“Vim ver os noivos, o Goucha e o Marcelo”. Foi assim o casamento da filha de Duarte Pio de Bragança

Lina Santos , Com Mariana Gonçalves
7 out 2023, 22:28

A república atrasou o casamento de Maria Francisca Bragança com Duarte de Sousa Araújo Martins por causa de um compromisso matinal de Marcelo Rebelo de Sousa e para alguns o verdadeiro rei era o apresentador Manuel Luís Goucha. Para os convidados, este “foi, sobretudo, um casamento de família”. 

Já com o copo de champanhe na mão e ar descontraído, Afonso de Bragança, primogénito de Duarte Pio e Isabel de Herédia e putativo herdeiro ao trono, foi um dos mais solicitados no cocktail após a cerimónia de casamento da irmã, Maria Francisca, nos claustros do Palácio de Mafra. “Não foi nada como eu tinha pensado”. Pausa dramática. “Foi muito melhor”, disse à TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal)

A cerimónia religiosa - o protocolo, as regras, a missa - tinham ficado para trás e para Afonso de Bragança os  momentos mais emocionantes estavam escolhidos: os votos e aquele em que a mãe levantou o véu da irmã e deixou ver o sorriso. 

O casamento da irmã aumenta a pressão para o dele? Afonso admite que sim. “Rezo para encontrar uma boa mulher, tenho a minha família e irmãos a apoiar-me e tenho a minha irmã que já se casou”. 

Às 11.30, os pendões da causa monárquica e com o monograma de Maria Francisca Bragança e Duarte de Sousa Araújo, o aparato televisivo e o stand da causa monárquica, com merchandising do casamento à venda, deixavam perceber que o dia ia ser diferente do habitual. O palácio esteve fechado ao público este sábado, mas a bandeira de Portugal manteve-se hasteada. 

Dentro da basílica, ultimavam-se as indicações aos jovens voluntários que foram sentando os convidados e questões protocolares. A decoração era pouca, mas especial - da casa da fazenda do Palácio Nacional de Mafra, onde se guardam todos os têxteis, vieram os ornamentos da época de D. João V. 

Cá fora, o movimento à hora do casamento era muito maior do que o habitual e, num dia particularmente quente, as águas escasseavam. Um número idêntico ao que estava na igreja acotovelavam-se junto às grades que ladeavam a passadeira vermelha para ver os momentos-chave. Primeiro, a chegada da noiva de caleche de braço dado com o pai, vendo pela primeira vez o vestido de Luzia Nascimento. Depois, quando os noivos, já casados, cumprimentaram a população. "Viva à noiva!", “viva a rainha!”, “Real, real, real, viva Portugal”. Uns quantos agitavam bandeiras monárquicas. 

Ana e Inês, mãe e filha, preferiram ficar mais perto da chegada dos convidados. “Os reis de Espanha vêm?”, pergunta a mãe. Para a filha, a entrar na adolescência, não era o mais importante. “Quero ver os noivos, o Goucha e o Marcelo”, dizia, referindo-se à emissão em direto. 

“Um casamento de família”

Se bem que este tenha sido o primeiro casamento de um elemento da putativa família real portuguesa em 28 anos, e uma prova de vida para os apoiantes de um regime que desapareceu há 113 anos de Portugal, esta tarde sábado, em Mafra, entre os convidados imperou uma ideia - este casamento celebra antes de mais a História de Portugal, uma história ligada à monarquia por quase 800 anos. ‘’Não há monarquia nem república, é a celebração do amor. Esta é uma família muito dedicada que devemos saudar’’, disse um dos convidados à TVI. Podia também fazer suas as palavras do alemão Cajetan Toerring-Jettenbach, um dos primos de Duarte de Bragança que veio expressamente para o casamento. “Este é, sobretudo, um casamento de família”. 

“Podemos estar longe, mas partilhamos os mesmos valores básicos e é sempre bom estarmos juntos, ainda mais num sítio fantástico. A música foi fantástica”, disse. Antonia Toerring-Jettenbach, irmã de Cajetan, junta-se à conversa e enquanto ele é requisitado por Afonso de Bragança, explica que as famílias estão unidas por laços de sangue (no seu caso, a trisavó era infanta de Portugal) e de convívio. “Estamos em mais do que casamentos”, confidencia. E as crianças, seus filhos, já exerceram funções como meninos das alianças mais do que uma vez. “Já sabem que, com isso, vem sempre bolo e chocolate”. Os descendentes de D. Miguel de Bragança estão em Portugal mas também na Alemanha, Áustria, Brasil…  

A república atrasou a família real

Na basílica, as famílias e altos representantes tinham lugar reservado nas primeiras filas, tal como os políticos (Durão Barroso, Santana Lopes, Paulo Portas, Passos Coelho...), a maioria espalhou-se pela nave central e pelas capelas, emoldurado pelo conjunto de estátuas, e seguindo a cerimónia através de ecrãs. Chegaram uma hora antes da cerimónia, munidos dos telefones preparados para mostrar o QR Code. Às 13.00 começou o desfile de fraques, uniformes e casacos escuros (para eles), vestidos curtos e chapéus (para elas). Rosa e roxo foi uma das combinações da tarde. 

A cerimónia foi celebrada pelo cardeal Manuel Clemente (e com Américo Aguiar também presente) e começou 20 minutos mais tarde, devido a uma incompatibilidade de agenda entre a república e a monarquia.

Os Bragança tiveram de esperar por Marcelo Rebelo de Sousa, que avisou do atraso devido a compromissos oficiais pela manhã. Antigo presidente da Casa de Bragança, o Presidente da República foi convidado na qualidade de amigo da família e o seu nome à direita da família na igreja era o único que não estava assinalado com o respetivo cartão branco com o monograma do casal no respetivo lugar. 

A noiva entrou de braço dado com o pai, seguindo a tradição, numa caleche, ao som do carrilhão. “Está nervosa?”, quis saber o padre. “Nada!”. 

Afonso de Bragança diz à TVI que a calma da irmã se ficou a dever a “muita preparação”, mas também garante que “ela é por natureza muito descontraída, sente-se muito à vontade entre muitas pessoas”.  

Finda a celebração, os noivos saíram ao terreiro D. João V para cortar o bolo e cumprimentar a população. E depois do cocktail, seguiram com um grupo de cerca de 400 para Sintra para um jantar de smoking. Os amigos dos noivos foram convidados para se juntar à festa a partir das 23.30. “Quem conhece a Chica sabe que ela está desejosa desse momento para dançar”, contaram à TVI Notícias Bernardo Alvim, amigo de Chica, e uma das madrinhas da noiva, sua prima direita. 

A festa termina este domingo com um brunch para um grupo ainda mais restrito, de cerca de 200 pessoas.

Os noivos vão viver para Londres no início de 2024. Ele seguirá a sua carreira como advogado, ela ocupar-se-á do prémio e associação Infanta Maria Francisca de Bragança.

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