Jogo inesperadamente tranquilo para Vítor Pereira Com três golos no primeiro quarto de hora, os alemães resolveram cedo a eliminatória. Shevchenko atenuou a humilhação ucraniana no último minuto, mas nada havia a fazer.
Bastaram 15 minutos para varrer do mapa as angústias dos últimos meses. Subitamente, a Alemanha reencontrou a eficácia dos velhos tempos e, conduzida por uma grande exibição de Schneider, apenas num quarto de hora decidiu a seu favor o play-off de apuramento para o Mundial, frente à Ucrânia (4-1 no final dos 90 minutos).
O português Vítor Pereira não teve qualquer dificuldade para dirigir aquele que era, à partida, o encontro mais tenso desta quarta-feira: a avalanche ofensiva dos alemães tranformou a partida num caminho de sentido único, tendo por destino a baliza do infeliz Levistsky, que aos 15 minutos já tinha ido por três vezes buscar a bola ao fundo das redes.
A velha raposa Valery Lobanovsky esperava, por certo, tirar partido da velocidade de Shevchenko e da dinâmica do seu meio-campo para explorar o contra-ataque, mas tudo ficou pela teoria. A fragilidade defensiva dos ucranianos perante os cruzamentos alemães esteve na origem de um descalabro prematuro. Aos 4 minutos, Bernd Schneider conseguiu um centro teleguiado para a cabeça de Ballack que, repetindo o feito de Kiev, bateu o guarda-redes ucraniano, desta vez com uma cabeçada indefensável.
Pensava-se que este golo iria modificar a estratégia dos visitantes, mas estes nem tiveram tempo para reagir: aos 11 minutos, mais um bom cruzamento de Schneider proporcionou bom remate a Rehmer, com Levitsky a conseguir defesa de recurso, mas a não ser capaz de evitar a recarga do oportuno Neuville, cuja titularização em detrimento de Asamoah foi cartada em cheio para Rudi Völler.
Quatro minutos depois, surgiu o golpe de misericórdia: novamente Schneider, na marcação de um canto, a encontrar Rehmer livre de marcação, para uma cabeçada que não deu hipóteses de defesa a Levitsky.
Contra todas as expectativas, a eliminatória ficava decidida de entrada. Obrigada a atacar desenfreadamente, a Ucrânia expunha-se aos eficazes e geométricos contra-ataques germânicos, que até ao intervalo poderiam ter dilatado o marcador. É verdade que nos últimos vinte minutos, Shevchenko e Vorobei poderiam ter batido Kahn, mas estava escrito que nada havia de correr bem à selecção de Lobanovsky, que pela terceira vez consecutiva (depois do Mundial-98 e do Euro-2000) ficava às portas de uma grande competição ao ser afastada no play-off.
O segundo tempo foi pouco emotivo, com a Alemanha a gerir o avanço, a dominar as iniciativas de um inconformado Shevchenko ¿ que perda para o Mundial! ¿ e a conseguir formalizar a goleada com novo tento de Ballack, depois de mais um passe de Schneider ¿ na origem dos quatro golos! ¿ ser bem desviado por Neuville para a entrada do médio goleador, que somou três tentos em dois jogos. O mesmo Shevchenko, ao cair do pano, conseguiu o golo de honra para a sua equipa, atenuando a humilhação, e deixando a sua marca numa eliminatória demasiado desequilibrada para ser resolvida unicamente pelo seu talento.
Assim, a Alemanha conseguiu manter intacto o seu aproveitamento de cem por cento em apuramentos para os Mundiais, varrendo, com um resultado inesperadamente desafogado, os fantasmas da crise que não cessam de rondar o seu futebol desde a desastrosa participação no último Campeonato da Europa. Se a história quiser dizer alguma coisa, não custa a crer que os homens de Völler surjam no Extremo Oriente com ambições de glória: nos últimos 48 anos foi sempre assim, com mais ou menos sofrimento.
Westfallenstadion, em Dortmund.
Árbitro: Vítor Pereira (Portugal)
Alemanha: Kahn; Linke, Nowtny e Ramelow; Rehmer (Baumann, 87 m), Scnheider, Ballack, Hamann e Ziege; Jancker (Bierhoff, 58 m) e Neuville (Ricken, 71 m).
Seleccionador: Rudi Völler
Ucrânia: Levitsky; Luzhny, Vaschuk, Holovko e Nesmachnyi (Shischenko, 55 m); Skrypnyk, Parfionov, Timoschuk (Gusin, 24 m), Vorobei (Rebrov, 71 m) e Zubov; Shevchenko.
Seleccionador: Valery Lobanovsky.
Ao intervalo: 3-0.
Marcadores: Ballack (4 e 51 m), Neuville (11 m) e Rehmer (15 m), Shevchenko (90 m)