E aí vamos nós para mais um ano letivo, desejamos que seja um ano tranquilo, que eles aprendam sem grandes dificuldades, tenham amigos, divirtam-se, cumpram com as suas obrigações, e nós igual no trabalho. Mas quem é que estamos a enganar? Lá vamos nós mas é para a roda viva de correr de um lado para o outro, entre escola, trabalho, atividades, festas de aniversário, compras, vamos stressar com a mochila que não é feita, a falta de material, a enorme quantidade de trabalhos de casa, vamos discutir porque o quarto não é arrumado, o tablet desligado ou porque não querem comer a sopa ou ir tomar banho, e por aí fora!
Foi precisamente sobre todos estes pontos que pediram-me para vos trazer conselhos, quem já me conhece sabe que não gosto de dar truques ou dicas prontas, pois acredito que cada criança, cada família tem a capacidade de encontrar o que irá resultar melhor. Por isso mais do que conselhos ou receitas milagrosas, deixo-vos possibilidades, que se vos fizer sentido poderão escolher, ou não, colocar em prática.
Gerir horários de estudo
É importante sermos flexíveis, pois nem todas as semanas são iguais e muito menos os vários filhos:
- Em conjunto definirem no horário, onde há espaço para encaixar tempos de estudo
- Dividir em tempos curtos de estudo com pausas, ajuda na concentração e motivação
Exp: em vez de colocar – estudar matemática, escrever: fazer os dois exercícios da pág. 15
- Lembrar de deixar tempo livre para não fazer nada
Atividades extracurriculares
- Acho importante que seja algo que traga prazer e a criança se sinta motivada
- Ter claro, o que queremos que seja desenvolvido com essa atividade, pode ser a socialização, a motricidade, o trabalho em equipa…
- Previamente perceber se o esforço para realizar essa atividade é praticável, quer para o filho, quer para os pais: qual o horário, se é muito tarde; se é uma carga horária grande na semana; se é muito caro; se é muito longe ou com muito trânsito. Para que não se venha a desistir e gerar frustração ou motivo de discussão.
Tempo de uso de écrans
Quem decide o tempo que se considera adequado são os pais e não os filhos e de preferência ambos concordarem.
- Deixar claro quanto e quando é que o filho pode usar os écrans.
- Ajudar o seu filho a descobrir como vai cumprir com o estipulado
- Sermos coerentes com o uso que nós pais damos aos écrans.
Ensinar os filhos a auto organizarem-se
Termos a consciência que a organização é uma necessidade nossa e não dos nossos filhos, até porque eles ainda tem essa parte do cérebro em desenvolvimento. Por isso mais do que fazer da organização um cavalo de batalha, é estimular a sua aprendizagem.
- Deixar claro os 3 pontos (no máximo) que para nós pais são inegociáveis e tem mesmo de acontecer.
Exp. Ter a mochila preparada. Fazer a cama. Preparar a roupa do dia seguinte.
- Mostrar concretamente o que queremos que aconteça, lá porque para nós é óbvio não quer dizer que para eles seja.
- Mostrar que acreditamos que eles são capazes, isso implica aceitar que também podem errar.
Gerir e cuidar de espaço físicos em casa
A responsabilidade é proporcional à idade, e aprender a gerir também, ou seja não é aos 16 anos que de repente vamos exigir que tenham o quarto arrumado. É importante que seja algo que vem desde pequeno gradualmente sendo implementado e estimulado.
- Nos mais pequenos, pedir a sua participação como uma ajuda que contribui para um todo.
- Explicar e exemplificar de forma especifica o que se pretende.
- Deixar que experimentem diferentes formas de organização, a nossa pode não ser a única correta.
Implementar e gerir rotinas diárias
As rotinas diárias são, muitas das vezes, o que mais desgasta uma família, porque acontecem normalmente em períodos de stress, de manhã, que é preciso despachar, ao final do dia que temos o cansaço acumulado, além de que como o nome indica, acontecem TODOS os dias!
- É fundamental os pais terem claro o que querem que aconteça.
- Passar essa informação sem ser no momento de tensão e sim numa altura descontraída.
- Construírem em conjunto, com a participação de todos, como cada um vai fazer para cumprir, pais inclusive.
- Definirem como cada um se vai lembrar, responsabilizando assim cada um pelas suas tarefas.
Gerir tempo de lazer e em família
Tão importante como as obrigações é o lazer e muitas das vezes descuramos esses momentos, afinal de contas, são eles que nos dão energia para o resto e nos vão criar boas memórias.
- Colocar na agenda, sei que parece ridículo, mas na correria dos nossos dias acabamos por esquecer o importante que é.
- Encontrarem o melhor momento para o fazerem: depois de jantar, 15m de um jogo de tabuleiro; ao jantar jogos de palavras sem televisão; ao fim de semana 2h para um passeio…
- Aquilo que couber, sem culpas mas também sem negligenciar
- Acima de tudo desfrutar do momento de corpo e alma presentes.
Diálogo familiar
Esta é a base de tudo, sem comunicação dificilmente se conseguem todos os outros pontos.
- Ouvir os nossos filhos sem respostas prontas ou soluções rápidas, apenas escutar.
- Dar o exemplo, partilhando situações nossas.
- Proporcionar tempo sem écrans para que esse diálogo aconteça de forma espontânea. Nem tudo precisa de ser uma conversa séria.
Alimentação equilibrada
Em tudo o nosso exemplo é fundamental, mas na alimentação isso é ainda mais forte
- Diversificar os alimentos desde cedo.
- Não ceder ao mínimo não gosto, pela comida que sabemos que vai comer (todos nós temos comida que não gostamos, mas também somos animais de hábitos).
- Não ter disponível e de fácil acesso o fruto proibido, bolachas, chocolates, gomas, ninguém merece!
- Se exigimos comer sopa, salada, fruta, nós também o fazermos.
Preparar o momentos de avaliação
Estes são normalmente momentos de grande preocupação para os pais, ou porque os filhos ficam tão ansiosos que nem dormem e depois têm a chamada “branca”, ou porque os filhos nem querem saber e olham para os livros na véspera porque são obrigados. O ponto chave é antecipar.
- Ver com eles como gostam de estudar, se é a fazer apontamentos, a lerem em voz alta, a fazerem cartões de perguntas, explorarem várias hipóteses.
- Ajudá-los a identificar o que os motiva, ou seja como se vão sentir depois de terem os resultados esperados.
- Fazer este processo logo no início do ano, não esperar que os testes sejam marcados, porque eles vão acontecer, quer eles estejam preparados ou não.
O mais importante é escutarem os vossos filhos e verem estes desafios como uma excelente oportunidade para se desenvolverem e crescerem. Deixar as expectativas de parte, o ano perfeito não existe, mas isso não implica que não possamos desfrutar o caminho. E tenho a certeza que haverá sempre pontos positivos onde podemos escolher nos focar. Bom regresso às aulas.
*Inês Sottomayor é especialista em desenvolvimento da Família. Foi a primeira terapeuta em Portugal habilitada a aplicar os métodos KidCoaching e GrowCoaching