Rui Costa: ainda há dúvidas?

9 nov 2023, 15:06
Real Sociedad-Benfica (AP Photo/Alvaro Barrientos)

O alerta que o desastre de San Sebastian nos traz sobre a estratégia da SAD encarnada

Bem vistas as coisas, os astros conspiraram para salvar o Benfica de um pesadelo histórico.

Quando à meia-hora de jogo a Real Sociedad vencia por 3-0, tinha somado dois golos bem anulados e acabara de falhar um penálti, terá sido impossível aos adeptos encarnados não se lembrarem, por exemplo, de Vigo.

Já eu, confesso, lembrei-me de Rui Costa.

Aliás, lembrei-me de Rui Costa e do administrador Luís Mendes. Mas já lá vamos. Antes de mais, interessa dizer que parecia bastante claro, mesmo antes da viagem a San Sebastian, que o sistema de três centrais metia água por todos os lados.

Afinal de contas não tinha havido tempo para ser consolidado, foi trabalhado em competição e partia de uma premissa errada: a adaptação de alguns jogadores.

Durante cerca de duas semanas, o sistema foi encarado como a solução para todos os problemas do Benfica, e são tantos, é verdade: jogadores céticos, obrigados a jogar fora de posição e desadaptados, uma equipa hesitante, um treinador perdido na sua própria incapacidade.

Era um desastre à espera de acontecer.

Mas lá está, durante duas semanas não aconteceu. E porquê? Porque a equipa defrontou o Arouca e o Desp. Chaves, dois adversários com argumentos claramente inferiores.

Quando finalmente teve um teste exigente, o desastre aconteceu, sim. Podia ter-se tornado histórico, mas vale a pena recordar que os astros, apesar de tudo, estavam favoráveis.

O que traz de novo à conversa Rui Costa e o administrador Luís Mendes, eles que já garantiram que o Benfica é por princípio favorável à centralização dos direitos televisivos, desde que isso não o prejudique. O segundo explicou, aliás, que «a matriz de distribuição [da receita] terá de ser representativa da dimensão social do Benfica».

Ou seja, como é muito maior, o Benfica terá de receber muito mais do que os clubes mais pequenos. Como em todos os grandes campeonatos, a centralização dos direitos prevê uma pequena parte (20 por cento) condicionada à capacidade de gerar audiências, calcula-se que o Benfica quererá mais do que isso.

Caso contrário, não contem com ele para cumprir a lei.

No fundo, a SAD encarnada é favorável por princípio à centralização dos direitos, desde que possa manter tudo como está: a distribuição da receita é desequilibrada, mas permite aos grandes comprar reforços de quinze, vinte ou vinte e cinco milhões de euros, que depois colocam a jogar contra o Arouca, o Desp. Chaves e outros adversários de uma galáxia inferior.

À espera de, com esta fórmula, poderem voltar a ser grandes na Europa.

Até que chega uma Real Sociedad desta vida, ou outro clube da classe média-alta de um grande campeonato, e os puxa das nuvens à força.

Claro que a centralização dos direitos não é a poção mágica que vai resolver todos os problemas. Mas este é um caminho que se faz caminhando, passo a passo, e o primeiro passo para tornar o futebol português mais competitivo lá fora é torná-lo mais equilibrado cá dentro. Sobre isso, parece-me que não há dúvidas.

Aliás, vale a pena lembrar, por exemplo, que os Países Baixos em 2017 eram 14º classificados no ranking UEFA. Um ano depois avançaram com várias medidas de repartição da riqueza: centralização do direitos e divisão dos prémios da UEFA por todos os clubes do campeonato.

Ou seja, as equipas que estão na Liga dos Campeões ou na Liga Europa partilham cinco por cento dos ganhos com prémios e cinco por cento dos ganhos com transmissões televisivas por todos os clubes da Liga Neerlandesa. Desde então, curiosamente, o país subiu do 14º ao 5º lugar do ranking, e esta temporada ainda não parou de ganhar vantagem sobre Portugal.

Alguém imagina isto ser possível em Portugal?

PS. Curiosamente, vale a pena lembrar que o Sporting já disse que também é favorável à centralização dos direitos, mas com a premissa de não receber menos do que está a receber agora. Caso contrário, imagina-se, nada feito. Curiosamente também, perdeu em casa com a Atalanta: uma equipa da classe média-alta italiana.

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