Luís Enrique-Zidane: uma história com algemas e cavadinhas

1 abr 2016, 10:20
Luis Enrique e Zidane

Clássico de Espanha marca reencontro de duas figuras de Barcelona e Real Madrid. Já disputaram sete encontros, entre clubes e seleções, e agora vão enfrentar-se, pela primeira vez, como técnicos

Mais de dez anos depois da última vez, Luís Enrique e Zinedine Zidane vão estar de novo frente a frente. O Clássico deste sábado (19h30) entre Barcelona e Real Madrid, marca o reencontro destas duas figuras dos dois emblemas e do próprio futebol. Será a sexta vez que medirão forças a nível de clubes, a que se acrescem mais dois embates de seleções.

Agora, contudo, há novidades: ambos estarão no banco a orquestrar as equipas. Para Zidane, de resto, o duelo de sábado será o primeiro frente ao velho rival Barcelona desde que assumiu o comando técnico do Real Madrid.

Para Luís Enrique será já o quarto Clássico como treinador, tendo perdido o primeiro e ganho os outros dois, o último na primeira volta, no Santiago Bernabéu, e por esclarecedores 4-0.

Este sábado vai, então, escrever-se um novo capítulo de uma rivalidade secular e, ao mesmo tempo, o primeiro do despique particular entre os treinadores, ainda com os duelos em campo bem presentes na memória dos aficionados pelo desporto.

Num jogo que ficará, certamente, marcado pela homenagem prevista a Johan Cruijff, Zidane vai tentar levar o Real Madrid a encurtar os dez pontos de diferença que leva para este jogo.

Enquanto jogadores, nos jogos de clubes o equilíbrio é total (uma vitória de Zidane, outra de Luís Enrique e três empates), os duelos entre França e Espanha com os, agora, treinadores em campo desequilibram a balança: Zidane venceu um e o outro terminou empatado.

Recorde todos, por ordem cronológica.

1. A primeira vez em pleno Euro 96

Data: 15 de junho de 1996

Resultado: França-Espanha, 1-1

Enquadramento: França e Espanha integravam o grupo B do torneio, ao lado de seleções que tinham feito sucesso no último Mundial, a Roménia e Bulgária. Na 2ª jornada, Luís Enrique e Zidane foram titulares, mas os golos foram de Djorkaeff e Caminero. O, agora, técnico do Barcelona foi o primeiro a sair, para dar lugar a Javier Manjarín que viria a fazer a assistência para o golo do empate espanhol, a cinco minutos do fim.

Na altura, recorde-se, Zidane ainda não era a estrela mundial que viria a tornar-se dois anos mais tarde, sendo que nesse verão trocou o Bordéus pela Juventus. Luís Enrique também protagonizou uma transferência mediática. Chegou a Barcelona oriundo do…Real Madrid.

2- O primeiro de Zizou na inauguração do Saint-Dennis

Data: 28 de janeiro de 1988

Resultado: França-Espanha, 1-0

Enquadramento: Pode dizer-se que é este o jogo que desequilibra a balança dos duelos particulares entre os treinadores de Real Madrid e Barcelona. E ainda por cima com um golo de Zidane, o primeiro a Luís Enrique, a decidir tudo. A caminho do França 98, o Saint-Dennis era inaugurado com um particular entre França e Espanha decidido pelo tal golo do médio que, aí sim, já era forte candidato a grande figura do Mundial.

Luís Enrique, desta feita, jogou os 90 minutos mas a vitória ficou em casa para a festa ser completa.

3- A estreia no El Clásico teve algemas na baliza e pontos divididos

Data: 16 de março de 2002

Resultado: Barcelona-Real Madrid, 1-1

Enquadramento: Em 2001, Zidane chega ao Real Madrid de Vicente del Bosque e, em março desse ano, disputa o primeiro duelo contra Luís Enrique, num jogo em Camp Nou que terminou empatado. O golo merengue foi de…Zidane, ainda na primeira metade. O Barça de Carles Rexach empata por Xavi no segundo tempo, num enorme frango de César, já depois de Luís Enrique ter dado o seu lugar ao ex-leão Fabio Rochemback. Zidane continuava, assim, por cima na disputa particular com o espanhol.

O jogo ficou ainda marcado por um protesto inusitado: um homem algemou-se à baliza do estádio, obrigando a intervenção policial, como forma de chamar a atenção para o problema da globalização.

4- A cavadinha de Zidane, agora na Champions

Data: 23 de abril de 2002

Resultado: Barcelona-Real Madrid, 0-2

Enquadramento: Na época 2001/02, as meias finais da Liga dos Campeões ditaram um duelo Barcelona-Real Madrid e os merengues levaram a melhor, seguindo até à final que haveriam de vencer ao Bayer Leverkusen. Todos lembram o golaço de Zidane nesse jogo, mas, na primeira mão das meias finais, em pleno Camp Nou, o francês já tinha feito uma obra de arte, com uma cavadinha (vaselina como dizem os espanhóis) na cara de Bonano.

Steve McManaman repetiu o gesto em cima do apito final e colocou o Real com pé e meio na final. Luís Enrique jogou os 90 minutos mas nada conseguiu fazer para mudar o rumo dos acontecimentos.

5- «Meio» Zidane chega para a final

Data: 1 de maio de 2002

Resultado: Real Madrid-Barcelona, 1-1

Enquadramento: Uma semana depois da magia de Zidane em Camp Nou, o jogo foi bem menos interessante e o francês até só esteve em campo uma parte, sendo rendido por Flávio Conceição, enquanto Luís Enrique jogou os 90 minutos, mas, novamente, sem fazer-se notar. Marcaram Raúl para o Real e Helguera na própria baliza para o Barça. A final foi «merengue» como se adivinhava.

6- Luis Enrique marca, Zidane perde a paciência

Data: 19 de abril de 2003

Resultado: Real Madrid-Barcelona, 1-1

Enquadramento: O Barcelona vivia um período muito difícil e era 12º na Liga antes de visitar o Santiago Bernabéu, onde morava o líder, ainda treinado por Vicente del Bosque. Mas Clássico é Clássico seja qual for o momento. Ronaldo, o Fenómeno, marcou primeiro, mas, à passagem da meia hora, Luís Enrique marcou. Foi o único golo que o espanhol marcou a uma equipa de Zidane. Valeu a igualdade, mas não atrapalhou os «blancos» que foram campeões no final do ano.

Ainda assim, o jogo ficou também marcado pela acesa discussão entre os, agora, treinadores, com Zidane a colocar mesmo a mão na cara do espanhol.

7- E na última tentativa…Luís Enrique ganhou e tirou o tapete a Queiroz

Data: 25 de abril de 2004

Resultado: Real Madrid-Barcelona, 1-2

Enquadramento: O Real Madrid de Carlos Queiroz chegou àquela 34ª jornada empatado na frente da Liga com o Valência. O Clássico teria contornos de cartada decisiva, porque perder poderia cavar um fosso difícil de recuperar a quatro rondas do final. Mas foi o que aconteceu. Depois de uma primeira parte sem golos, Solari adiantou o Real mas a vantagem durou apenas quatro minutos, até ao empate de Kluivert. Pelo meio, Luís Enrique entrou em campo, para o lugar de Saviola.

À entrada do último quarto de hora, Queiroz tirou Zidane e meteu Guti, mas na reta final Xavi despejou um balde de água gelada sobre o Bernabéu com o 1-2 final. O Real perdeu a liderança e nunca mais recuperou. Mais: perdeu todos os jogos até ao final da Liga! O Valência foi campeão e Queiroz foi despedido.

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