direção deles.

Golodov observa, orgulhoso. Antes de se aposentar da marinha, ele afirma que passou tempo com a Frota do Norte da União Soviética em Murmansk, no noroeste da Rússia, e que sabe do que as forças russas são capazes.

Ele contou-nos que não está surpreendido por a Ucrânia se ter saído tão bem diante de probabilidades aparentemente intransponíveis.

“A força do exército russo não passa de um mito,” disse ele, confiante na vitória da Ucrânia. “Como pode alguém pensar o contrário?”

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