Portugal perdeu mais de um milhão de crianças e jovens nos últimos 50 anos

Agência Lusa , AM
20 nov 2023, 06:17
Avós e netos (Getty Images)

Em 2022, viviam em Portugal 1,3 milhões de crianças e jovens até aos 15 anos, dos quais 51% do sexo masculino e 49% do sexo feminino

Portugal perdeu mais de um milhão de crianças e jovens nos últimos 50 anos e tornou-se no segundo país europeu mais envelhecido, salienta a Pordata, cujo retrato demográfico mostra que quase 5% dos 1,3 milhões de jovens são estrangeiros.

A Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, resolveu assinalar o Dia Universal dos Direitos das Crianças, que se comemora esta segunda-feira, com a compilação de uma série de informação que ajuda a fazer um retrato demográfico dos mais jovens.

Desde logo, é possível verificar que “nos últimos 50 anos, Portugal perdeu mais de um milhão de crianças e jovens”, franja que representa hoje 12,8% do total da população.

Segundo a Pordata, e tendo por base dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2022, viviam em Portugal 1,3 milhões de crianças e jovens até aos 15 anos, dos quais 51% do sexo masculino e 49% do sexo feminino.

“O número de crianças e jovens diminuiu para quase metade em 50 anos (-46%): até ao início da década de 1980, as crianças e jovens perfaziam pelo menos um quarto da população e, em 2022, representavam 12,8%. O decréscimo registou-se em todos os grupos etários, destacando-se o das crianças entre os 5 e os 9 anos (-50%)”, refere a Pordata.

Isto faz com que Portugal seja “o segundo país da União Europeia com menor proporção de crianças e jovens na sua população”, só atrás da Itália, que ocupa o topo da tabela.

“De acordo com as projeções do INE, a tendência é que a população jovem em Portugal diminua dos 1,3 milhões em 2022 para 1,1 milhões em 2050 e para 1 milhão até 2080”, acrescenta.

Por outro lado, “mais de 65 mil crianças e jovens em Portugal têm nacionalidade estrangeira, representando 4,9% do total da população com menos de 15 anos”, sendo que 18% dessas crianças já nasceram em Portugal.

Entre as 65 mil crianças estrangeiras destacam-se as nacionalidades brasileira (45%), angolana (8%) e chinesa (4%), com igual preponderância entre as cerca de 12 mil crianças nascidas em Portugal e cuja distribuição por nacionalidade faz-se com 29% brasileiras, 15% chinesas, 9% angolanas, 6% cabo-verdianas e 5% ucranianas.

No que diz respeito ao contexto familiar dos 1,3 milhões de crianças e jovens, a Pordata revela que a maioria (81%) vivia em núcleos familiares compostos por um casal, enquanto 19%, ou seja, mais de 254 mil, vivia numa família monoparental, sobretudo com a mãe (89%).

“Relativamente à escolaridade, o retrato demonstra que Portugal se destaca como o país da UE com maior proporção de crianças no pré-escolar com 30 ou mais horas semanais, mas também que a taxa de cobertura das respostas sociais de creche, face ao número da população-alvo, não chega a metade das crianças”, assinala a Pordata.

Por outro lado, 89% das crianças entre os 3 e a idade de escolaridade obrigatória (6 anos) frequentavam o ensino pré-escolar, valor ligeiramente acima da média europeia (88%).

O retrato feito pela Pordata foi também verificar quantas crianças em Portugal vivem em situação de pobreza, tendo constatado que em 2021, o ano mais recente com dados estatísticos disponíveis, havia 266 mil crianças e jovens pobres, dos quais 76 mil com menos de 6 anos.

O impacto dessa pobreza reflete-se na saúde, com 6,6% das famílias pobres a admitirem que as suas crianças não conseguiam aceder a cuidados médicos, proporção que sobe para 17,7% quando estão em causa cuidados dentários.

Segundo a Pordata, Portugal é mesmo o país da Europa com maior proporção de crianças pobres sem acesso a cuidados de saúde oral.

Adultos não pedem opinião de crianças e jovens

Mais de dois terços de quase 12 mil crianças e jovens inquiridos em Portugal pela UNICEF afirmam que os adultos nunca pedem a sua opinião e cerca de metade revela preocupações com saúde mental e redes sociais.

Na segunda edição do inquérito ‘Tenho Voto na Matéria’, promovido pela UNICEF Portugal, em colaboração com o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa, foram ouvidos 11.834 crianças e jovens entre os 3 e os 20 anos que vivem em Portugal, e os resultados “revelam que 71% das crianças sentem que os adultos nunca ou raramente lhes perguntam a sua opinião, um valor semelhante ao de 2021 (76%)”.

“Além disso, 70% das crianças afirmam que a sua opinião nunca ou raramente teve impacto no que foi decidido, e 28% dizem que nunca deram a sua opinião”, acrescenta o comunicado da UNICEF Portugal sobre os resultados.

O inquérito, lançado pela primeira vez em 2021, pretende ser “uma iniciativa de auscultação das preocupações e necessidades das crianças e jovens que vivem em Portugal, com o objetivo de criar oportunidades de participação e influenciar decisões que afetam diretamente as suas vidas”.

“As principais preocupações das crianças e jovens são a saúde mental (58%), a internet e redes sociais (44%) e a discriminação (42%), mantendo-se em linha com os resultados de 2021. A maioria (62%) das crianças e jovens considera que estes são os maiores problemas porque podem afetar o seu futuro e 45% pelo que assistem nas notícias ou na internet”, adianta o comunicado.

Segundo os resultados, “a maior parte das crianças discute estes temas em casa (62%), mas quase metade (48%) não fala sobre os mesmos na escola”

O inquérito revela ainda um aumento da sensação de insegurança entre as raparigas, com 27% a afirmarem sentir-se inseguras.

“O ambiente surge como uma prioridade para as crianças e jovens, com 42% a indicarem o cuidado com o ambiente como o principal aspeto a melhorar nas suas comunidades, seguido da qualidade das escolas (35%) e dos transportes públicos (28%). As crianças identificam ainda a poluição (65%) como o principal problema ambiental que as afeta”, adianta ainda o comunicado.

A UNICEF Portugal revela os dados do inquérito na data em que se assinala o Dia Universal dos Direitos da Criança, defendendo que “a educação para a cidadania democrática e a participação ativa devem ser incorporadas na vida das crianças desde cedo, ajudando-as a entender como podem influenciar positivamente a sociedade”.

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