Ricardo: «Gostava de ser campeão»

7 fev 2001, 15:04

Imbatível há 446 minutos e a pensar na Selecção A custo, o guarda-redes pronunciou a palavra que raramente se escuta no Bessa. Driblou todas as questões até confessar o desejo de ser campeão, mas nada mais acrescentaria ao sonho que todos os jogadores partilham desde os primeiros pontapés. Até mesmo os que não vestem a camisola do líder.

Ricardo aplica-se, fixa o tecto e faz contas de cabeça. Ao fim de um par de segundos, pouco mais, anuncia a desistência. Não é capaz de precisar. Com um sorriso embaraçado, orgulha-se de não sofrer golos «há algum tempo», condição que interpreta como sinal de invencibilidade. «É um bom sintoma», que não chega a merecer o cuidado da quantificação. Na verdade, Ricardo não sabe se alguma vez fez melhor. 

A sensação agrada-lhe, confessa. E dispensa-o das somas mais simples, enquanto crê tratar-se do reflexo do «bom trabalho de todos». Ricardo não sabe, mas não sofre golos há 446 minutos. Abílio foi o último a obrigá-lo a recuperar a bola nas redes, na figura cabisbaixa que desenha os piores pesadelos de qualquer guarda-redes. Justamente no quarto minuto do jogo das Aves, disputado há um mês. Nada, contudo, que se compare ao «record» de Vítor Baía, imbatível ao longo de 1170 minutos. Nada que o preocupe, também.  

Desconfortável, buscando posição diante de uma plateia de curiosos, que lhe queriam conhecer as sensações, Ricardo assumia, novamente, a intenção, cada vez mais legitimada, de vestir a camisola da Selecção. Quem sabe se no final do mês, com Andorra por adversário... «Penso nisso», confessou. «É um objectivo que tenho em mente. Era bom que eu fizesse parte desse lote». Sem alternativa, dispõe-se a aguardar e a sonhar. 

Por ele, Ricardo jogaria sempre e, a custo, conforma-se com a rendição temporária de William, que guardará, na sua vez, a baliza do Boavista nos quartos-de-final da Taça. «Acho bem», resigna-se. «O treinador optou pela rotatividade». Ao final da tarde, conhecerá o adversário dos quartos-de-final, desde que não persista o empate. Moreirense ou Estoril é-lhe «indiferente». Acredita que qualquer um deles «causará dificuldades» bastantes. Mas, por questões de proximidade, preferia o Moreirense, para evitar nova viagem ao Sul. 

Com o campeonato a fazer assunto, Ricardo mede criteriosamente as palavras. Não pronuncia uma vez o termo «candidato» e morde-se para não falar no «título». Defende-se com o muito que falta jogar e o melhor que se lhe consegue arrancar não passa de um sonho formulado ainda em menino. «É claro que gostava de ser campeão». Mais não disse, respondendo à pressão com sorrisos e poucas palavras. «Só o desenrolar do campeonato o dirá». O melhor é esperar para ver, porque Ricardo não se rende. Defende e devolve todas as perguntas, sem resultados, sem golos. Desistimos.

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