Euro 2004, apurados (V): Rep. Checa, mais do que um «outsider»

13 out 2003, 18:40

Karl Bruckner voltou a formar uma equipa fortíssima Karl Bruckner voltou a formar uma equipa fortíssima, capaz de lutar pelos primeiros lugares de qualquer competição.

E se, contra todas as expectativas, a República Checa se sagrasse em Portugal campeã da Europa? Não é de facto um cenário previsível, mas a forma imponente com que conquistaram o primeiro lugar do grupo 3 de qualificação, obrigando a Holanda a um play-off, impõe que os adversários tenham muito respeito por esta selecção. Depois de muitos analistas desportivos terem perspectivado o fim da «geração de ouro» checa, onde figuravam nomes como Nedved, Koller, Smicer e Poborsky, depois do falhanço no apuramento para o Mundial 2002, eis que Karel Bruckner voltou a formar uma nova equipa, mais uma vez bastante forte, capaz de lutar pelos primeiros lugares de qualquer competição.

Para os portugueses, a República Checa é Poborsky, o chapéu a Vítor Baía, a eliminação lusa nos quartos-de-final do Euro 1996. Eles foram finalistas vencidos nesse ano, batidos no último jogo pela Alemanha, o seu melhor resultado dos últimos anos. Mas, duas décadas antes, quando o seu país ainda se chamava Checoslováquia, foram eles a festejar o título. E em 1960 e 1980 tinham caído na terceira posição...

Esta selecção checa não perde desde o dia 14 de Novembro de 2001. São quase dois anos a somar resultados positivos, alguns perante algumas das potências do Velho Continente, casos de Inglaterra, Jugoslávia, Turquia, França e Holanda. Trata-se de uma performance excelente, que chegou a motivar a Jacques Santini, o seleccionador francês, estas declarações: «A selecção checa é a melhor equipa europeia da actualidade, pelos seus resultados, mas, acima de tudo, pela sua atitude colectiva».

Da espantosa campanha de 1996, restam poucos: Poborsky, Smicer e Nedved. Nomes como Kouba, Berger, Latal, Bejbl, Kuka e Kubik já há muito que não entram nas contas do treinador e outros apareceram em força para dar outra dimensão à equipa: Baros, Rosicky, Cech, Grygera, Ujfalusi, Galasek e Stajner. Apenas falta a esta selecção provar a sua força numa importante competição nacional. Falharam o apuramento para o Mundial no play-off - terminaram no segundo lugar do Grupo 3 atrás da Dinamarca - frente à Bélgica (duas derrotas por 1-0), quando partiam como favoritos. Foi uma autêntica desilusão. Mas, desta vez, não deram hipótese a ninguém.

Quem vê a República Checa jogar fica deliciado. O esquema passa por um 3x5x2 maleável, já histórico na equipa, que se transforma, torna-se elástico, por acção de um conjunto de grandes jogadores que já estão ao serviço das maiores equipas da Europa. Os três defesas podem passar a quatro num ápice, os dois avançados podem tornar-se três ou quatro consoante o momento do jogo. Junta-se a arte à objectividade, ao colectivo, marcam-se muitos golos e todos têm oportunidades para os marcar (dez jogadores dividiram 23 golos na fase de qualificação). A «máquina» está muito bem oleada.

Karel Bruckner foi nomeado seleccionador em Dezembro de 2001, depois de ter treinado os sub-21. Ele melhor que ninguém conhecia as novas esperanças do futebol checo. A sua nomeação foi feita por unanimidade, superiorizando-se a treinadores como Vlastimil Petrzela, Josef Jarabinsky e Ladislav Skorpil. Recebeu a herança do falhanço da qualificação para o Campeonato do Mundo e construiu uma equipa fortíssima. Paralelamente, o Sparta Praga, um dos clubes mais fortes deste país, ressurgiu no panorama internacional, apesar dos tempos serem outros e das dificuldades em manter os seus melhores jogadores. Tem feito bons resultados, à semelhança do que acontece com a equipa nacional.

Pode a República Checa ser campeã da Europa em Portugal? Há alguma dúvida?

EQUIPA-TIPO: Cech; Bolf, Grygera e Ujfalusi; Poborsky, Rosicky, Galasek, Nedved e Jankulovski; Baros e Koller.

Outras opções: Jiranek (defesa), Vachousek e Smicer (médios), Stajner e Lokvenc (avançados).

GOLEADORES: Koller, 6 golos; Jankulovski e Baros, 3; Poborsky, Nedved, Lokvenc e Smicer, 2; Rosicky, Stajner e Vachousek, 1.

Palmarès:

Alemanha - 3 títulos (1996, 1980, 1972), dois segundos lugares (1992 e 1976), um terceiro (1988);

França - 2 títulos (2000 e 1984) e um terceiro lugar (1996);

URSS - 1 título (1960) e três segundos lugares (1988, 1972 e 1964)

Checoslováquia/Rep. Checa - 1 título (1976), um segundo lugar (1996) e dois terceiros (1980 e 1960);

Espanha - 1 título (1964) e um segundo lugar (1984)

Holanda - 1 título (1988) e dois terceiros lugares (2000 e 1976);

Dinamarca - 1 título (1992) e um terceiro lugar (1984);

Itália - 1 título (1968) e um terceiro lugar (1988);

Jugoslávia - dois segundos lugares (1968 e 1960);

Bélgica - um segundo lugar (1980) e um terceiro (1972);

Inglaterra - três terceiros lugares (1996, 1992 e 1968);

Portugal - dois terceiros lugares (2000 e 1984);

Suécia - um terceiro lugar (1992);

Hungria - um terceiro lugar (1964).

Nota: a partir de 1984, inclusive, deixou de haver jogo de atribuição dos terceiros e quartos classificados.

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