José Gonçalves, o português a lutar pelo título no soccer

4 dez 2014, 08:24
José Gonçalves (REUTERS/ Andy Marlin)

Defesa do New England Revolution em entrevista ao Maisfutebol antes da final da MLS frente aos LA Galaxy




José Gonçalves já levantou uma taça, a de campeão da Conferência Leste da MLS, a Major League Soccer. Agora, o defesa português que é o capitão dos New England Revolution vai jogar a grande final, no domingo, frente aos LA Galaxy. Está a um jogo do título norte-americano e, depois de um treino e uma ronda de entrevistas, numa semana intensa como poucas, fala ao Maisfutebol deste momento único. E sobre o futebol nos EUA, a forma como se despediu do ídolo Thierry Henry, Yannick Djaló e ainda o futuro, com o regresso à seleção nacional como grande objetivo.

Para chegar à final, os New England Revolution deixaram pelo caminho os New York Red Bulls de Thierry Henry, na final do Leste. Um empate a dois golos no Gillette Stadium, depois da vitória por 2-1 na primeira mão. Agora, procuram o primeiro título da MLS da sua história.

A temporada da equipa, longe de ser apontada como favorita à partida, foi em crescendo, conta José Gonçalves. «A equipa teve um nível muito forte, trabalhou muito bem nos últimos meses. Ninguém pensava que chegássemos à final. Tivemos uma fase em que não ganhámos oito jogos de seguida, toda a gente pensava que não íamos aos play-off. Mas no final recuperámos, não perdemos em dois meses e meio. Com os bons resultados ganhámos confiança e chegámos até aqui.»

Chegaram ao duelo com os New York Red Bulls e participaram num momento histórico: a despedida de Thierry Henry. Ao fim de quatro anos na MLS, o jogo no Gillette Stadium foi o último do avançado francês na América. Agora, disse que vai refletir antes de decidir se termina a carreira. Na hora do adeus, José Gonçalves presta-lhe um tributo sentido.

«Sempre que jogava contra o Henry era especial»

«O Henry é um jogador fantástico, já ganhou muito no futebol mundial. Nos anos em que esteve aqui ajudou muito a Liga e os New York Red Bulls a crescer. Aqui toda a gente tem muito respeito por ele. Sempre que jogava contra ele era especial. Defrontar um jogador como ele é crescer como jogador, como defesa», diz, para contar depois como foi o encontro entre ambos no final da partida no Gillette Stadium: «Falei com ele, disse-lhe que esperava que ele continuasse a jogar. Ele agradeceu-me, disse que nós jogámos muito bem e que esperava que ganhássemos a final.»

Henry foi nos últimos anos a grande referência da MLS para o exterior. Há mais e nos Revolution está, por exemplo, Jermaine Jones, o médio germano-americano que rumou aos EUA depois de muitos anos de experiência na Europa.

Um reforço de peso, diz Gonçalves. «Temos jogadores com experiência, como o Jermaine Jones, que chegou na segunda metade do campeonato. Agora temos um meio-campo mais forte. Temos mais equilíbrio», observa, para notar que ter esses jogadores faz parte da política da MLS. «São muito importantes os jogadores que vêm da Europa com a mentalidade de que vão ajudar o clube a crescer, é o que a Liga espera deles.»

Nascido em Portugal, de ascendência cabo-verdiana, José Gonçalves foi viver ainda criança para a Suíça. Foi onde começou a jogar, mas a sua carreira levou-o a muitos destinos diferentes: o Veneza, o Kaunas, na Lituânia, o Hearts, na Escócia, o Nuremberga, na Alemanha. Tinha regressado à Suíça e estava no Sion quando, em janeiro de 2013, rumou à MLS, primeiro por empréstimo, para jogar nos New England Revolution.

É a segunda época de José Gonçalves nos Estados Unidos, uma história de afirmação imediata. Na primeira temporada participou em todos os jogos da equipa e foi eleito para o onze ideal da MLS, na segunda liderou a equipa até à decisão. Ganhou cedo a braçadeira de capitão, algo que ele explica de forma prática.

«Sou o capitão há dois anos. Falo muitas línguas diferentes, isso ajuda. Era preciso um jogador que ajudasse toda a gente», explica, para especificar melhor do que fala. Aliás, o que fala: «Falo seis línguas. Português, francês, italiano, alemão, inglês e espanhol. As pessoas às vezes perguntam-me isso, quantas línguas falo, e ficam surpreendidas. Mas para mim é normal.»

«Aqui fala-se de um penálti durante um dia, depois é esquecido»

Aos 29 anos, com larga experiência na Europa, José Gonçalves é um ótimo guia para falar sobre a MLS e as diferenças para o futebol europeu. «Está a crescer muito rapidamente. Há qualidade, mas claro que não se pode comparar ao campeonato português, espanhol ou inglês. Daqui a poucos anos vai ser um bom campeonato», diz, para depois apontar como as diferenças são enormes em termos de organização, sobretudo se comparadas com o futebol português. «A organização é espectacular. São muito organizados, em termos de estádios, campos de treino. Tudo para o jogador se sentir bem e se concentrar no trabalho a 100 por cento. E o ambiente é mais tranquilo, há menos polémica. Em Portugal pode-se andar dois ou três meses a falar de um penálti. Aqui fala-se durante um dia, no dia a seguir é esquecido. Aqui as pessoas vêm ao estádio desfrutar do jogo, em família. Apoiam muito. Para mim é muito positivo, gosto muito disto.»

Quanto ao que se segue, José Gonçalves encara a decisão da MLS com tranquilidade. Sabendo que o Revolution não parte como favorito. «O LA Galaxy já ganhou muitos títulos. Mas também tem pressão. As expectativas sobre eles são muito maiores do que sobre nós», nota: «Acho que não há favoritos, são duas boas equipas. Se nós estamos na final é porque merecemos.»

Esta é a quinta final da história do NE Revolution. Perdeu as quatro, duas delas precisamente frente aos Galaxy. Mas esse não é um fantasma para a equipa, garante: «O NE Revolution foi a quatro finais, perdeu as quatro. São coisas de que o clube se lembra, o treinador também, o Jay Heaps, que chegou a jogar uma das finais. Mas agora é uma etapa nova. Só estamos a pensar no jogo de domingo, não no passado. Preparámo-nos como sempre. Não precisamos de falar todos os dias sobre a final.»

Quanto terminar o jogo de domingo, José Gonçalves decidirá o seu futuro. É assim na MLS, onde os contratos são revistos a cada ano. Clube e jogador conversam, para chegarem a uma decisão. «Nesta altura não penso nisso, só depois da final», atalha José Gonçalves.

Sabendo que, ficando na MLS, será à partida, nesta altura, o único português. Este ano teve a companhia de Yannick Djaló, mas o jogador, cedido pelo Benfica ao San Jose Earthquakes, já regressou à Luz. «Joguei contra ele logo no segundo jogo. Falei com ele, foi uma conversa curta. A última vez que o tinha visto foi na seleção sub-21», conta. «É sempre bom ter aqui um português. Ele jogou bem pelo San Jose, mas teve algumas lesões, que não ajudaram muito. Acho que gostou.»

Por falar em seleção. É ainda um objetivo para José Gonçalves, que representou Portugal no Europeu sub-21 de 2007 e chegou a ser chamado por Carlos Queiroz à seleção principal, em 2009. «Claramente, continua a ser um objetivo para mim. Sempre fiz tudo para conseguir ir à seleção. Estou a tentar jogar bem, dar nas vistas para ter uma possibilidade de ser chamado. Acredito em mim, vamos ver.»

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