Uma investigação da agência de notícias Reuters revela que o antigo presidente norte-americano esteve muito perto de cair numa armadilha da Al Qaeda. Passados quase 30 anos, ainda muito pouco se sabe sobre o plano, que acabou por sair frustrado
Era o dia 23 de novembro de 1996. O presidente norte-americano, Bill Clinton, seguia a bordo do Air Force One, acompanhado da primeira-dama Hillary Clinton, em direção a Manila, capital das Filipinas, para participar na cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), quando os serviços secretos norte-americanos receberam informações de que tinha sido montado um dispositivo explosivo no caminho que iriam percorrer desde o heliporto para o local da cimeira.
Numa reação automática, os pilotos alteraram a viagem para uma rota alternativa em direção ao hotel dos Clinton, frustrando assim uma suposta tentativa da Al Qaeda de assassinar o presidente dos EUA, minutos após a sua chegada para aquela cimeira em Manila.
Enquanto a comitiva seguia pelo caminho alternativo, agentes de segurança filipinos descobriram uma bomba numa ponte onde estava prevista a passagem de Bill Clinton, bem como um SUV abandonado, onde se encontravam armas AK-47.
Quase 30 anos depois, ainda se sabe muito pouco sobre esta tentativa de assassinato de Bill Clinton. Agora, oito ex-agentes dos serviços secretos norte-americanos - sete dos quais estavam em Manila - revelam à Reuters mais pormenores deste mistério, que parece ter passado ao da história, não fosse mencionado brevemente em alguns livros de 2010 e 2019, como refere a agência de notícias.
O mistério é de tal forma que até os próprios ex-agentes secretos têm dúvidas sobre o que aconteceu. "Sempre me questionei porque não fiquei em Manila para monitorizar qualquer investigação. Em vez disso, levaram-me de avião um dia depois da partida de Clinton", recorda Gregory Glod, principal agente dos serviços em Manila e um dos sete agentes que falou com a Reuters pela primeira vez sobre este incidente.
Segundo Gregory Gold, os serviços secretos dos EUA concluíram posteriormente que o plano foi montado por agentes da Al-Qaeda e do grupo Aba Sayyaf (um dos grupos de separastistas fundamentalistas islâmicos, sediados no sul das Filipinas) a mando de Osama bin Laden. A Reuters não conseguiu confirmar esta informação junto de fonte oficial.
Ainda assim, quatro dos antigos agentes dos serviços secretos que falaram com a Reuters recordam que Ramzi Yousef – o homem por detrás do primeiro ataque da Al-Qaeda ao World Trade Center, em 1993, e sobrinho do homem que planeou o 11 de Setembro, Khalid Sheikh Mohammed, que treinou militantes de Abu Sayyaf – estava em Manila dias antes da visita de Clinton, em 1994.
Três dos antigos agentes dos serviços secretos admitiram à Reuters que acreditam que Yousef (que está a cumprir pena de prisão perpétua nos EUA) estava a preparar-se para o ataque de 1996, lembrando que a data da cimeira da APEC já era conhecida no final de 1994.
"Eu sabia que ele [Yousef] era uma espécie de equipa avançada" no terreno, admitiu Gregory Glod.
A agência de notícias, que diz não ter encontrado nenhuma evidência, quer da parte do governo dos EUA ou dos serviços secretos, sobre uma investigação a um atentado contra Bill Clinton, diz ter tentado entrar em contacto por diversas vezes com o antigo presidente norte-americano, inclusive através da Fundação Clinton, mas sem sucesso.
Leon Panetta, ex-diretor da CIA que trabalhava na altura como chefe do gabinete de Bill Clinton, disse à Reuters não ter conhecimento do incidente, mas deixou claro que qualquer tentativa de assassinato de um presidente teria de ser alvo de investigação. “Como ex-chefe de gabinete, teria todo o interesse em tentar descobrir se alguém deixou essa informação de lado e não a trouxe à atenção das pessoas que deveriam estar cientes de que algo assim aconteceu", assumiu.
Quatro ex-funcionários norte-americanos, incluindo o embaixador em Manila na altura, Thomas Hubbard, confirmaram à Reuters a tentativa de assassinato do ex-presidente, mas disseram que também não tinham conhecimento de qualquer investigação por parte dos EUA.
A ameaça representada pela Al-Qaeda foi apenas um dos episódios que a equipa avançada de segurança dos serviços secretos teve de enfrentar na altura, recordam três dos agentes que falaram com a Reuters, indicando que a polícia descobriu uma bomba no aeroporto de Manila e outra no centro de conferências da cimeira em Subic Bay vários dias antes da chegada dos Clinton a Manila.