Ano Novo no crédito à habitação. Ainda não são as notícias desejadas, mas subidas da prestação estão prestes a chegar ao fim

29 dez 2023, 07:00
Lisboa

Em janeiro a prestação da casa ainda deverá aumentar, mas as subidas já são residuais. Euribor aceleraram queda em dezembro e se movimento se repetir em janeiro, devemos estar no fim da subida das prestações com a casa. Confira o seu caso

O ano de 2023 acaba com as taxas Euribor a recuar de forma significativa e, apesar de essa redução não ser ainda suficiente para que em janeiro se sinta uma queda na prestação a pagar ao banco, a subida que se irá registar deverá ser muito pouco expressiva, não chegando nalguns casos a um euro.

A expectativa que existe nos mercados é de que o Banco Central Europeu (BCE) já terminou o ciclo de subida de taxas de juro e que poderá mesmo vir a descer taxas antes do esperado, ou seja, no segundo trimestre do próximo ano. E mesmo depois de na reunião do BCE do passado dia 14 a líder da autoridade monetária, Christine Lagarde, ter reafirmado que uma descida das taxas de juro ainda não entrava nas discussões do conselho de governadores e que não se deve baixar a guarda no combate à inflação, a verdade é que o sentimento nos mercados não é esse.

E a prová-lo está o comportamento que as taxas Euribor têm registado. Depois de em novembro a Euribor 6 meses e a Euribor 12 meses terem recuado face a outubro, em dezembro, esta descida não só se repetiu como foi mais expressiva. E também a Euribor 3 meses registou um recuo face a novembro, algo que acontece pela primeira vez nos últimos dois anos.

É neste cenário que os detentores de contratos de crédito à habitação que venham a ser revistos em janeiro ainda deverão ver a sua prestação aumentar, mas em valores bastante mais baixos que os verificados em meses anteriores.

Num crédito de 25 mil euros a 30 anos, por exemplo, a subida da prestação deverá ser inexpressiva, independentemente do indexante. Tendo por base os valores das Euribor em dezembro, e se estivermos perante um contrato a 30 anos, com um spread (margem do banco) de 1%, o aumento da prestação será inferior a um euro, no caso de o indexante ser a Euribor 3 meses ou a Euribor 6 meses e não chegará a oito euros se o indexante for a Euribor 12 meses.

No lado oposto, olhando para um contrato de 150 mil euros, também a 30 anos e também com um spread de 1%, as subidas da prestação a pagar em janeiro podem variar entre cerca de dois euros, se for indexado à Euribor 3 meses, perto de quatro euros, se estiver indexado à Euribor 6 meses ou os 45,6 euros no caso da Euribor 12 meses. Neste último caso a subida é maior uma vez que a comparação é feita com uma revisão realizada há um ano, altura em que o percurso de subida das taxas de juro ainda estava longe do fim.

Confira o seu caso:

 

Quanto já aumentou e quanto vai subir em janeiro a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

 

EURIBOR A 3 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 106,25  
Abril de 2023 117,47 11,22
Julho de 2023 126,00 8,53
Outubro de 2023 130,61 4,61
Janeiro de2024 130,96 0,35
Aumento face há um ano   24,71

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 212,50  
Abril de 2023 234,94 22,44
Julho de 2023 252,00 17,06
Outubro de 2023 261,21 9,21
Janeiro de2024 261,92 0,71
Aumento face há um ano   49,42

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 318,76  
Abril de 2023 352,42 33,66
Julho de 2023 378,00 25,58
Outubro de 2023 391,82 13,82
Janeiro de2024 392,88 1,06
Aumento face há um ano   74,12

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 425,01  
Abril de 2023 469,89 44,88
Julho de 2023 504,00 34,11
Outubro de 2023 522,42 18,42
Janeiro de2024 523,83 1,41
Aumento face há um ano   98,82

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 531,26  
Abril de 2023 587,36 56,10
Julho de 2023 630,00 42,64
Outubro de 2023 653,03 23,03
Janeiro de 2024 654,79 1,76
Aumento face há um ano   123,53

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 637,51  
Abril de 2023 704,83 67,32
Julho de 2023 756,00 51,17
Outubro de 2023 783,63 27,63
Janeiro de2024 785,57 1,94
Aumento face há um ano   148,06

 

EURIBOR A 6 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 113,1  
Julho de 2023 130,31 17,21
Janeiro de2024 130,91 0,6
Aumento face há um ano   17,8

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 226,2  
Julho de 2023 260,61 34,41
Janeiro de2024 261,82 1,21
Aumento face há um ano   35,6

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 339,3  
Julho de 2023 390,92 51,62
Janeiro de2024 392,72 1,8
Aumento face há um ano   53,4

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 452,4  
Julho de 2023 521,22 68,82
Janeiro de2024 523,63 2,41
Aumento face há um ano   71,2

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 565,5  
Julho de 2023 651,53 86,03
Janeiro de2024 654,54 3,01
Aumento face há um ano   89,0

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 678,6  
Julho de 2023 781,84 103,24
Janeiro de2024 785,45 3,61
Aumento face há um ano   106,9

 

EURIBOR A 12 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 119,61  
Janeiro de2024 127,21  
Aumento face há um ano   7,6

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 239,23  
Janeiro de2024 254,41  
Aumento face há um ano   15,2

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 358,84  
Janeiro de2024 381,62  
Aumento face há um ano   22,8

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 478,45  
Janeiro de2024 508,82  
Aumento face há um ano   30,4

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 598,07  
Janeiro de2024 636,03  
Aumento face há um ano   38,0

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Janeiro de 2023 717,68  
Janeiro de2024 763,24  
Aumento face há um ano   45,6

 

Independentemente do que vier a acontecer em cada caso particular com a prestação a pagar em janeiro, o movimento de descida dos juros parece estar para durar a menos que algo aconteça ao nível da inflação que faça o BCE adotar uma política ainda mais restritiva e, com isso, mudar o sentimento dos mercados.

Se em janeiro, por hipótese, as Euribor recuarem tanto como recuaram em dezembro, então, a maioria dos contratos a rever em fevereiro deverão registar, na sua generalidade, uma diminuição da prestação a pagar ao banco. Aliás, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já havia dito que poderia acontecer que, nalguns casos, as prestações a pagar ao banco já poderiam registar descidas em dezembro e janeiro e que, não havendo “nenhum choque adicional”, seria esta a trajetória ao longo de 2024.

E sendo verdade que o pior parece já ter passado, não é menos verdade que o que se assistiu nos últimos dois anos em matéria de subida das taxas de juro pelo BCE, e consequentemente, nas Euribor, não tem paralelo na história do Euro.

Em 2000 e em 2008 as Euribor atingiram valores mais altos do que os registados este ano. Em ambas as situações as taxas Euribor ultrapassaram os 5%, algo que não aconteceu em 2023, mas o que marca a diferença entre aquelas duas situações do passado e a atual é a velocidade e a amplitude de como tudo aconteceu.

Em 2000, por exemplo, as Euribor passaram de valos em redor dos 2,5% em 1999 para os tais valores acima de 5% no ano seguinte. E em 2008 as Euribor demoraram quase três anos a passar de valores ligeiramente acima dos 2% em 2005, para valores acima de 5,5% em 2008. Já em 2023, as Euribor passaram de valores negativos em março de 2022 para taxas acima de 4% em setembro deste ano.

O resultado desta subida foi também uma subida explosiva nas prestações de crédito à habitação. Usando o mesmo exemplo de um contrato de 150 mil euros a 30 anos, com um indexante de 1%, a prestação a pagar ao banco chegou a aumentar mais de 70% no espaço de dois anos. Num contrato nestas condições, indexado à Euribor 3 meses, por exemplo, a prestação passou de cerca de 440 euros em janeiro de 2022 para mais de 760 euros em janeiro do próximo ano, uma subida de mais de 320 euros. O mesmo aconteceu com os contratos indexados à Euribor 6 meses ou 12 meses, com subidas de 71% e 65%, respetivamente.

A expetativa que existe atualmente na generalidade dos analistas e economistas é que as taxas continuem a descer, mas não para patamares tão baixos como os que se verificaram entre 2012 e 2022 em que, na maioria do tempo as taxas Euribor estiveram negativas ou perto de zero e nunca, neste período ultrapassaram um valor de 1%.

 

NOTA 1 | O que são as taxas Euribor

Euribor é a abreviatura de Euro Interbank Offered Rate. As taxas Euribor baseiam-se nas taxas de juro que um conjunto de bancos europeus está disposto a pagar para emprestar dinheiro uns aos outros. No cálculo, os 15% mais altos e mais baixos de todas as cotações recolhidas são eliminados. As restantes taxas são calculadas como média e arredondadas a três casas decimais. O valor das taxas Euribor é determinado e publicado diariamente. Existem cinco taxas Euribor diferentes, todas com diferentes maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses).

 

NOTA 2 | O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,50%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 4%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,75%.

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