Número de cancros causados por fatores de risco aumentou 20% em apenas 10 anos, forçando os especialistas a chamarem a atenção para os comportamentos das pessoas
Cerca de metade das mortes ocorridas por cancro em todo o mundo são causadas por fatores de risco que podem ser evitados, incluindo os três mais comuns: o tabaco, o álcool e um índice de massa corporal elevado, ligado à obesidade. A conclusão surge num novo estudo publicado esta quinta-feira pela revista The Lancet, que avança que 44,4% de todas as mortes relacionadas com cancros se deveram a fatores de risco que podem ser prevenidos. Na prática, o que dizem os especialistas é que quase metade dos cancros podem ser evitados através de melhores comportamentos. A mesma investigação aponta ainda que 42% dos anos de vida saudáveis podem ser perdidos pela mesma razão.
O diretor do Instituto para Métricas Médicas e Avaliação da Universidade de Washington refere que “este estudo representa o maior esforço até à data para determinar o peso dos fatores de risco no cancro a nível global”. Chris Murray, que foi um dos responsáveis pela investigação, refere que esta descoberta pode vir a mudar a forma como se veem os fatores de risco a nível mundial.
O projeto, que foi financiado pela Fundação Bill e Melinda Gantes, analisou a relação entre os fatores de risco e o aparecimento de cancro, analisando dados globais de doentes que morreram ou foram afetados pela doença, entre 2010 e 2019, em 204 países. Na investigação, foram incluídos 23 tipos de cancro e 34 fatores de risco, sendo que as formas mais agressivas da doença foram detetadas na traqueia, nos brônquios e nos pulmões, tanto em homens como em mulheres.
Os investigadores também descobriram que os cancros induzidos por fatores de risco estão a subir: 20,4% desde 2010 até 2019, ano em que Europa Central, Este Asiático, América do Norte, América do Sul e Europa Ocidental eram as regiões que lideravam as taxas de mortalidade.
“Estes resultados destacam que uma proporção substancial dos cancros tem potencial para prevenção através de intervenções dirigidas à redução da exposição aos fatores de risco conhecidos”, explica o texto, que relembra, ainda assim, que mais de metade dos cancros não podem ser evitados através do controlo desses fatores, uma vez que têm outras causas, como a genética. Por isso mesmo, os investigadores pedem “estratégias de controlo que incluam esforços para apoiar um diagnóstico precoce e um tratamento efetivo” desses casos.
O diretor científico da Sociedade Americana de Cancro refere que este estudo “delineia claramente” a importância da prevenção em fase primária da doença. Sobre os fatores de risco, e falando à CNN, William Dahut destaca o “aumento dos cancros relacionados com obesidade”, situação para a qual pede mais atenção. “Mudar os comportamentos pode levar a salvar milhões de vidas”, acrescenta o especialista, que também vinca uma preocupação com “o impacto contínuo do tabaco”.