O último texto de Madeleine Albright, sobre o "erro histórico" de Putin

24 mar 2022, 03:56
Madeleine Albright. Foto: Haraz N. Ghanbari/AP

Um dia antes de Putin invadir a Ucrânia, a antiga secretária de Estado dos EUA publicou o seu último texto no New York Times. Nesse artigo, escreveu sobre as consequências desse "erro": o isolamento e destruição económica da Rússia, a "feroz resistência ucraniana", um Ocidente "mais forte e unido" e o relançamento da NATO

Madeleine Albright, a primeira mulher a exercer o cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros dos EUA, morreu esta quarta-feira. O jornal New York Times republicou entretanto o último texto de opinião da antiga Secretária de Estado da Administração Clinton. Publicado a 23 de fevereiro, na véspera da invasão russa da Ucrânia, o texto de Albright mostra bem a sua capacidade de análise e o seu conhecimento da realidade do Leste da Europa (nasceu na antiga Checoslováquia).

Todas as previsões feitas então por Albright acabaram por se concretizar, desde logo a ordem de invasão dada por Putin poucas horas depois da publicação do artigo. "Um erro histórico", anteviu a antiga diplomata.

"Putin tem procurado durante anos reconstruir a reputação internacional do seu país, expandir o poder militar e económico da Rússia, enfraquecer a NATO e dividir a Europa (ao mesmo tempo que ao mesmo tempo que provoca uma clivagem entre [a Europa] e os Estados Unidos). A Ucrânia está presente em tudo isso." Porém, o efeito do ataque, anteviu Albright, seria o oposto. "Em vez de abrir o caminho da Rússia para a grandeza, invadir a Ucrânia garantiria a infâmia do Sr. Putin, deixando o seu país diplomaticamente isolado, economicamente debilitado e estrategicamente vulnerável face a uma aliança ocidental mais forte e mais unida."

Putin: “Tão frio que é quase reptiliano”

A antiga diplomata, que foi a primeira responsável da Administração Clinton a encontrar-se com Putin quando este subiu ao poder, alertou que a Rússia sofreria "sanções maciças", capazes de "devastar não só a economia do seu país mas também o seu círculo apertado de corruptos - que, por sua vez, poderão desafiar a sua liderança."

Mais: "O que certamente será uma guerra sangrenta e catastrófica irá drenar os recursos russos e custar vidas russas - enquanto cria um incentivo urgente para que a Europa corte a sua perigosa dependência da energia russa."

O relançamento da NATO - que esta quinta-feira tem uma cimeira decisiva em Bruxelas - foi outra previsão certeira de Madeleine Albright. "Um tal ato de agressão levaria quase certamente a NATO a reforçar significativamente o seu flanco oriental e a considerar o estacionamento permanente de forças nos Estados Bálticos, Polónia e Roménia. (...) E isso iria gerar uma feroz resistência armada ucraniana, com forte apoio do Ocidente."

Sobre Putin, que Albright enfrentou pela primeira vez no ano 2000, fica aquilo que a académica e diplomata escreveu nas suas notas logo após esse encontro inicial: "Putin é pequeno e pálido, tão frio a ponto de ser quase reptiliano".

E.U.A.

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