“Não é o elixir da juventude” mas promete travar os efeitos colaterais do envelhecimento: a medicina anti-aging cresce em Portugal (mas continua a dividir os médicos)

25 jul 2023, 07:00
Mulher (Freepik)

As promessas alimentam aquilo que o Homem anseia: sentir-se jovem mesmo com o avançar da idade. A Medicina Antienvelhecimento ganha protagonismo em Portugal, mas não é consensual entre a classe médica. A Ordem dos Médicos não a reconhece como uma especialidade ou competência, há quem diga que o conceito é “enganoso” e quem defenda que há espaço para o seu reconhecimento se a evidência assim o comprovar. Este mês nasceu uma sociedade científica que espera tornar esta prática mais regulamentada e credível

Forever young, I want to be forever young’. A música facilmente ecoa na mente de quem vê os anos a passar e procura a juventude perdida, a força de outros tempos, a destreza mental do começo da vida adulta, o escudo protetor contra as doenças que teimam em acompanhar o avançar da idade. Queremos todos ficar jovens e, sobretudo, sentirmo-nos jovens. Mas a que custo? Há quem opte desde cedo por adotar um estilo de vida ativo e saudável, quase como mantra do bem-estar que o próprio padrão mediterrâneo defende. Há quem recorra à cirurgia estética para manter a aparência de outrora. E há quem vá mais longe e procure modular o seu organismo, aquilo que a recém-chegada Medicina Antienvelhecimento promete.

A Medicina Anti-Aging, termo original que surgiu em 1990 nos Estados Unidos, ganha adeptos a cada ano e assume-se como a detentora da ‘poção máxima’ que coloca em stand-by o relógio do envelhecimento, deixando-nos mais jovens, por dentro e por fora, durante mais tempo. E tem sido uma das procuras mais incessantes da ciência nos últimos anos e, mais recentemente, de bilionários da área da tecnologia, como Jeff Bezos, que querem encontrar o segredo - ou criá-lo - para se viver mais e melhor. Mas a questão não é assim tão linear quanto isso. Nem tão pouco tão mágica. 

“Isto não é nenhum elixir da juventude”. É desta forma que Marta Padilha, médica especialista em Medicina Geral e Familiar, Medicina do Trabalho e Medicina do Viajante e agora com uma clínica em nome próprio dedicado ao Anti-Aging descreve este “ramo da Medicina”. “Se calhar o nome não é mais correto”, diz-nos, defendendo que aquilo que a Medicina Antienvelhecimento defende é um ‘smart aging’, que é como quem diz, um envelhecimento saudável e com qualidade de vida. “Efetivamente, a palavra que mais gosto é smart aging, porque revela mais o que podemos fazer”.

A Medicina Antienvelhecimento entrou de rompante em Portugal há uma década, multiplicando-se os espaços privados e até os profissionais que a praticam. No entanto, este está longe de ser um tema consensual dentro da classe médica.

A Ordem dos Médicos (OM) portuguesa não reconhece a Medicina Antienvelhecimento como especialidade, subespecialidade ou competência. Dentro do mesmo organismo, há quem condene veemente o conceito de antienvelhecimento e há quem veja espaço para a sua prática. Este mês, nasceu uma sociedade científica que pretende tornar a Medicina Antienvelhecimento mais regulamentada e credível, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Longevidade e Antienvelhecimento (SPMLA). 

Tema de discórdia

Sandra Camacho é médica há mais de 20 anos. Especialista em Medicina Desportiva e Reabilitação Cardiorrespiratória, decidiu dedicar-se à Medicina Antienvelhecimento a tempo inteiro há dois anos, quando abriu o espaço Art Beauty Clinic, em Lisboa, e depois de ter feito um mestrado na Universidad de Alcalá, em Madrid. É a mentora da sociedade que acaba de nascer e que pretende tornar a Medicina Antienvelhecimento uma competência reconhecida pela Ordem dos Médicos. “É uma medicina com fundamento em cinco pilares”, diz-nos por telefone. São eles a nutrição, o exercício físico, a suplementação alimentar, a mudança de hábitos de vida e a modulação hormonal.

Nas suas páginas online - e na sua própria abordagem clínica - decidiu abandonar o termo inglês anti-aging, embora este seja o mais pesquisado online. “Falar em português e para os portugueses”, explica-nos o motivo para a mudança. Mas não só: a médica admite que o conceito em inglês tem conotações que podem não ser as mais indicadas para o fim do tipo de medicina que defende e que tem como objetivo ajudar a “envelhecer saudável”.

E o conceito de antienvelhecimento - por todas as promessas que implícita e explicitamente traz - causa discórdia entre médicos. Sofia Duque, médica especialista em Medicina Interna, com competência em Geriatria, e coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria (NEGERMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), é bastante crítica quanto ao conceito de anti-aging e olha com ceticismo para este ‘ramo’ da medicina. E não hesita em apontar críticas. “Preocupa-me e o nome diz tudo, porque é algo que é antinatural, em medicina não devemos contrariar algo natural e fisiológico, não falamos de doenças, mas de processos que fazem parte do ciclo de vida”.

Para mim, o conceito de Medicina Anti-Aging não devia existir, é enganoso, levanta falsas expectativas, traz malefícios e pode trazer frustrações. É uma expectativa irrealista. Temos de promover o envelhecimento saudável e não contrariar o que é natural”, diz a médica que também faz parte da direção do Conselho de Geriatria da Ordem dos Médicos.

Na primeira consulta de Medicina Antienvelhecimento é pedido um conjunto de análises clínicas para avaliar o estado de saúde, hormonal e nutricional do paciente. (Freepik)

O que defende a Medicina Antienvelhecimento

O nome, por si só, diz tudo: contrariar o envelhecimento. Este é nada mais do que “uma falha progressiva dos processos metabólicos” e há fatores que podem acelerar ou agravar isso mesmo, como é o caso dos radicais livres (que causam stress oxidativo), glicação (quando as moléculas de glicose e outros açúcares, como a frutose, se ligam às proteínas), inflamação crónica (que afeta a metilação), como se lê no estudo Indian Journal of Plastic Surgery. “É um processo natural”, adianta Sofia Duque.

À priori, a Medicina Antienvelhecimento pretende atuar nestes mesmos fatores e tornar o corpo e o sistema imunitário mais aptos para o avançar da idade e até para uma melhor qualidade de vida na velhice. “É uma medicina preventiva que tem como objetivo proporcionar-nos uma melhor qualidade de vida, retardando sinais e sintomas relacionados com o envelhecimento através da análise e deteção de fatores de risco e estilos de vida prejudiciais à saúde e bem-estar”, lê-se no site de Sandra Camacho. Mas, por não se tratar de uma prática regulamentada e suportada pela Ordem dos Médicos, é difícil perceber se há ou não casos que vão além disso.

“Há más práticas em todos os lados”, lamenta Marta Padilha, que diz que uma maior regulamentação poderia trazer uma “maior credibilidade” ao conceito e à prática clínica de Medicina Antienvelhecimento. 

Maioria mulheres com mais de 40 anos

À consulta de Sandra Camacho - cujos preços rondam os 150 euros pela primeira sessão e 120 pelas seguintes -, chegam homens e mulheres, na maioria entre os 40 e os 50 anos. A idade “ideal” para começar a atuar, assegura, destacando que cada consulta tem, no mínimo, a duração de uma hora e é feita uma avaliação clínica da pessoa. Em média, conta são “30 e tal por semana” os pacientes que vê. Também Marta Padilha diz que é mais comum receber pacientes a partir dos 40 anos, sendo maioritariamente mulheres - “apenas 12%” do total de pessoas que a consultam são homens. “Apesar de existir há décadas noutros países, aqui é uma novidade”, adianta.

O primeiro passo numa consulta de Medicina Antienvelhecimento é fazer uma avaliação clínica do paciente, analisando o histórico familiar e análises clínicas, que podem ir das mais básicas, às que avaliam hormonas ou absorção de nutrientes. Depois, e partir desses resultados, começa aquilo a que Sandra Camacho chama “modular o terreno”, e aqui entra a alimentação, o exercício físico e a higiene do sono, por exemplo. Mudanças de hábitos que, à partida, e por si só, reforçam o sistema imunitário e atuam como escudo protetor contra o envelhecimento.  “Tenho de pôr o intestino bom, levar o paciente a fazer exercício físico e a moderar o stress”, explica, revelando que nesta fase podem também entrar alguns suplementos alimentares. 

Só depois de o “terreno” estar trabalhado é que se dá início à modulação hormonal, que pode acontecer com o recurso a hormonas bioidênticas ou sintéticas. Mas ao contrário do que muitos pensam, nem todas as pessoas que recorrem à Medicina Anti-Aging necessitam de repor ou equilibrar hormonas, nem tão pouco esta é a terapêutica base, garante Sandra Camacho. “Se vier uma pessoa com excesso de peso, não dou hormonas, primeiro aposto na nutrição e em exercício [físico], depois suplementação antioxidante”, exemplifica.

Sobre este ponto, Marta Padilha é taxativa ao dizer que “a modulação hormonal não é para quem quer, é para quem pode”, referindo-se, não aos custos do tratamento - que não avançou -, mas àquilo que cada pessoa pode ou não necessitar. “Não é uma pílula mágica”, reforça.

Apesar de ter decidido apostar na Medicina Antienvelhecimento, a médica Sandra Camacho mantém-se ligada à chamada medicina convencional e passa isso para os seus pacientes: “a minha medicina atua na prevenção, eu não trabalho no campo dos meus colegas, eu não exerço competências que não são minhas”, diz, revelando que não é incomum os seus pacientes manterem, por exemplo, acompanhamento paralelo em ginecologia ou cardiologia, assim como as consultas de Medicina Geral e Familiar.

Nutrição, exercício físico, mudança de hábitos, suplementação e modulação hormonal são os cinco pilares da Medicina Antienvelhecimento. (Pexels)

Modulação hormonal e suplementação, os pilares da controvérsia

Se a nutrição, o exercício físico e a mudança de hábitos diários são apostas consensuais na hora de tentar travar as consequências envelhecimento - ou, pelo menos, estimular o envelhecimento com qualidade de vida -, o certo é que a modulação hormonal e a suplementação dividem opiniões e são até a questão mais criticada por quem olha com ceticismo para a Medicina Antienvelhecimento. Em causa, dizem os críticos, está a escassez de evidência científica que sustente a sua prática, sobretudo quando o uso de hormonas, bioidênticas ou sintéticas, é feito sem que haja uma deficiência clínica das mesmas.

A questão da modulação hormonal é preocupante, a nossa biologia e fisiologia vai mudando, eu na consulta de geriatria explico isto às pessoas, o corpo vai mudando e os sistemas hormonais vão alterando. É normal que o nível das hormonas não seja o mesmo na idade adulta e na idade mais velha, essas alterações acontecem no contexto da fisiologia. Reverter isto, além de não trazer vantagens e de estar desenquadrado de todo o sistema do corpo humano, pode trazer prejuízos”, atira Sofia Duque. “Já vi um surto psicótico numa pessoa idosa após uma terapêutica hormonal”.

Segundo a médica especialista em Medicina Interna, a modulação hormonal apenas faz sentido quando há, de facto, uma necessidade para tal, quando os níveis estão abaixo do que é suposto para uma determinada idade e essa queda traz consequências para a saúde. Mas, diz-nos, isso nem sempre é o que acontece na Medicina Antienvelhecimento, em que a modulação hormonal acaba, por vezes, por fazer com que a pessoa fique com níveis acima de determinada hormona do que aqueles que são supostos para a sua idade.

“Já vi pessoas idosas com efeitos secundários graves destas terapêuticas, vão ao engano e na perspetiva de reverter o envelhecimento”, acusa a também coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria (NEGERMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), revelando que “na modulação hormonal são administradas hormonas com a intenção de repor níveis que são superiores aos níveis normais no envelhecimento de uma forma descontextualizada, isso traz riscos”. E dá exemplos: “se for administrada hormona do crescimento, há um aumento do risco de neoplasias, se as pessoas tiverem pólipos intestinais há um aumento de risco de maior desenvolvimento”.

Sobre este ponto, Marta Padilha diz que “não se pode generalizar”, seja o tratamento, seja a prática do mesmo. “Fazemos a avaliação clínica, depois pedimos análises hormonais para poder fazer suplementação hormonal, algo que é individualizado e personalizado”, diz, rejeitando a ideia de que a modulação é feita “só porque sim”.

“Damos as hormonas que a pessoa efetivamente precisa, hormonas essas bioidênticas. Isto causa alguma confusão. São hormonas estrutural e quimicamente iguais às nossas, os nossos recetores hormonais reconhecem essas hormonas como suas, não vai haver efeitos secundários, desde que sejam dadas as doses mínimas para a pessoa, daí as análises”, explica Marta Padilha, dizendo que um paciente , por exemplo, com 50 anos até pode querer ter os níveis hormonais que tinha aos 30, mas tal não significa que aconteça. “Eles podem até querer isso, mas temos de perceber o que ele necessita, o valor ideal é aquele de acordo com a idade atual e com o sexo”, atira a médica.

Também Sandra Camacho nega que a modulação hormonal seja descontextualizada e diz mesmo que é feita uma avaliação clínica do paciente e, mais uma vez, garante que nem todos os pacientes precisam de modular as hormonas.

Porém, as opiniões mantêm-se divididas, sobretudo porque não é possível saber se todos os médicos na área do anti-aging fazem o mesmo. Em 2019, foi publicada uma posição conjunta da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM), Núcleo de Estudos de Geriatria (NEGERMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Colégio da Especialidade de Endocrinologia e Nutrição (CEEN) e Colégio da Competência de Geriatria (CCG) sobre o uso de Terapêuticas Hormonais no âmbito da chamada Medicina Anti-Aging, onde os especialistas destas entidades alertam para a “proliferação de terapêuticas não aprovadas para tratar problemas relacionados com o envelhecimento”.

A progesterona micronizada é usada em grávidas quando têm hemorragias, se fosse uma coisa má não dávamos às grávidas”, exemplifica Marta Padilha, adiantando-se a dizer que “as hormonas que usamos não são hormonas que mandamos fazer, elas existem” e vendem-se em farmácias.

A CNN Portugal tentou saber se há processos existentes por alegadas práticas abusivas relacionadas com a Medicina Antienvelhecimento, mas não foi possível obter dados concretos. Numa resposta por escrito, a Entidade Reguladora da Saúde explica que “o Sistema de Gestão de Reclamações existente na Entidade Reguladora da Saúde (ERS) não estratifica as reclamações recebidas especificamente sobre medicina anti-aging (medicina anti-envelhecimento)”, revelando que “nas reclamações que são remetidas à ERS existem indicadores que podem, eventualmente, abranger estas situações, contudo, saliente-se, não será possível quantificá-las”.

Também a suplementação alimentar não é consensual e, mais uma vez, Marta Padilha diz que não se pode generalizar. “Quanto à suplementação não hormonal, temos de avaliar individualmente os nutrientes que os pacientes necessitam. Suplementar a mais não quer dizer que seja uma coisa boa”, esclarece a médica.

A escassez de evidência sobre estas duas práticas é o que mais incomoda a classe médica, embora ambas sejam amplamente praticadas por cá e no estrangeiro porque, até ao momento, também não foi possível provar malefícios, como diz Manuel Mendes Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética e Deontologias Médicas, que frisa que a Ordem dos Médicos “não suporta” a modulação hormonal e a suplementação, mas também “não condena”.

Várias vitaminas, como a E, D e C, aminoácidos, selénio, carotenoides, ácidos gordos. Todos estes suplementos não têm ainda comprovação científica, mas são muito usados em muitos países e nas práticas de antienvelhecimento. Têm sido feitos muitos estudos, mas até agora, sem nenhuma prova. A Ordem dos Médicos não suporta, mas também não condena, não fazem mal”, explica o médico. 

O estudo Riscos à saúde das práticas médicas de antienvelhecimento: uma análise literária - publicado em 2023 e que analisou investigações feitas entre 2018 a 2022 - diz, por exemplo, que “compostos, como a metformina, a melatonina, o resveratrol - um fitobioativo -, os prebióticos, os probióticos, as substâncias presentes em algas marinhas e o beta-hidroxibutirato (β-HB) - um corpo cetónico - atuam como agentes ligados ao rejuvenescimento”. 

Estas substâncias, continua a investigação, “atuam, por exemplo, no stress oxidativo relacionado, muitas vezes, às doenças degenerativas decorrentes da idade avançada e, também, este último (β-HB) atua como regulador epigenético contribuindo para o efeito de antienvelhecimento”, no entanto, os autores não negam “os possíveis perigos da prática”, defendendo, por isso, “estudos mais aprofundados para garantir uma melhor segurança” a quem procura a “preservação da jovialidade de maneira sensata garantindo o verdadeiro bem-estar”. 

A modulação hormonal praticada na Medicina Antienvelhecimento tem sido criticada por sociedades médicas e científicas e estudos ainda não conseguiram mostrar a sua eficácia. (Freepik)

Há espaço para a Medicina Antienvelhecimento enquanto competência médica? 

Sandra Camacho acredita que num futuro próximo a Medicina Antienvelhecimento passe “a ser melhor vista”. Embora reconheça que “nunca vai ser uma especialidade”, acredita que “vai ser uma competência” e que isso trará mais regulação e credibilidade.

Da mesma opinião é Marta Padilha. A médica acredita que ainda “não há um número suficiente de médicos” para que a Medicina Antienvelhecimento ganhe ‘peso’ aos olhos da Ordem dos Médicos. “É como a Medicina Estética, que está a ser pensada como competência porque agora há mais pessoas a praticá-la”, exemplifica. Mas Marta Padilha defende que “mais importante” do que um estatuto, seja de competência ou especialidade/subespecialidade - embora  desse mais “credibilidade” e pudesse “desmistificar algumas questões que até entre colegas pode causar mal-estar” - “é nós médicos pensarmos em fazer as formações vocacionadas para a boa prática”. E se não há formações em Portugal, há que procurá-las lá fora, tal como fez, tendo completado o mestrado em Medicina Anti-Envelhecimento e Longevidade na Universidade de Barcelona.

Manuel Mendes Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética e Deontologias Médicas da Ordem dos Médicos, é defensor da adoção de um estilo de vida saudável como forma de travar as consequências negativas do envelhecimento. Mas quanto à Medicina Antienvelhecimento em si, o médico mostra-se reticente: assegura que a Ordem dos Médicos “não suporta” esta prática e diz que escasseia ainda evidência que a sustente. Mas não lhe fecha totalmente a porta.

Uma vez que se trata de um conceito com cerca de quatro décadas de existência, a Medicina Anti-Aging ainda está a ser estudada e são vários os estudos que apontam benefícios, mas também a necessidade de investigações mais aprofundadas, sobretudo no que diz respeito à modulação hormonal, como também à suplementação ou ao risco de promessas difíceis de cumprir.

O médico Manuel Mendes Silva defende que, “neste momento, não há evidência científica” que suporte da Medicina Antienvelhecimento, mas que, “comercialmente”, continuará a ser um ramo em crescimento. “Isto do antienvelhecimento é um objetivo desde a antiguidade”, diz. Sofia Duque mantém uma posição contrária e o tom condenatório do conceito antienvelhecimento. “Nós médicos temos de entender que a fisiologia não deve ser revertida, temos é de encaminhar as alterações do curso de vida num envelhecimento saudável e promotor de qualidade de vida”, atira.

Esse lado do marketing apontado pelo médico Manuel Mendes Silva é também mencionado no estudo Anti-Aging Medicine: Can Consumers Be Better Protected? (‘Medicina Antienvelhecimento: como podem os consumidores ser melhor protegidos’, em tradução literal). “O interesse atual em intervenções antienvelhecimento é alimentado pelo apelo de suas promessas aos baby boomers que tentam preservar sua juventude à medida que se aproximam da velhice cronológica e aos idosos que tentam rejuvenescer”, lê-se.

No entanto, o presidente do Conselho Nacional de Ética e Deontologias Médicas da Ordem dos Médicos reconhece que as práticas antienvelhecimento, sobretudo quando a evidência for mais robusta, podem ter espaço na Ordem dos Médicos, uma vez que a base do conceito acaba por ser o estímulo de um estilo de vida saudável e a promoção de bons hábitos. “Não descuro a possibilidade de ser uma subespecialidade cá”, conclui.

A CNN Portugal tentou obter uma declaração de Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, sobre o tema, mas não recebeu qualquer resposta até à conclusão do artigo.

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