F.C. Porto-Juventus, 0-0 (destaques)

10 out 2001, 22:28

As pérolas de Deco e o desperdício dos outros Deco jogou muito e com ele em grande o F.C. Porto teve bons períodos. Mas dele para a frente quase nada se viu. Só, o número 10 não podia resolver o problema. Seria pedir de mais.

Deco

Uma situação aflitiva, um desarme iminente, pode muitas vezes ser a génese ou os primeiros traços de um lance fantástico, de um daqueles momentos por que saliva a multidão. Com Deco, é frequentemente assim. O cerco do adversário, o brilho dos pitons, que, precipitada e erradamente, sugere o final do movimento desenhado com extremo requinte pelo cérebro do brasileiro, não passam, num amontoado de ocasiões, de ameaças vazias, destrutíveis no gesto seguinte, no drible que sucede a simulação ou no passe que rasga caminhos irrevogavelmente fechados. Deco foi o princípio e o fim do perigo, pela forma como devolveu o embaraço aos italianos, sempre em doses superiores e, para seu desespero, repetida e absurdamente desperdiçado. Chamem-lhe Zidane, se quiserem. E se se lembrarem das recuperações de bola do francês... Eu não me lembro. 

Mário Silva

Ainda que do lado inverso, lembra, repetidamente, a coragem de João Pinto, o capitão cuja ousadia deixou Bobby Robson boquiaberto, seguro de estar na presença de um caso único, de um indivíduo de dois corações, arriscou o inglês, sem que alguma vez a ciência lhe confirmasse a suspetia ou negasse o fenómeno. A garra de Mário Silva, ao jeito de entrega total, faz dele um elemento invulgarmente influente para um defesa. Destemido, até na ameaça de Zambrotta, e com a vantagem de cruzar muito melhor do que o velho símbolo portista. 

Del Piero e Salas

A presença de ambos não se comprova facilmente com frequência, mas, a cada passagem pelo jogo, a cada intervenção, um e outro derramam uma classe e um perfume intensos que se diz ser característico dos jogadores de eleição. Toques de calcanhar, movimentações inesperadas, combinações mais encantadoras do que a mais bela carambola de um mestre bilharista... Tudo, felizmente, sem fabricar lances de verdadeiro perigo para o F.C. Porto. 

Alenitchev

Se aprisionar talento no banco de suplentes não é crime, então deveria sê-lo. Punível por lei com a apreensão da licença de treinador por um prazo mínimo de duas semanas. A entrada tardia em cena de Alenitchev demonstrou, só por si, quanto o F.C. Porto perdera até então. Setenta e sete minutos de magia russa literalmente desperdiçada. É tempo de mais! 

Pena

Por falar em desperdício... Pena é a sua mais fiel reprodução. Não só pelo que falha quando se trata de encostar o pé ou a cabeça, na intenção de confirmar a inevitável trajectória da bola, como na lateralização mais básica, destruída pela irritante insensibilidade de um par de pés que oferece o passe longo na vez do toque curto e o inconveniente «amorti» quando o lance grita por uma abertura. Talvez por isso, não se deva esperar que Deco lhe lance pérolas eternamente, porque só um doido ou um cego o faria. E Deco dá a ideia de não ser nenhum deles. Novo crime... 

Ricardo Carvalho e Jorge Andrade

Dois casos de maturidade precoce, talvez. A cada antecipação ou dobra geram a sensação de o gesto carregar dezenas de internacionalizações, de a experiência acompanhar o movimento com que enfrentam, sem receio ou tremor, a genialidade de Del Piero ou Salas. Um acerto fantástico, isento de falhas graves. Dos melhores que as Antas viram. 

Tudor

O menos encantador, o menos exuberante e, ainda assim, o mais influente da equipa italiana. Foi ele quem reduziu à mínima expressão a permeabilidade da defesa da Juventus, ainda que, por vezes, recorrendo a artes que a lei não reconhece. O desempenho excessivo valeu-lhe um cartão amarelo e um cuidado posterior para não incorrer de novo em falta. Foi aí que praticamente desapareceu.

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