Só uma vitória na Suécia pode alterar a situação Desde 1986 que não acontecia à selecção perder mais do que ganhar. Faz-nos mal ir a Campeonatos do Mundo?

A selecção portuguesa está a viver, em 2002, o seu annus horribilis. Basta a recordação amarga do Mundial da Coreia para dar algum significado a esta frase, mas nem tudo pode ser resumido à triste campanha de Junho: à luz dos números, a selecção de Portugal está a atravessar, no ano civil de 2002, o seu pior conjunto de resultados desde 1986, último ano em que as derrotas superaram os triunfos.

Nos nove jogos até agora efectuados, a selecção só venceu por duas vezes: contra a China, no último particular antes do Mundial, e contra a Polónia, a 10 de Junho, no segundo jogo da fase de grupos do campeonato do Mundo.

Triunfos como esses foram norma nos últimos anos, mas este ano constituem desoladora excepção. Nos restantes sete encontros, Portugal somou quatro empates (Espanha, Brasil, Inglaterra e Tunísia, sempre por 1-1) e três derrotas (contra a Finlândia, no prenúncio dos desastres que viriam a suceder no Mundial, frente aos Estados Unidos e à Coreia do Sul). Só uma vitória na Suécia pode alterar esse estado de coisas, agravado pelo decepcionante empate deste sábado, no Restelo.

Mesmo no que se refere ao saldo de golos, o panorama contrasta com a euforia dos últimos tempos. É verdade que a goleada à Polónia, em Jeonju, nos permite apresentar balanço tangencialmente positivo (13-12). Mas o total de golos marcados representa um decréscimo impressionante em relação aos últimos três anos: em 2001, 2000 e 1999 Portugal esteve sempre próximo ou acima da casa dos 30, com médias bem superiores a dois golos por jogo, contra o valor de 1,44 no ano em curso. Em termos defensivos, os valores não são melhores: é preciso recuar até 1989 para ver Portugal sofrer claramente mais de um golo por jogo, como sucede actualmente (1,33).

O paralelo com o pós-Saltillo

Não deixa de merecer relevo a coincidência dos dois períodos mais negros da equipa das quinas com as duas últimas presenças em Campeonatos do Mundo. 1986 é também um ano de intensas decepções para Portugal. A presença no Mundial do México, vinte anos depois da campanha dos magriços, alimentava igualmente altíssimas expectativas, acentuadas pela vitória no jogo da estreia, sobre a Inglaterra (1-0).

Depois, foi o descalabro: derrotas contra a Polónia e Marrocos valeram a eliminação na primeira fase, e os problemas disciplinares surgidos no estágio mexicano de Saltillo custaram mais de um ano de afastamento aos melhores jogadores portugueses da época, e mesmo o fim de carreira internacional para alguns de entre eles. Com uma renovação de valores forçada pelas circunstâncias, Portugal terminou a década de 80 no terceiro pelotão do futebol europeu, de onde só sairia com a revolução silenciosa levada a efeito por Carlos Queirós, nos escalões de formação.

É verdade que os pontos de contacto entre as duas épocas não são abundantes, especialmente porque o rancor da opinião pública pela má campanha no Mundial-2002 não afectou tanto o grupo de jogadores como em 1986. Agora, apesar de tudo, a maior parte das estrelas está disponível para a redenção, que a presença garantida na fase final do Euro-2004 permite encarar com menos pressão imediata do que há dezasseis anos. Mas com resultados mais animadores, de preferência. Será a presença em Mundiais que nos faz mal?

Balanço da selecção portuguesa nos últimos 16 anos

2002 

2001

2000

1999

1998

1997

1996

1995

1994

1993

1992

1991

1990

1989

1988

1987

1986