Fernando Santos: «Todos os pontos são fundamentais»

20 abr 2001, 14:26

Aves é apenas uma etapa de um ciclo decisivo O espetáculo pode esperar. O F.C. Porto tem de ganhar todos os jogos e esperar que o Boavista tropece pelo menos uma vez. É assim há um par de semanas. Fernando Santos não o esconde e assume que, de agora em diante, «os jogos serão essencialmente de trabalho». São os custos de uma corrida para o título que depende de azares alheios.

O discurso é o de sempre, circular e ponderado, imune a devaneios ou declarações mal medidas. Fernando Santos fica-se trivial, poupa nos adjectivos e esconde as emoções, mesmo que os dados mais concretos o obriguem a torcer o nariz ou, em oposição a abrir um sorriso. A conversa, justificada pela visita do Aves, viajaria forçosamente pela classificação da I Liga, com paragem obrigatória num exercício matemático repisado que coloca um lapso momentâneo do Boavista como condição obrigatória aos festejos finais que os portistas perseguem. 

«Vamos ter mais um jogo muito importante», sintetizava, sem novidade. «Temos de ganhar», corrigia, preparando-se para acentuar uma ideia já apregoada. «Já não nos chega procurar ganhar. Temos mesmo de o conseguir. O F.C. Porto não depende exclusivamente de si. Essa é que é a verdade, por isso resta-nos também esperar que o Boavista não ganhe um dos seus compromissos». A equipa do Bessa joga já amanhã, com um Sporting que se mantém na luta pelo título e que joga muita coisa nos próximos 90 minutos. «Qualquer perspectiva é boa», refere o treinador, evitando arriscar um prognóstico que, depois, não poderia confirmar, já que, como reforça em cada presença na sala de Imprensa, não gosta de ver partidas em que intervêm os adversários directos. «Quem, como eu, quer que o F.C. Porto chegue ao título, sabe que temos de ganhar sempre até ao fim do campeonato e que o Boavista tem que tropeçar pelo meio». Não importa com quem. 

Ao F.C. Porto pede-se, acima de tudo, que triunfe nas suas partidas. No domingo, com o resultado do encontro entre os outros candidatos em mente, os jogadores terão apenas de preocupar-se em interromper o sonho do Aves por uma semana. «Estão numa situação complicada, mas ganharam alento com a vitória sobre o Braga, por isso vêm às Antas determinados a tentar uma surpresa», prevê Fernando Santos, certo que compete aos seus atletas «lutar contra isso e ganhar», pois só assim será «possível alcançar aquilo que o clube persegue». Mesmo que tenha de assumir, sem pudor, a pouca preocupação pela qualidade do espectáculo. «Estes jogos são essencialmente de trabalho. Só podemos jogar bonito se os jogadores se soltarem rapidamente com dois ou três golos, pois os pontos são fundamentais». 

Fernando Santos não pode contar com Paredes e Alenitchev, que se encontram a representar as respectivas selecções, e terá de rever a constituição da equipa. «Os problemas importantes que o F.C. Porto pode sentir nesta jornada serão colocados pela equipa do Aves», contrapõe, evitando sobrevalorizar as ausências dos médios. «Não estamos dependentes da criatividade de ninguém, pois isso seria muito problemático para o colectivo», defende, antes de explicar, num âmbito menos concreto, que é sempre mais importante a eficácia do conjunto que o rendimento isolado de um jogador. «Não sei se é melhor ter muitos talentos ou uma grande equipa. A qualidade técnica é sempre uma vantagem, mas eu prefiro primeiro ter uma grande equipa». 

«Fui eu que lancei o Jorge Andrade» 

Jorge Andrade pode estrear-se pela selecção principal no amigável com a França. O defesa foi convocado por António Oliveira e prepara-se para cumprir a última etapa de um percurso para a fama,que iniciou com a primeira partida pelo Estrela da Amadora e solidificou com a transferência para o F.C. Porto. «Fui eu que o lancei na I Liga», afirma Fernando Santos, lembrando os tempos em que trabalhava na Reboleira. «Todos os treinadores ficam felizes quando os seus jogadores chegam à selecção». Este caso, porém, parece especial. «Esta chamada marcou-me como a do Hélder, quando ambos estavamos no Estoril», assegura, comparando a realidade de Jorge Andrade à do defesa do Desportivo da Corunha. 

A relação especial com o jogador portista é notória. Fernando Santos nunca escondeu a simpatia pessoal pelas características de Jorge Andrade e aconselhou veementemente a sua contratação. «Fiz muita força para ele vir para as Antas», confessa, para justificar a satisfação.

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