“O cerco cada vez está a apertar mais e, portanto, há que decidir”. Chefe do Estado-Maior da Força Aérea pede que se decida onde vai ficar o novo aeroporto

Agência Lusa , AM
12 abr, 11:27

General Cartaxo Alves lembra que a Força Aérea é "parte da solução"

O Chefe de Estado-Maior da Força Aérea reconheceu que tanto Montijo como o Campo de Tiro de Alcochete são unidades importantes para aquele ramo das Forças Armadas e defendeu a urgência da decisão sobre o novo aeroporto.

“A questão é que a Força Aérea tem mantido uma postura como sempre tomou. Nós fazemos parte da solução. Agora, não podemos estar encurralados”, afirmou o general Cartaxo Alves em entrevista ao DN e à TSF, considerando que “o cerco cada vez está a apertar mais e, portanto, há que decidir”.

“Já não temos muitos sítios para onde ir”, declarou, fazendo uma retrospetiva histórica sobre os ajustes que a Força Aérea tem vindo a fazer ao longo dos anos devido à possível localização do novo aeroporto e ao aumento da capacidade do Humberto Delgado.

Sobre a base do Montijo, salientou que “ainda tem três das esquadras fundamentais para a operação da Força Aérea, que são, diria, basilares, dedicadas principalmente à preservação dos bens e da vida humana”, a esquadra DH-101, de busca e salvamento, a esquadra do C-295, de evacuações aeromédicas, busca e salvamento, e a esquadra do C-130, que participa em missões das Forças Armadas destacadas, de apoio, ou de resgate de cidadãos nacionais, e apoio a catástrofes.

“Portanto, é uma base importante para a Força Aérea e temos vindo, obviamente, a manter essa unidade. Quando se pergunta agora o que é mais importante, Montijo ou Campo de Tiro de Alcochete, ambas são importantes. O Montijo pelas razões que acabei de dizer e o Campo de Tiro de Alcochete porque é onde fazemos o treino real de largada de armamento dos nossos F-16”, argumentou.

“Para ter os tais pilotos qualificados e, como disse, treinar como combatemos, tenho que regularmente fazer este tipo de treino para manter os meus pilotos qualificados, ou seja, os pilotos que tenho hoje a defender o espaço aéreo da Lituânia e dos países bálticos. Portanto, ambas são importantes”, acrescentou.

Sobre o novo aeroporto, o chefe da Força Aérea quis “voltar um pouco atrás na história”, recordando que desde 1964 se perspetivava que o novo aeroporto fosse na Ota, no concelho de Alenquer, distrito de Lisboa.

“Tínhamos uma base aérea na Ota, já tínhamos transferido os meios de São Jacinto e os de Tancos para a base de Sintra [depois de essas bases passarem para o Exército], para a base do Montijo e para a base da Ota. Muito bem, mas tivemos de transferir os meios que tínhamos na base aérea da Ota para onde? Para Sintra, para o Montijo também e alguns para Beja”, recordou.

Depois foi decidido que o aeroporto já não ia para a Ota, aquele espaço da Força Aérea foi-se “degradando” durante todo o processo, e é onde funciona atualmente o Centro de Formação Militar e Técnica, sem atividade operacional aérea.

Por outro lado, para “aumentar a capacidade de fluxo e de tráfego aéreo no aeroporto de Humberto Delgado e então na área terminal de Lisboa”, a base de Sintra estava a causar “um obstáculo à flexibilização do tráfego aéreo para o aeroporto de Lisboa” para se chegar aos “72 movimentos na área terminal”.

Como consequência, “foi reduzido o espaço aéreo da base de Sintra somente para três mil pés para permitir o tráfego passar por cima”, o que “é incompatível com a atividade aérea e, portanto, os meios que estavam em Sintra passaram para Beja”.

Questionado sobre o novo ministro da tutela, Nuno Melo, e eventuais reivindicações, Cartaxo Alves respondeu não ter “nenhum caderno de encargos para apresentar”, referindo que a “Força Aérea, de uma perspetiva construtiva, leal e transparente”, vai cooperar da mesma forma como cooperou “com todos os ministros anteriores e, obviamente, os dossiês não serão dossiês novos, porque alguns que já transitam do passado”, havendo outros, que apresentarão “nas alturas certas”.

Recusa do SMO e defesa da “valorização da condição militar”

O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea recusou que o serviço militar obrigatório (SMO) seja uma solução para a falta de efetivos naquele ramo militar, insistindo nas condições de remuneração, reforma e saúde.

“No caso da Força Aérea, o SMO não é uma solução para o problema. A Força Aérea ainda é muito atrativa para o recrutamento”, defendeu o general Cartaxo Alves, admitindo que, “noutros ramos, o recrutamento é fundamental e realmente é necessário”, e considerou que esta “é uma discussão que tem de ser feita ao nível dos cidadãos, quer militares, quer civis”.

Naquele ramo das Forças Armadas a falta de efetivos prende-se sobretudo com a capacidade de retenção, que tem a ver com “a atratividade das Forças Armadas”, e a “valorização da condição militar” e da carreira, que coloca em três pilares.

“Condições de trabalho, boas condições de remuneração e uma reforma dentro dos parâmetros que lhes permitam ter condições de bem-estar futuramente no final da sua carreira”, sustentou o chefe da Força Aérea.

Cartaxo Alves salienta que “o mercado é voraz” e faz uma grande competição com a Força Aérea, não só na atratividade para pilotos, mas também engenheiros, médicos, controladores de tráfico aéreo, técnicos de manutenção, e outros, e sublinha que foi sobretudo a alteração das condições de reforma, com a passagem da Caixa Geral de Aposentações para a Segurança Social que desequilibrou o jogo.

“Os vencimentos nas Forças Armadas não se comparam, nem se podem comparar, com os do mundo empresarial , mas antigamente tinham uma grande garantia. No final da sua carreira os militares tinham uma reforma digna e que podiam ter um bem-estar para si e para a sua família. Neste momento, as condições de reforma serão muito diferentes”, sustentou.

De acordo com o chefe da Força Aérea, há militares que chegam a pagar 150 mil euros para se desvincularem.

Outro pilar é “a saúde e a saúde operacional, porque os militares para estarem em condições físicas e psíquicas, não só para cumprir as suas missões normalmente, mas também, no caso das Forças Nacionais Destacadas, para estarem presentes em diversos teatros de operações no âmbito da política externa do Estado, têm de estar em boas condições de saúde operacional e assistencial também”.

“Estando na frente, gostam de ter o respaldo com as suas famílias na saúde da família militar. O que é extraordinariamente importante. Estes são os dois grandes pilares que criam a valorização dessa carreira militar”, defendeu.

O general enaltece a formação que é feito no seio da Força Aérea e também as condições tecnológicas, sendo que os seus militares “trabalham com sistemas que, em alguns casos, ainda não estão disponíveis na aviação civil”.

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