Economia de Israel foi resiliente no passado, mas impacto do conflito pode ser expressivo

ECO - Parceiro CNN Portugal , Mariana Espírito Santo
5 nov 2023, 11:30
Netanyahu (AP)

Noutros conflitos, a economia israelita conseguiu recuperar sem marcas significativas. A incerteza sobre a duração e dimensão do conflito atual com Hamas, poderá, contudo, determinar um maior impacto

A economia de Israel tem experienciado altas taxas de crescimento nas últimas décadas, tendo passado a ser conhecida pelo desenvolvimento tecnológico e o ecossistema de startups. A 7 de outubro, um ataque do Hamas fez abrir um novo capítulo do conflito entre as duas forças, que têm tido várias guerras nos últimos anos. Nestas altercações, a economia israelita tem recuperado sem dificuldades significativas, mas esta nova ronda de conflitos poderá ser diferente. Tudo vai depender de quanto tempo se prolongar e também do envolvimento de outros países na luta.

Este não é então o primeiro conflito com o Hamas, sendo que nas guerras anteriores a economia de Israel conseguiu recuperar. Nos últimos cinco grandes conflitos — nos anos de 2006, 2008, 2012, 2014 e 2021 — a economia não sofreu um impacto significativo, tendo mantido crescimentos anuais acima de 2% (exceto em 2009, ano também marcado pela crise financeira global).

No entanto, o conflito atual poderá durar mais tempo e o banco americano JPMorgan estima que a economia israelita pode encolher 11% no último trimestre do ano, face ao trimestre anterior, com escalada da guerra, de acordo com a Bloomberg. Mesmo assim, prevê um crescimento de 2,5% do PIB de Israel este ano e de 2% em 2024.

O banco central de Israel também já reviu em baixa as estimativas, mas continua mais otimista que o JPMorgan. Projeta agora que a economia vai crescer 2,3% este ano e 2,8% em 2024, face aos 3% que estimava para ambos os anos. Por outro lado, a dívida e o défice foram revistos em alta, já que a guerra vai exigir um esforço orçamental. O Ministério das Finanças israelita também já anunciou um plano de apoio para as empresas afetadas de cerca de mil milhões de euros.

Nos mercados, já se sente alguns efeitos da guerra. O principal índice de referencia da bolsa de Telavive caiu 11% nos termos da moeda local desde 7 de outubro, sendo de notar que algumas empresas tiveram de fazer paragens. Isto até porque foram chamados mais de 300 mil reservistas, representando uma fatia expressiva da força de trabalho, que teve de deixar temporariamente o emprego.

Este “congelamento” parcial da economia, com vários militares destacados e os negócios a pararem temporariamente, deverá custar ao Governo o equivalente a 2,5 mil milhões de dólares por mês, segundo calculou o banco israelita Mizrahi-Tefahot.

Na economia, os setores mais afetados até agora parecem ser o turismo e o comércio. Já na tecnologia — o maior setor da economia israelita, responsável por 18% do PIB — é mesmo na mão-de-obra que a guerra se tem feito sentir, já que vários trabalhadores foram chamados para servir. Estimativas da organização Start-Up Nation Central indicam que cerca de 10% dos trabalhadores no setor tecnológico foram destacados, número que chega a atingir os 30% em algumas empresas.

As tecnológicas apontam também receios de que a angariação de fundos e a negociação possam ser afetadas, numa altura em que as visitas ao país são interrompidas e os investidores esperam para ver como a situação se desenrola. Mesmo assim, já várias empresas sinalizaram apoio ao setor e foi criado um fundo de emergência, como indica a CNN.

Já no que diz respeito à moeda local, o shekel, começou a desvalorizar e chegou a cair para níveis mínimos deste 2012. Para travar esta queda, o banco central de Israel anunciou a venda de até 30 mil milhões de dólares em reservas internacionais, numa tentativa de apoiar os mercados. “O Banco irá operar no mercado durante o próximo período, a fim de moderar a volatilidade na taxa de câmbio do shekel e fornecer a liquidez necessária para a continuação do bom funcionamento dos mercados”, indicou o banco, na semana seguinte ao ataque do Hamas.

Tendo em conta este cenário, as agências de notação financeira Fitch e Moody’s já colocaram os títulos do Governo de Israel sob vigilância para possíveis downgrades.

Sem envolvimento na guerra, impacto no Médio Oriente pode sentir-se no turismo

A própria região do Médio Oriente também deverá sofrer com a guerra, ainda que seja muito incerto já que depende do envolvimento (ou não) de outros países no conflito. Mas há economias já frágeis, como do Egito, Líbano e Jordânia, que podem ser afetadas, como alerta o FMI. A instituição avisou que poderiam perder a “estabilidade sociopolítica”.

O Egito tem-se recusado a receber refugiados, nomeadamente ao argumentar que há riscos de militantes entrarem na península. Mesmo assim, há riscos de o conflito chegar perto do país e afetar outras áreas da economia. Dados do FMI de abril indicavam que as necessidades de financiamento do Egito correspondiam a 35% do seu PIB, sendo de notar que o rating da dívida tem piorado.

O turismo pode ser um dos setores afetados, já que a guerra pode fazer aumentar receios dos estrangeiros visitarem o país. O mesmo pode acontecer ao Líbano, cuja situação económica estava ainda pior mas que começava a ver nos visitantes de fora um possível caminho para a recuperação económica.

Este receio já foi expressado pelo FMI, sendo que a diretora-geral apontou, num fórum de investidores em Riade, na Arábia Saudita, que “o que estamos a ver é mais nervosismo num mundo já ansioso”. “Há países que dependem do turismo e a incerteza é prejudicial para os fluxos turísticos“, disse Kristalina Georgieva.

Outro aspeto óbvio do impacto da guerra que tem sido amplamente discutido é a questão energética. Vários países do Médio Oriente são exportadores de petróleo e gás e uma disrupção poderá levar a um aumento dos preços, sendo que o impacto vai depender da duração da guerra e o envolvimento nela.

Ainda que o conflito já tenha mexido com os preços nos mercados internacionais, os analistas da Allianz GI consideram que só o envolvimento de outros países da região no conflito, em particular do Irão, é que representaria um risco de uma nova escalada nos custos da energia.

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