Habitantes das Canárias convocam greve de fome em protesto contra o excesso de turismo

CNN , Jack Guy e Louis Mian
19 abr, 08:00
A Gran Canária está entre as ilhas onde há queixas de excesso de turismo (Ernesto r. Ageitos/Moment RF/Getty Images/FILE)

As preocupações que movem os manifestantes no arquipélago espanhol há muito que também se fazem sentir em Portugal

Os habitantes das Ilhas Canárias estão a mobilizar-se num protesto contra o excesso de turismo, culpando os visitantes de fazer subir os preços das casas e de causar danos ambientais.

O arquipélago espanhol, localizado no Oceano Atlântico, na costa oeste de África, é há muito um destino de férias popular, devido ao seu clima ameno durante todo o ano.

Contudo, o número de turistas explodiu, dos 11,5 milhões para os cerca de 16 milhões de visitantes anuais, durante a última década, segundo a organização ambiental local Fundación Canarina. Muitos habitantes estão agora prontos para avançar com ações de protesto contra aquilo que dizem ser uma sobre-exploração das ilhas.

Um grupo denominado Canarias Se Agota fez apelos para o apoio a uma greve de fome, com início marcado para esta quinta-feira. Também ontem, uma manifestante deste grupo teve de receber apoio médico, após seis dias sem comer. O Canarias Se Agota tinha também desafiado a população a formar um cordão humano para como forma de demonstrar o seu apoio.

“Cada pessoa que se junta a este cordão humano envia uma mensagem forte ao governo: as Ilhas Canárias não querem continuar a sacrificar o seu futuro”, disse o grupo numa publicação no Facebook na quarta-feira.

O grupo local de conservação da natureza Asociación Tinerfeña de Amigos de la Naturaleza (ATAN) está também a promover um protesto para este sábado, invocando o “colapso social e ambiental que estamos a viver”.

O grupo ecologista Ecologists in Action fará parte deste mesmo protesto, atribuindo a culpa ao “turismo completamente insustentável”, com os arrendamentos de curta duração e as casas de férias a fazer disparar os preços da habitação, sobrecarregando assim os locais.

O grupo também culpa as autoridades locais por aprovarem projetos de desenvolvimento turístico de grande escala, que agravam os problemas já existentes, como as cada vez mais frequentes falhas no abastecimento de água.

As infraestruturas dedicadas ao turismo, como piscinas e campos de golfe, usam grandes quantidades de água, que é cada vez mais escassa devido à falta de chuva e aos maiores períodos de seca, como consequências das alterações climáticas, explicou o grupo em comunicado.

“No próximo sábado, 20 de abril, vamos ocupar as ruas para exigir o que deveria ser do senso comum: para assumir o controlo de uma situação que nos asfixia e nos tira das nossas casas”, pode ler-se.

“É tempo de exigir uma mudança na abordagem e de gritar, uma vez mais, em todas as ilhas, que as Canárias têm um limite”.

Número crescente de visitantes

Golfistas em Tenerife em março de 2011 (EyesWideOpen/Getty Images)

Em resposta, as autoridades governamentais locais propuseram um diálogo entre políticos, académicos e cidadãos para traçar uma estratégia para o turismo ligada à sustentabilidade social, ambiental e económica.

“O objetivo é criar uma comissão de especialistas para estabelecer linhas de orientação comuns”, afirmou Jéssica de León, que tem a pasta para o turismo e o emprego no governo regional das Ilhas Canárias, num comunicado publicado na terça-feira.

De León também acenou com uma proposta para novas regras no arrendamento de curta duração destinado a turistas.

As preocupações sobre o impacto do turismo não são um exclusivo das Ilhas Canárias.

Muitos destinos populares entre os turistas em todo o mundo têm registado números recorde de visitantes nos últimos tempos, à medida que a indústria do turismo recupera da recessão causada pela pandemia de covid-19.

Esses crescimentos podem ser bons para as economias locais e para os resultados das empresas hoteleiras, mas também têm desvantagens notórias: aumentam o barulho, a poluição, o trânsito e a pressão sobre os recursos; trazem uma menor qualidade de vida para os locais; bem como uma experiência menos agradável para os próprios visitantes.

Não é de surpreender que muitos dos pontos mais populares para o turismo tenham criado iniciativas e avançado com restrições no sentido de combater os problemas criados com o excesso de turismo, incluindo a criação de taxas turísticas ou o aumento das já existentes [como quer fazer Lisboa], campanhas destinadas a desencorajar a vinda de visitantes mais problemáticos e ainda a imposição de limites nas entradas para as atrações mais populares.

Um desses exemplos é a cidade espanhola de Barcelona, que esteve entre as primeiras cidades europeias a proibir novos hotéis no centro da cidade e a restringir o arrendamento de curta duração para turistas, e ainda a fechar um terminal portuário ao tráfego de cruzeiros em outubro de 2023.

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