A política traz à tona o pior de nós e "transforma-nos a todos em canalhas". E a ciência já descobriu porquê

CNN Portugal , DCT
17 fev, 18:00
Políticos (Freepik)

Uma pessoa não é a mesma depois de entrar no domínio político. É pior, segundo um recente estudo de uma universidade norte-americana

“A política, ao que parece, transforma-nos a todos em canalhas.” Esta é a grande conclusão de uma investigação publicada na revista Political Psychology e que revela o porquê de os políticos mostrarem uma postura intransigente e sempre crítica face aos seus opositores e uma postura tolerante face a esquemas duvidosos ou à margem da lei dos seus parceiros.

Segundo a Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, basta as pessoas entrarem no mundo da política para alterarem a sua moral e comportarem-se de forma antiética, independentemente da idade, da situação sócio-económica e do partido com que mais se identificam. 

Para chegarem a esta conclusão, os investigadores Kyle Hull, Kevin Smith e Clarisse Warren questionaram 2.472 adultos sobre o quão dispostos estariam para se comportar de forma mais antiética na esfera política em comparação com a esfera pessoal e se seriam mais tolerantes com os desvios morais cometidos por um político do que por um amigo. 

As nossas análises fornecem evidências de diferenças entre o comportamento moral e a tolerância moral no domínio político e no domínio pessoal”, lê-se no estudo. E parte dessa diferença comportamental e de julgamento deve-se à palavra ‘político’, suficiente para a pessoa mudar a forma de pensar e, por consequência, de agir. 

“Basicamente, estávamos a fazer praticamente as mesmas perguntas à mesma pessoa”, revela Kevin Smith, explicando que “a única diferença nas questões é que mudámos ‘pessoa’ para ‘político’”. “E isso foi suficiente para mudar o julgamento moral das pessoas”, garante o professor de Ciência Política, em declarações ao site da universidade

E se o político em causa for um adversário ou de um partido que não o seu, o mais certo é que a intolerância cresça. O estudo diz que basta entrar no mundo da política para que exista “uma antipatia genuína” pelo opositor, sendo este um dos principais motivos para a mudança de comportamento e julgamento. No entanto, simpatizar com o político em causa pode fazer diferença, uma vez que os entrevistados mostraram ser mais tolerantes moralmente com os políticos de quem gostam, podendo adotar um comportamento semelhante de tolerância como se em causa estivesse um amigo, daí ser comum os políticos ‘defenderem-se’ uns aos outros quando estão na mesma esfera ideológica, por exemplo. 

O julgamento moral é politicamente situacional – as pessoas perdoam mais os copartidários transgressores e são mais propensas a comportar-se de forma punitiva e antiética em relação aos adversários políticos”, revela o estudo.

Para Kyle Hull, estas descobertas devem fazer soar os alarmes, sobretudo numa altura em que a política está mais agressiva, mais mediática e as pessoas (e os próprios políticos) menos tolerantes. 

“A política obriga-nos a fazer coisas que normalmente não faríamos e a tolerar coisas que normalmente não toleraríamos. Às vezes, traz à tona o que há de pior em nós”, lamenta Hull, dizendo que o palco dado à falta de tolerância pode servir de gatilho para que os políticos, de uma forma generalizada, mostrem comportamentos e discursos menos tolerantes, esteja em causa um político de direita ou de esquerda, jovem ou velho, rico ou pobre, como exemplifica Kevin Smith. “A política parece transformar-nos a todos em canalhas”, conclui o investigador.

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