Regresso às aulas: As rotinas na família que são segredo para sucesso escolar

16 set 2023, 10:30
Escola (Pexels)

E aí vamos nós para mais um ano letivo, desejamos que seja um ano tranquilo, que eles aprendam sem grandes dificuldades, tenham amigos, divirtam-se, cumpram com as suas obrigações, e nós igual no trabalho. Mas quem é que estamos a enganar? Lá vamos nós mas é para a roda viva de correr de um lado para o outro, entre escola, trabalho, atividades, festas de aniversário, compras, vamos stressar com a mochila que não é feita, a falta de material, a enorme quantidade de trabalhos de casa, vamos discutir porque o quarto não é arrumado, o tablet desligado ou porque não querem comer a sopa ou ir tomar banho, e por aí fora!

Foi precisamente sobre todos estes pontos que pediram-me para vos trazer conselhos, quem já me conhece sabe que não gosto de dar truques ou dicas prontas, pois acredito que cada criança, cada família tem a capacidade de encontrar o que irá resultar melhor. Por isso mais do que conselhos ou receitas milagrosas, deixo-vos possibilidades, que se vos fizer sentido poderão escolher, ou não, colocar em prática.

Gerir horários de estudo

É importante sermos flexíveis, pois nem todas as semanas são iguais e muito menos os vários filhos:

  • Em conjunto definirem no horário, onde há espaço para encaixar tempos de estudo
  • Dividir em tempos curtos de estudo com pausas, ajuda na concentração e motivação

Exp: em vez de colocar – estudar matemática, escrever: fazer os dois exercícios da pág. 15

  • Lembrar de deixar tempo livre para não fazer nada

Atividades extracurriculares

  • Acho importante que seja algo que traga prazer e a criança se sinta motivada
  • Ter claro, o que queremos que seja desenvolvido com essa atividade, pode ser a socialização, a motricidade, o trabalho em equipa…
  • Previamente perceber se o esforço para realizar essa atividade é praticável, quer para o filho, quer para os pais: qual o horário, se é muito tarde; se é uma carga horária grande na semana; se é muito caro; se é muito longe ou com muito trânsito. Para que não se venha a desistir e gerar frustração ou motivo de discussão.

Tempo de uso de écrans

Quem decide o tempo que se considera adequado são os pais e não os filhos e de preferência ambos concordarem.

  • Deixar claro quanto e quando é que o filho pode usar os écrans.
  • Ajudar o seu filho a descobrir como vai cumprir com o estipulado
  • Sermos coerentes com o uso que nós pais damos aos écrans.

Ensinar os filhos a auto organizarem-se

Termos a consciência que a organização é uma necessidade nossa e não dos nossos filhos, até porque eles ainda tem essa parte do cérebro em desenvolvimento. Por isso mais do que fazer da organização um cavalo de batalha, é estimular a sua aprendizagem.

  • Deixar claro os 3 pontos (no máximo) que para nós pais são inegociáveis e tem mesmo de acontecer.

Exp. Ter a mochila preparada. Fazer a cama. Preparar a roupa do dia seguinte.

  • Mostrar concretamente o que queremos  que aconteça, lá porque para nós é óbvio não quer dizer que para eles seja.
  • Mostrar que acreditamos que eles são capazes, isso implica aceitar que também podem errar.

Gerir e cuidar de espaço físicos em casa

A responsabilidade é proporcional à idade, e aprender a gerir também, ou seja não é aos 16 anos que de repente vamos exigir que tenham o quarto arrumado. É importante que seja algo que vem desde pequeno gradualmente sendo implementado e estimulado.

  • Nos mais pequenos, pedir a sua participação como uma ajuda que contribui para um todo.
  • Explicar e exemplificar de forma especifica o que se pretende.
  • Deixar que experimentem diferentes formas de organização, a nossa pode não ser a única correta.

Implementar e gerir rotinas diárias

As rotinas diárias são, muitas das vezes, o que mais desgasta uma família, porque acontecem normalmente em períodos de stress, de manhã, que é preciso despachar, ao final do dia que temos o cansaço acumulado, além de que como o nome indica, acontecem TODOS os dias!

  • É fundamental os pais terem claro o que querem que aconteça.
  • Passar essa informação sem ser no momento de tensão e sim numa altura descontraída.
  • Construírem em conjunto, com a participação de todos, como cada um vai fazer para cumprir, pais inclusive.
  • Definirem como cada um se vai lembrar, responsabilizando assim cada um pelas suas tarefas.

Gerir tempo de lazer e em família

Tão importante como as obrigações é o lazer e muitas das vezes descuramos esses momentos, afinal de contas, são eles que nos dão energia para o resto e nos vão criar boas memórias.

  • Colocar na agenda, sei que parece ridículo, mas na correria dos nossos dias acabamos por esquecer o importante que é.
  • Encontrarem o melhor momento para o fazerem: depois de jantar, 15m de um jogo de tabuleiro; ao jantar jogos de palavras sem televisão; ao fim de semana 2h para um passeio…
  • Aquilo que couber, sem culpas mas também sem negligenciar
  • Acima de tudo desfrutar do momento de corpo e alma presentes.

Diálogo familiar

Esta é a base de tudo, sem comunicação dificilmente se conseguem todos os outros pontos.

  • Ouvir os nossos filhos sem respostas prontas ou soluções rápidas, apenas escutar.
  • Dar o exemplo, partilhando situações nossas.
  • Proporcionar tempo sem écrans para que esse diálogo aconteça de forma espontânea. Nem tudo precisa de ser uma conversa séria.

Alimentação equilibrada

Em tudo o nosso exemplo é fundamental, mas na alimentação isso é ainda mais forte

  • Diversificar os alimentos desde cedo.
  • Não ceder ao mínimo não gosto, pela comida que sabemos que vai comer (todos nós temos comida que não gostamos, mas também somos animais de hábitos).
  • Não ter disponível e de fácil acesso o fruto proibido, bolachas, chocolates, gomas, ninguém merece!
  • Se exigimos comer sopa, salada, fruta, nós também o fazermos.

Preparar o momentos de avaliação

Estes são normalmente momentos de grande preocupação para os pais, ou porque os filhos ficam tão ansiosos que nem dormem e depois têm a chamada “branca”, ou porque os filhos nem querem saber e olham para os livros na véspera porque são obrigados. O ponto chave é antecipar.

  • Ver com eles como gostam de estudar, se é a fazer apontamentos, a lerem em voz alta, a fazerem cartões de perguntas, explorarem várias hipóteses.
  • Ajudá-los a identificar o que os motiva, ou seja como se vão sentir depois de terem os resultados esperados.
  • Fazer este processo logo no início do ano, não esperar que os testes sejam marcados, porque eles vão acontecer, quer eles estejam preparados ou não.

O mais importante é escutarem os vossos filhos e verem estes desafios como uma excelente oportunidade para se desenvolverem e crescerem. Deixar as expectativas de parte, o ano perfeito não existe, mas isso não implica que não possamos desfrutar o caminho. E tenho a certeza que haverá sempre pontos positivos onde podemos escolher nos focar. Bom regresso às aulas.

 

*Inês Sottomayor é especialista em desenvolvimento da Família. Foi a primeira terapeuta em Portugal habilitada a aplicar os métodos KidCoaching e GrowCoaching

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