Salgueiros-Marítimo, 2-1 (crónica)

15 dez 2001, 17:55

Alma de pinguim

Hoje não dá para dizer mal dos jogadores. Não dá porque, acima de tudo, os dedos estão demasiado gelados para transformar em frases todas as ideias que o futebol despoletou. O mais fácil seria criticar o gesto tosco de quem devia encantar, o mais simples e esclarecedor para quem não esteve em Vidal Pinheiro podia muito bem ser o relato integral das tentativas desorganizadas para tratar bem a bola. Mas não. Isso não faria sentido numa tarde em que seria difícil esquecer o frio e jogar bom futebol.  
 
O Salgueiros, ainda assim, entrou bem e João Pedro podia ter marcado logo nos minutos iniciais, numa jogada individual que parecia ser a acendalha perfeita para a fogueira que se desejava. Pedia-se calor. Carlos Manuel, hoje na bancada, berrava, gesticulava e virava-se, quando o lance o envergonhava. O Marítimo, mais agasalhado por uma estratégia que premiava a contenção e o contra-ataque, colocava-se melhor em campo com o avançar dos minutos e equilibrava num par de dribles de Danny e na robustez de Van der Gaag, que incentivava os seus companheiros a tentar algo mais que defender.  
 
O frio, todavia, continuava e nada parecia capaz de o esbater. Quem via não conseguia tirar as mãos dos bolsos para aplaudir, quem jogava não conseguia soltar-se para fazer o que lhe competia. Os jogadores pareciam não aguentar o peso do suor que passava ao estado sólido nas suas costas e limitavam-se ao trivial. Pontapé torto, passe curto, tentativas frustradas.  
 
Seria assim até ao intervalo, seria assim para sempre se Danny, já depois de ter dado a vantagem à sua equipa num lance feliz, não tivesse resolvido discutir com o auxiliar. Irreverência tem limites e o árbitro ficou sem alternativa. O criador do Marítimo foi para o banho mais cedo e não deve ter-se sentido feliz por ter sido o primeiro a tomar um banho quente. A partir daí, a sua equipa desconcentrou-se e Nélson ofereceu um golo a João Pedro, que deu o empate e uma sensação de justiça a quem olhava para a relva com olhos descomprometidos.  
 
O ambiente frigorífico não permitiria muito mais. O encontro continuava sem chama e teria de ser um lapso a espicaçá-lo. Toy, numa arrancada desesperada, foi rasteirado por Zeca. Era grande penalidade. Tão clara como a certeza de que este jogo dificilmente seria melhor mesmo que os executantes fossem outros. O Salgueiros não perdoou e ganhou. Ganhou com alma de pinguim, mas ganhou.

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