O adeus anunciado de Fernando Santos

4 jun 2001, 20:54

Três épocas de alegrias e tristezas

Era inevitável. Fernando Santos diz adeus às Antas, alcançando aquilo que muitos nunca ousaram: fechou um ciclo de três temporadas, ao contrário de nomes consagrados que não conseguiram mais do que duas épocas de felicidade. Foi assim com Artur Jorge, o mesmo aconteceu com Carlos Alberto Silva. A máxima também foi dura com Bobby Robson, técnico ainda adorado por uma boa parte dos adeptos. 

A relação entre o engenheiro e os dragões nasceu no calor de uma época magnífica do então técnico do Estrela da Amadora. O sétimo lugar foi a pedra-de-toque para assinar contrato com os tetracampeões. Em 1998/99 chegou à Invicta e fez aquilo que nenhum outro alcançou: levar uma equipa portuguesa à conquista do penta. Quer se queira quer não, este é o marco mais importante na sua carreira e também na história do clube. 

Se a fama nasceu nos primeiros meses, também deu origem a muita especulação. A escolha do presidente não caiu bem no seio de alguns adeptos mais fervorosos. Os tempos iniciais foram algo difíceis, porque o treinador foi acusado de ser sócio do Benfica e também simpatizante do clube da águia. Tudo por já ter defendido a camisola vermelha nos seus tempos de jogador. 

Pinto da Costa tentava dissipar parte da contestação, defendendo a capacidade profissional do responsável pela equipa azul e branca. Chegou a compará-lo ao mítico José Maria Pedroto e nunca perdeu a oportunidade para sublinhar as suas enormes aptidões, associadas ao bom carácter. De todos os que se sentaram no banco, Fernando Santos foi talvez aquele que melhor relação estabeleceu com o presidente. 

Duas épocas no deserto 

A conquista do pentacampeonato abafou todos os rumores e contestação. Os fotógrafos ainda retiveram no tempo o olhar perdido e espantado de Fernando Santos em plena Avenida dos Aliados, quando das comemorações do título. Depois, seguiram-se duas épocas no deserto. Em 1999/2000, o F.C. Porto perde o campeonato para o Sporting, na última jornada; esta temporada fica na peugada do Boavista. 

Ao longo destas duas épocas, o treinador fecha-se e perde parte do contacto humano com os adeptos e com os jornalistas. A tendência ganhou contornos carregados ao longo do presente ano, face aos maus resultados da equipa fora de casa. Esteve mais de quatro meses sem aparecer na sala de Imprensa, sem conceder uma entrevista, o que constitui algo inédito no futebol português. 

Sócios questionaram métodos do engenheiro 

A controvérsia estalou logo à segunda jornada, depois de uma derrota em Belém, e reacenderia em Janeiro, depois de perder na Luz. Num treino, os sócios questionaram os métodos de Fernando Santos, motivo para os responsáveis marcarem os próximos ensaios à porta fechada. Depois, novo desaire, desta vez em Paços de Ferreira, com o técnico e os jogadores a serem apupados pelos sócios. As críticas aumentam e muitos traçam um final pouco feliz para o engenheiro. Esta segunda-feira, a decisão é tornada pública. 

Para trás, ficam um campeonato (1999/2000) ¿ o mágico penta -, uma Taça de Portugal (1999/2000), a chegada aos quartos-de-final na milionária Liga dos Campeões (1999/2000), na qual o F.C. Porto é eliminado pelo poderoso Bayern de Munique. E também a presença nos quartos-de-final da Taça UEFA, feito inédito nas hostes portistas, alcançado esta época. Mas há ainda uma Taça para conquistar.

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