Guerra aberta pela repartição do dinheiro no futebol

8 mai 2015, 10:13

O anúncio de greve no futebol espanhol mostra como este está dividido nas suas instâncias, cujas batalhas entre elas chegam até às do mais alto nível

«Se tiver que haver greve que haja e se querem suspender a competição irão de férias mais tarde, mas não vamos submeter-nos à chantagem da Federação»
Javier Tebas, presidente da liga espanhola


«Decidimos parar conscientes de que temos razão. Sentimo-nos fortes»
Luis Rubiales, presidente da associação de jogadores


O presidente da liga espanhola aponta baterias à federação. O ponto de situação é feito de forma concreta pelos jogadores. Confuso? Não é assim tanto. Já ficará explicado por que está o futebol espanhol neste estado, num estado de guerra aberta entre instituições, como mostram estas declarações desta quinta-feira veiculadas pelo jornal «Marca».

A arma que está a ser empunhada é a da greve. Comece-se por aí. Quais são as consequências imediatas? A realização das duas últimas jornadas da liga espanhola e a final da Taça do Rei de Espanha (pelo menos nas datas previstas) estão postas em causa. A greve foi anunciada
na quarta-feira pela Real Federação Espanhol de Futebol (RFEF).

A Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE) tinha pré-convocado a greve para os dias 16 e 17 de maio «e de forma indefinida», como informou a federação espanhola comunicando também que «manifestaram a intenção de não participar nas competições» elementos da arbitragem, treinadores e federações autonómicas.

A RFEF anunciou então em comunicado que decidiu em reunião de direção «suspender todas as competições de todas as categorias a partir do dia 16 de maio com caráter indefinido». Um dia depois, os jogadores juntaram-se em conferência da imprensa para confirmar, pela sua parte, a paralisação.



A Liga de Futebol Profissional (LFP) de Espanha manifestou-se em dois momentos. Na quarta-feira, em comunicado, o organismo apontou uma nulidade formal e legal
da decisão da federação. Já nesta quinta-feira – dia em que os jogadores se mostraram –, o presidente da LFP, Javier Tebas, apareceu pessoalmente para criticar o seu homólogo na RFEF, Angél María Villar.

Tebas classificou como «loucura, ousadia e irresponsabilidade» a decisão da «instituição de Ángel María Villar, que não sabe o rumo que devem tomar o futebol profissional e amador». E o presidente da liga espanhola ultrapassou o plano da divergência institucional para referir que a decisão da federação «só responde a um interesse pessoal».

O que reivindica então a RFEF? Primeiro do que tudo, a federação quer que o governo espanhol altere o decreto-lei que regulamenta a divisão das receitas televisivas antes de este documento ser ratificado pelo congresso – o que está previsto acontecer nos próximos 10 dias.

Mas além disso, a federação também contesta a perda das receitas das apostas, as inspeções das Finanças, as ingerências do Conselho Superior do Desporto (CSD) espanhol. A RFEF considera que o futebol espanhol foi «desprezado pelo Governo», que utiliza «dinheiro privado do futebol para políticas desportivas através do CSD para outras atividades alheias ao futebol».

Estrelas mostram-se, mas também são alvo de críticas


Nem o governo espanhol nem o CSD responderam ainda aos reptos feitos. Já Tebas, sim: «Peço ao Governo que mantenha e não toque nem numa vírgula do Decreto.» «Se o Governo se submete a esta chantagem irresponsável daremos um passo atrás na regeneração do futebol espanhol», defendeu o presidente da liga.

Tebas nunca se referiu aos jogadores e, pelo que já foi relatado, a guerra pelo controlo do dinheiro do futebol espanhol está a ser feita ao mais alto nível institucional. Mas os futebolistas também decidiram entrar oficialmente na batalha. O facto de não terem sido chamados à discussão é precisamente um dos argumentos apontados para a sua posição.

«Estamos a pedir que a AFE seja reconhecida», afirmou nesta quinta-feira o presidente dos jogadores, Luis Rubiales, marcando posição: «Somos atores importantes porque ajudamos a gerar receitas.» A associação de futebolistas queixa-se de nem sequer lhe «terem dado a possibilidade de sentar à mesa», eles que são «oito mil membros», para discutir uma nova lei do desporto «muito grave porque permite à Liga decidir como quer no futebol».

As fações estão formadas nesta questão. Os jogadores não deixam também de frisar que uma das suas reivindicações é uma divisão mais repartida das receitas televisivas entre os escalões profissionais.
 



A AFE fez também questão de frisar que as revindicações que respeitam a dinheiros têm como principal motivo a melhoria das condições dos futebolistas que ganham pouco e que precisam de se preocupar com a fonte de rendimento depois de deixarem o futebol. «O dinheiro que pedimos é para os mais humildes, para a segunda [divisão] B. Para que os humildes tenham dinheiro quando se retirarem», afirmou Rubiales.

Atrás do presidente da associação de futebolistas estavam jogadores dos principais clubes espanhóis, como Casillas e Sergio Ramos (Real Madrid), ou Iniesta, Piqué e Xavi (Barcelona), ou Juanfran (At. Madrid), ou Parejo (Valencia). A presença de algumas das maiores e mais internacionais estrelas do futebol espanhol quis mostrar a força dos futebolistas nesta questão; ampliando esta manifestação nas redes sociais.
 


 

 


Mas o facto de serem jogadores dos mais bem pagos do mundo a darem a cara por estas questões gerou também reações contrárias de condenação das exigências – uma mais institucionais; outras mais irónicas…
 

 

 


O que é outro facto é que, sob a hashtag #RealDecretoConAFE, a batalha está feroz.


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