Um apelo repetido 12 vezes por Mesquita Nunes e um café com Santana Lopes interrompido por um professor. Montenegro aposta nos chateados para convencer os indecisos

3 mar, 20:45
Montenegro Campanha

Adolfo Mesquita Nunes e Santana Lopes foram os grandes destaques do dia de contrataque da Aliança Democrática ao discurso de António Costa. Os dois desfiliaram-se do PSD e do CDS em choque com as antigas lideranças, mas têm vindo a reaproximar-se. “O mundo está tão estranho”, brincou o antigo primeiro-ministro

Num dia com muito pouca rua - literalmente alguns metros, Luís Montenegro trouxe os holofotes da caravana da Aliança Democrática para Santana Lopes e Adolfo Mesquita Nunes. Ambos rasgaram os respectivos cartões partidários durante os tempos de Rui Rio e de Francisco Rodrigues dos Santos, mas nos últimos meses têm vindo a aproximar-se do PSD e do CDS e este domingo - dia em que muitos portugueses já começaram a votar antecipadamente - foram eles que lideraram o contrataque ao discurso de António Costa e deram novo fôlego à luta pelos indecisos. 

Primeiro, foi a vez de Santana Lopes. O autarca da Figueira da Foz tinha combinado há duas semanas com o líder social-democrata entrar na campanha às 11:00 horas, e foi mais pontual do que Montenegro. “É o meu dever como bom anfitrião”, referiu à chegada ao mesmo tempo que muitos militantes e dirigentes sociais-democratas corriam para acolher o ex-primeiro-ministro que já está com pé e meio dentro do PSD - cinco anos depois de “irrevogavelmente” se desfiliar do partido por se sentir impedido de “fazer vingar ideias e propostas”.

“As pessoas sabem onde está o meu coração”, disse rodeado pela comitiva da Aliança Democrática, explicando que só ainda não recuperou o seu cartão de militante social-democrata, porque foi eleito para a Câmara Municipal como independente. “Mesmo que tomasse essa decisão, não o poderia fazer agora porque perderia o mandato, é o que a maioria dos juristas diz”, salientou, apontando que daqui a um ano e meio, “se tudo correr bem”, irá voltar - “o mundo está tão estranho”.

O antigo ministro Miguel Poiares Maduro foi um dos que veio agradecer a presença de Santana Lopes. À CNN Portugal, sublinha que a presença dele na campanha revela “a capacidade de agregação da Aliança Democrática” que tem vindo a ser “alvo de conspirações e fantasmas por parte da campanha do Partido Socialista”. “Eles têm uma campanha mais acente no medo do que na esperança, e isso vai ser decisivo para os indecisos”.

Enquanto Santana Lopes foi entrando para dentro da pastelaria Relógio - e tratar de pagar antecipadamente o café a Montenegro e Nuno Melo, o líder da AD acabou por ficar retido numa conversa com um professor de educação física da Figueira da Foz. João Rodrigues, 40 anos. “Hoje é um dia muito importante nas nossas vidas, eu hoje vou votar, e sinto que a escola pública esteve durante este mês a apelar para ser ouvida e foi esquecida”. 

“Nós temos feito esse esforço, admito que possamos ainda mais”, respondeu-lhe Montenegro, antes de o professor lhe perguntar, para alguma impaciência da sua comitiva, porque haveria de votar na Aliança Democrática. Montenegro tinha a resposta pronta: “Valorização da carreira docente, atração e retenção de professores e valorização de disciplinas nucleares, olhar para a escola e recuperar o tempo perdido desde a pandemia, e ainda um projeto ambicioso que é o acesso gratuito universal dos 0 aos 6 anos à creche e ao pré-escolar”. 

Quando Nuno Melo e Montenegro entraram na pastelaria, o presidente do CDS partiu rapidamente para o elogio: “É uma grande vantagem ter um líder assim na campanha”, mas Santana Lopes procurou responder com humildade: “Não diga isso”. Já Montenegro tratou de explicar ao ex-primeiro-ministro um dos seus grandes chavões durante a campanha - o de não aceitar viver num país onde quem trabalha chega ao fim do mês com menos dinheiro do que quem não trabalha. “O que queremos dar um suplemento às pessoas que recebem prestações sociais para que, quando cheguem ao mercado de trabalho, passem a ter um rendimento maior do que ganhavam em subsídios”. “É uma medida que já se faz lá fora”. 

Depois desse primeiro encontro, Santana Lopes saiu porta fora e tentou vingar-se das palavras que António Costa lhe dirigiu no dia anterior, servindo-se da sua inscrição para uma pós-graduação na Universidade Católica de Lisboa. “Há quem ponha os filhos em escola privada, defendendo a escola pública. E há quem saia de primeiro-ministro e vá fazer pós-graduações em universidades privadas quando são defensores do ensino público”, atirou antes de abandonar a caravana, alguns metros mais à frente do café onde entrou com Montenegro.

Montenegro, Melo e Santana Lopes bebem café na Figueira da Foz/ LUSA

Com a campanha a entrar na fase do mata-mata, Montenegro recuperou também Adolfo Mesquita Nunes, que nas últimas legislativas saiu em defesa do voto na Iniciativa Liberal, para discursar num almoço-comício em Coimbra. Em resposta, o antigo secretário de Estado do Turismo, que se desfiliou em choque frontal com o CDS-PP em 2018, dedicou a maior parte do seu tempo a repetir um apelo a que o voto de protesto seja aproveitado na Aliança Democrática. “Nenhum voto de protesto consegue garantir que nos vamos livrar do PS”, afirmou, sublinhando que “quem não está satisfeito não pode premiar quem governou o país durante mais de 20 anos e 30 anos”.

No ginásio de uma escola secundária, Mesquita Nunes teve Assunção Cristas na fila da frente a aplaudi-lo enquanto repetia a mesma súplica aos indecisos 12 vezes - “A AD tem de ganhar, tem de ficar em primeiro lugar”. Se isso não acontecer, dramatizou “o que nos espera são mais 4 anos de um regime socialista muito mais vincado e que sempre que foi testado acabou na fome, miséria e pobreza”. 

Na mesma linha do discurso de Durão Barroso, o independente pediu que os eleitores avaliem bem a possibilidade de uma reedição da geringonça, mas com maior força do PCP e do Bloco de Esquerda. “Olhem para o mundo, querem mesmo apostar em partidos que se associam a aliados de Putin? Acham mesmo que é desse tipo de partidos que precisamos? Se queremos um ocidente forte contar as aspirações russas a AD tem que ganhar”, sustentou. 

Adolfo Mesquita Nunes discursa num almoço-comício em Coimbra

AD tenta encostar à parede Pedro Nuno Santos com história "arrepiante"

O dia de campanha teve duplo comício. Para além de Coimbra, Luís Montenegro e Nuno Melo regressaram a Viseu para reforçar o objetivo de reconquistarem o território das maiorias absolutas de Cavaco Silva que foi perdido por Rui Rio. 

Perante um auditório de 1.200 pessoas, Nuno Melo centrou o seu discurso num ataque a António Costa, sublinhando que o comício do primeiro-ministro demissionário encheu “para ouvir os Calema” - que tocaram naquela noite. E contornou o apelo de Costa de que o jogo da governação do PS ficou parada aos 40 minutos. “Não, o jogo acabou porque António Costa levou a bola e saiu do campo pela porta pequena, acabou porque a equipa de António Costa já não conseguia marcar mais golos”.

Melo lembrou depois o encontro que teve com Santana Lopes durante a manhã para sublinhar que tem “orgulho em todos os ministros de todas as AD”. “Gostava de ouvir Pedro Nuno Santos a dizer que tem esse mesmo orgulho”.

Montenegro e António Leitão Amaro num comício em Viseu

Já Montenegro dedicou grande parte do seu tempo a contar um encontro “arrepiante” que teve com uma senhora - da qual não se recorda o nome - na Feira de S. Mateus. “Estava a chorar, porque se tinha aposentado há pouco tempo e tinha uma mágoa enorme por o filho ter decidido naquele dia ir trabalhar para o estrangeiro” e disse-lhe “espero que faça alguma coisa para as mães de Portugal não passem por aquilo que eu estou a passar”.

“Quando aquela mãe me abraçou e me transmitiu essa mensagem de esperança, eu fiquei ainda mais convencido para dizer a todas as mães e avós que vamos mesmo agarrar este país e o potencial que cada um tem”.

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