Maioria dos partidos vai às urnas a 10 de março com novas lideranças. Exceções são o Chega, o PAN e o Livre
Pedro Nuno Santos. Foi o último nome a ser apurado para a corrida. O próximo secretário-geral do PS não quer “um país a arrastar os pés” e reconhece que não é “o candidato que a direita queria”. É aquele que abre portas à reedição da geringonça, porque a última parceria com o Bloco de Esquerda e PCP “foi estável”. Com um percurso sólido no partido, liderou a Juventude Socialista, foi deputado, secretário de Estado e ministro. Há muito que desejava a liderança do partido. Enquanto secretário de Estado, coube-lhe a tarefa de negociação com os parceiros de geringonça. O papel de ministro trouxe-lhe as polémicas que fizeram abanar Pedro Nuno Santos: como o anúncio da localização do novo aeroporto de Lisboa à revelia de António Costa e a polémica indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis na TAP. É visto como representante de uma ala esquerda do PS, colado à imagem de “radical”, da qual tem procurado livrar-se, sobretudo quando foi recuperado o aviso antigo de que faria “tremer as pernas” aos banqueiros alemães. Com 46 anos, tem como principal desafio mostrar as suas diferenças face ao antecessor.
Luís Montenegro. Há muito que Montenegro procurava assumir a liderança dos sociais-democratas. Em 2020, tentou contra Rui Rio, mas perdeu. Dois anos depois, Rio apresentou a demissão na sequência das legislativas. E Montenegro encontrou o lugar que desejava. Com forte experiência parlamentar, chegou a ser o porta-voz da bancada nos tempos de Passos Coelho. Já enquanto presidente do PSD, e tendo em conta a força de António Costa, colou-se-lhe a imagem de líder da oposição. Internamente, havia quem considerasse que não tinha a força necessária para lutar pelo cargo de primeiro-ministro. Com a crise política, essas vozes calaram-se. E o PSD cultivou uma ideia de união em torno do líder, agora com 50 anos, inclusive com o regresso de Cavaco Silva a uma iniciativa partidária. Promessas tem havido muitas, da reposição da carreira dos professores ao aumento do complemento solidário para idosos, passando por mexidas no IRS. Após muita insistência, Montenegro foi claro a rejeitar uma aliança com o Chega. Não está fora da mesa uma coligação pré-eleitoral com o CDS-PP.
André Ventura. É um dos nomes que se repete face às últimas legislativas, ou não fosse André Ventura o líder incontestado do partido que fundou em 2019. Para trás ficava a ligação ao PSD onde, na candidatura à Câmara de Loures, com a bênção de Passos Coelho, havia de se tornar polémico com as declarações sobre a dependência da comunidade cigana face aos subsídios. A presença no comentário desportivo havia de fazer o resto. Em poucos anos, Ventura conseguiu tornar-se a terceira força política no Parlamento e nunca escondeu a vontade de ser primeiro-ministro. Ao PSD, tem deixado avisos de que conseguirá uma melhor votação e de que está disponível para integrar um governo. Sem presença no governo não há apoios de incidência parlamentar, concretizou Ventura: “ou não há governo, ou há governo com o Chega”. Algumas das vontades do Chega são antigas: reduzir o número de deputados, permitir a castração química de pedófilos. Está também cada vez mais vincado o discurso anti-imigração, em linha com outras forças da extrema-direita europeia de que é aliado, como Marine Le Pen. Ainda assim, em momentos de crise, Ventura tem cultivado uma postura mais moderada.
Rui Rocha. Sucessor de João Cotrim de Figueiredo na liderança do Iniciativa Liberal, Rui Rocha não tem o tradicional percurso na política. Foi a forte presença no antigo Twitter, onde era interventivo, que o catapultou para estas andanças. Já deixou claro que não quer coligações pré-eleitorais com o PSD, até para medir a força do próprio partido. Mas está disponível para uma solução pós-eleições à direita, com uma condição: sem o Chega. O discurso tem-se focado muito na desconstrução dos feitos do PS ao longo dos últimos anos, em especial no que respeita à carga fiscal. Com 53 anos, Rui Rocha está à frente do partido desde o início deste ano. Uma das suas metas é a de desconstruir a imagem elitista associada aos liberais - “queques”, como chegou a chamar-lhes António Costa.
Mariana Mortágua. É um dos nomes fortes do Bloco de Esquerda há muito. Em maio passado, assumiu o cargo de coordenadora do partido, após a saída de Catarina Martins. Uma das metas é recuperar presença no Parlamento, depois da forte derrota nas últimas legislativas: o partido passou de 19 para cinco deputados. Para isso, Mortágua conta com o seu historial de confronto ao poder estabelecido, conquistado nas comissões parlamentares de inquérito, onde confrontou nomes como Ricardo Salgado, ex-presidente do BES. Aos 37 anos, Mortágua desafia-se a “sarar as feridas” da maioria absoluta socialista, de quem foi crítica, chumbando os orçamentos apresentados por Costa. Nesta fase, tem também centrado críticas à vontade social-democrata de recuperar a carreira dos professores, por ser incoerente com o passado do partido. Saúde, habitação e salários serão temas fortes.
Paulo Raimundo. Com o afastamento de Jerónimo de Sousa, o nome de Paulo Raimundo para novo secretário-geral do PCP em novembro de 2022 acabou por gerar surpresas, até porque na corrida existiam outros comunistas mais conhecidos dos portugueses. Com 47 anos, alinha com aquelas que são as bandeiras-chave do PCP: os trabalhadores e os seus salários, os pensionistas. Raimundo não se compromete com uma nova geringonça, diz não querer “alimentar ilusões do PS”. A existir, tem dito, só mesmo com uma “mudança de política” dos socialistas, que não havia com a maioria absoluta.
Inês de Sousa Real. É um dos nomes que se repete entre as legislativas de 2022 e as do próximo ano. Apesar das críticas internas, aos 43 anos, Inês de Sousa Real segue firme na liderança do PAN. Foi eleita porta-voz do partido em 2021, uma década depois de se ter tornado militante. Tem recusado afirmar-se como estando alinhada à esquerda ou à direita, dizendo-se antes alinhada com as “causas” que defende, como o direito animal ou o combate às alterações climáticas. Com a negociação a cada orçamento do Estado, e a cedência socialista a propostas do partido, o PAN optou pela abstenção e não pelo chumbo. Sousa Real espera voltar a ter companhia no Parlamento, tal como nos tempos em que era líder parlamentar de André Silva.
Rui Tavares. Fundador do Livre, partido que havia de chegar ao Parlamento com Joacine Katar Moreira, perdendo depois essa representação quando a deputada rompe com o partido. Nas legislativas seguintes, Rui Tavares assume esse papel. Com 51 anos, o antigo eurodeputado tem focado a metas do partido na integração europeia e no combate às alterações climáticas. Também optou, perante as medidas que foi vendo acolhidas a cada orçamento, por não dar o chumbo, mas sim a abstenção às contas socialistas.