Trump acredita que casos judiciais o favorecem. Primeiro julgamento criminal poderá ser único em campanha

Agência Lusa , DCT
13 abr, 08:13
Donald Trump (Mike Stewart/AP via CNN Newsource)

As datas do julgamento dos outros três casos criminais ainda permanecem indefinidas.

Na semana em que Donald Trump comparece em tribunal em Nova Iorque, os consultores do candidato republicano às presidenciais de novembro acreditam que os casos judiciais o podem favorecer nas urnas.

Recentes sondagens indicam que metade dos eleitores norte-americanos consideram que Trump é culpado no caso judicial em que o ex-presidente responde por acusações de ter usado ilegalmente dinheiro da campanha eleitoral para pagar o silêncio da atriz pornográfica Stormy Daniels sobre um caso extramatrimonial.

Uma sondagem divulgada este mês pelo jornal Politico acrescentava, contudo, que 44% dos respondentes considera que uma eventual condenação de Trump neste caso não terá qualquer impacto sobre a imagem política do ex-presidente.

Ainda assim, são muitos mais os restantes que consideram que essa condenação os levaria a deixar de o apoiar (32%) do que os que respondem que manteriam o seu apoio eleitoral (13%).

No entanto, estes números parecem não preocupar os estrategos de campanha de Trump, que nas últimas semanas têm declarado estar tranquilos sobre o início do julgamento do ex-presidente em Nova Iorque.

Os consultores acreditam mesmo que os quatro processos em que está envolvido o podem beneficiar - há três outros casos: um em que é acusado de tentar reverter os resultados eleitorais de 2020, em Washington; um em que é acusado de ter retido ilegalmente documentos confidenciais, na Florida; e um em que é acusado de tentativa de alterar resultados eleitorais, na Georgia.

O argumento é o de que Trump saberá tirar proveito da sua frequente presença no banco dos réus, repetindo o argumento de que, em qualquer um dos processos judiciais, está a ser vítima de uma “caça às bruxas” patrocinada pela Casa Branca do democrata Joe Biden, que será seu rival nas eleições de novembro próximo.

“Este julgamento vai acontecer dentro da sala de tribunal, mas também na rua, e a opinião pública saberá dar o seu veredicto. E esse veredicto terá em conta que há uma urgência por parte dos democratas em afastar o candidato republicano que está à frente nas sondagens”, disse Lenny Vale, consultor da campanha de Trump no estado de Nova Iorque, citado na passada semana pelo jornal Boston Globe.

Os advogados de Trump já começaram a argumentar que Trump é a principal vítima do caso que vai ser julgado em Nova Iorque, alvo de “interferência eleitoral”, menorizando os factos que apontam para a utilização indevida de fundos de campanha para pagar o silêncio da atriz pornográfica.

Contudo, o procurador Alvin Bragg, a quem compete a condução da acusação contra o ex-presidente, defende ter sido o candidato republicano a tentar manipular o sistema judicial, falsificando documentos e encobrindo atos ilícitos.

A acusação tem uma outra arma relevante: Michael Cohen, o ex-advogado de Trump que se encarregou de agilizar o processo de pagamento a Stormy Daniels e que, segundo as sondagens, 48% dos eleitores consideram ser uma pessoa desonesta, reforçando a tese de que o candidato republicano se rodeou de figuras capazes dos mais atrozes crimes para tentar ganhar as eleições.

Contudo, para vários analistas, este caso em particular tem outros ângulos que podem beneficiar a imagem de Trump, sobretudo junto dos eleitores que não atribuem grande significado à tentativa de silenciar uma atriz pornográfica.

John Coffee Jr., um professor de Direito da Universidade de Columbia, citado pelo jornal britânico The Guardian, acentua esta abordagem como um elemento que ajuda a explicar o desinteresse de muitos eleitores pelo impacto político deste julgamento.

“As pessoas dirão: ‘O Trump enganou a mulher?! Grande coisa! Que novidade! E depois tentou esconder isso?! Que novidade!’”, ironizou este professor de Direito, para explicar que a maioria dos eleitores sabe dos casos extramatrimoniais de Trump e isso não parece afetar a sua imagem pública.

Primeiro julgamento criminal de Trump poderá ser único em campanha

O julgamento criminal de Donald Trump em Nova Iorque, relacionado com alegados pagamentos a uma atriz pornográfica com fundos de campanha, tem início na segunda-feira, devendo ser o único dos vários envolvendo o ex-presidente a começar antes das eleições.

A sessão em Nova Iorque para escolha do júri marcará o arranque do primeiro julgamento criminal de um ex-presidente norte-americano, enfrentando Trump quatro possíveis julgamentos na sua campanha para tentar regressar à Casa Branca, nas eleições de novembro, em que deverá ser o candidato republicano.

Neste caso, a procuradoria de Manhattan acusa o ex-presidente de 34 crimes relacionados com os 130 mil dólares (121 mil euros) que pagou à atriz pornográfica Stormy Daniels durante a campanha presidencial de 2016, para esconder um alegado caso extraconjugal, pagamentos que Trump camuflou com a colaboração do então advogado na altura, Michael Cohen.

Mais concretamente, as acusações estão ligadas a uma série de cheques que foram emitidos em nome de Cohen, para reembolsá-lo pelo seu papel no pagamento de subornos a Stormy Daniels, que alegou ter tido um encontro sexual com Trump em 2006, pouco depois de Melania Trump dar à luz o filho do casal, Barron Trump.

Esses pagamentos foram registados em vários documentos internos da empresa como uma retenção legal, alegação que os procuradores consideram falsa.

Cada acusação é punível com até quatro anos de prisão, mas, tal como nos restantes casos, Trump alega que tudo não passa de uma “caça às bruxas” para o impedir de regressar à presidência do país.

Este julgamento criminal sem precedentes começa na segunda-feira às 09h30 (hora local, 14h30 em Lisboa) num tribunal de Manhattan, em Nova Iorque, com a seleção do júri, que terá de decidir se o candidato republicano de 77 anos é ou não culpado de falsificação de registos comerciais.

O julgamento começará com a seleção de 12 residentes de Manhattan que terão de declarar Donald Trump “culpado” ou “inocente”, após as seis a oito semanas de audiências planeadas.

Numa cidade predominantemente democrata, mas onde Donald Trump construiu parte da sua fortuna, o processo de seleção examinará simpatias políticas para excluir qualquer parcialidade, num processo de escolha que se poderá arrastar por uma a duas semanas.

“Não há dúvida de que escolher um júri num caso que envolve alguém tão conhecido de todos como o ex-presidente Trump apresenta problemas únicos”, disse um dos procuradores do caso, Joshua Steinglass, durante uma audiência preliminar.

O julgamento em Nova Iorque é o primeiro de natureza criminal aberto contra um ex-presidente na história dos Estados Unidos.

Além de Nova Iorque, Trump é ainda acusa criminalmente em Washington e na Georgia pelos seus esforços para reverter a sua derrota eleitoral em 2020, assim como na Florida, por reter ilegalmente documentos confidenciais após deixar o cargo em 2021.

As datas do julgamento dos outros três casos criminais ainda permanecem indefinidas.

Se conseguir chegar novamente à presidência, Trump poderá interromper os dois processos federais - em Washington e na Florida - se os julgamentos ainda não tiverem ocorrido.

De acordo com vários levantamentos de opinião, uma parte dos eleitores americanos (32%, segundo uma sondagem da Ipsos de março) estaria menos inclinada a apoiar Donald Trump se fosse considerado culpado no caso de Nova Iorque.

Contudo, os problemas jurídicos que o magnata enfrenta deram-lhe vantagem junto do eleitorado republicano durante as primárias, ao alimentar o seu discurso de perseguição.

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