"Uma calamidade de proporções épicas": teme-se 20 mil mortos - e a ONU garante que "podíamos ter evitado a maioria dessas mortes". Atenção à Líbia

14 set 2023, 16:02

Não há pessoas suficientes sequer para retirar os cadáveres dos escombros causados por uma tempestade

Entre 18 mil e 20 mil pessoas podem ter morrido na Líbia devido às cheias que afetam gravemente o país desde o início da semana. A estimativa foi avançada pelo autarca de Derna, Abdulmenam Al-Ghaithi, citado pela estação televisiva saudita Al Arabiya, depois uma espécie de tsunami ter rompido duas barragens e derrubado quatro pontes no domingo enquanto a população dormia.

O autarca explica que o cálculo foi realizado com base no número de comunidades destruídas pelas inundações e que seria necessária uma grande quantidade de pessoas para retirar os corpos dos escombros. Na cidade portuária com cerca de 100 mil habitantes, e a mais atingida na Líbia, são enterradas milhares de pessoas em valas comuns à medida que equipas de resgate vão chegando. 

A Organização das Nações Unidas chama-lhe "uma calamidade de proporções épicas", mas questiona se o dramático resultado não "podia ter sido evitado". É que a Líbia, embora seja um dos países mais prósperos do continente africano, tem vindo a sofrer com anos de "tumultos e ilegalidades" causados por grupos armados e tem sido afetada por uma crise política - tudo isto deixou o país mal preparado para lidar com catástrofes naturais desta dimensão. 

A BBC informa que um ministro de Derna, por exemplo, admitiu que uma das barragens rompidas não era mantida "há algum tempo", fruto do pouco investimento na cidade durante décadas. 

Numa conferência de imprensa em Genebra, esta quinta-feira, o secretário-geral da Organização Meteorológica da ONU (OMM), Petteri Taalas, disse aos jornalistas que o país podia "ter emitido avisos". "As forças de gestão de emergência teriam sido capazes de realizar a evacuação das localidades e podíamos ter evitado a maioria das vítimas humanas", sugere Taalas, citado pela CNN internacional. 

"É claro que não podemos evitar totalmente as perdas económicas, mas também podíamos ter minimizado essas perdas se tivéssemos serviços adequados em funcionamento", acrescentou Petteri Taalas. Disse ainda que a OMM tentou interagir com as autoridades líbias para melhorar estes mecanismos mas, como a "situação de segurança no país é tão difícil, é difícil chegar lá".

Sabe-se que há pelo menos 30 mil pessoas desalojadas na cidade de Derna e ainda mais de seis mil em zonas como Benghazi.

A ajuda internacional tem chegado de países como a Turquia, os Emirados Árabes Unidos e o vizinho Egito, que decretou três dias de luto nacional. França também vai enviar um hospital de campanha e 50 pessoas, entre pessoal civil e militar, para atender até 500 pessoas por dia.

Esta quarta-feira, a CNN Portugal divulgou alguns relatos de perda e de sobrevivência, contados à agência Reuters por habitantes locais. 

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