Reuters revela plano da Al-Qaeda para matar Bill Clinton que passou ao lado da história

23 mar, 15:42
Bill Clinton na cimeira da APEC, em Manila, Filipinas (AP)

Uma investigação da agência de notícias Reuters revela que o antigo presidente norte-americano esteve muito perto de cair numa armadilha da Al Qaeda. Passados quase 30 anos, ainda muito pouco se sabe sobre o plano, que acabou por sair frustrado

Era o dia 23 de novembro de 1996. O presidente norte-americano, Bill Clinton, seguia a bordo do Air Force One, acompanhado da primeira-dama Hillary Clinton, em direção a Manila, capital das Filipinas, para participar na cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), quando os serviços secretos norte-americanos receberam informações de que tinha sido montado um dispositivo explosivo no caminho que iriam percorrer desde o heliporto para o local da cimeira.

Numa reação automática, os pilotos alteraram a viagem para uma rota alternativa em direção ao hotel dos Clinton, frustrando assim uma suposta tentativa da Al Qaeda de assassinar o presidente dos EUA, minutos após a sua chegada para aquela cimeira em Manila.

Enquanto a comitiva seguia pelo caminho alternativo, agentes de segurança filipinos descobriram uma bomba numa ponte onde estava prevista a passagem de Bill Clinton, bem como um SUV abandonado, onde se encontravam armas AK-47.

Quase 30 anos depois, ainda se sabe muito pouco sobre esta tentativa de assassinato de Bill Clinton. Agora, oito ex-agentes dos serviços secretos norte-americanos - sete dos quais estavam em Manila - revelam à Reuters mais pormenores deste mistério, que parece ter passado ao da história, não fosse mencionado brevemente em alguns livros de 2010 e 2019, como refere a agência de notícias.

O mistério é de tal forma que até os próprios ex-agentes secretos têm dúvidas sobre o que aconteceu. "Sempre me questionei porque não fiquei em Manila para monitorizar qualquer investigação. Em vez disso, levaram-me de avião um dia depois da partida de Clinton", recorda Gregory Glod, principal agente dos serviços em Manila e um dos sete agentes que falou com a Reuters pela primeira vez sobre este incidente.

Segundo Gregory Gold, os serviços secretos dos EUA concluíram posteriormente que o plano foi montado por agentes da Al-Qaeda e do grupo Aba Sayyaf (um dos grupos de separastistas fundamentalistas islâmicos, sediados no sul das Filipinas) a mando de Osama bin Laden. A Reuters não conseguiu confirmar esta informação junto de fonte oficial.

Ainda assim, quatro dos antigos agentes dos serviços secretos que falaram com a Reuters recordam que Ramzi Yousef – o homem por detrás do primeiro ataque da Al-Qaeda ao World Trade Center, em 1993, e sobrinho do homem que planeou o 11 de Setembro, Khalid Sheikh Mohammed, que treinou militantes de Abu Sayyaf – estava em Manila dias antes da visita de Clinton, em 1994.

Três dos antigos agentes dos serviços secretos admitiram à Reuters que acreditam que Yousef (que está a cumprir pena de prisão perpétua nos EUA) estava a preparar-se para o ataque de 1996, lembrando que a data da cimeira da APEC já era conhecida no final de 1994.

"Eu sabia que ele [Yousef] era uma espécie de equipa avançada" no terreno, admitiu Gregory Glod.

Confrontado com estas alegações, o advogado de Yousef, Bernard Kleinman, disse à Reuters que, embora "seja concebível" que Yousef estivesse em Manila em 1994 para delinear o plano do ataque de 1996 contra Bill Clinton, duvidava que o seu cliente o fizesse, descrevendo-o como um homem que se gaba imenso e faz de si "muito, muito mais do que é na realidade".

A agência de notícias, que diz não ter encontrado nenhuma evidência, quer da parte do governo dos EUA ou dos serviços secretos, sobre uma investigação a um atentado contra Bill Clinton, diz ter tentado entrar em contacto por diversas vezes com o antigo presidente norte-americano, inclusive através da Fundação Clinton, mas sem sucesso.

Leon Panetta, ex-diretor da CIA que trabalhava na altura como chefe do gabinete de Bill Clinton, disse à Reuters não ter conhecimento do incidente, mas deixou claro que qualquer tentativa de assassinato de um presidente teria de ser alvo de investigação. “Como ex-chefe de gabinete, teria todo o interesse em tentar descobrir se alguém deixou essa informação de lado e não a trouxe à atenção das pessoas que deveriam estar cientes de que algo assim aconteceu", assumiu.

Quatro ex-funcionários norte-americanos, incluindo o embaixador em Manila na altura, Thomas Hubbard, confirmaram à Reuters a tentativa de assassinato do ex-presidente, mas disseram que também não tinham conhecimento de qualquer investigação por parte dos EUA.

A ameaça representada pela Al-Qaeda foi apenas um dos episódios que a equipa avançada de segurança dos serviços secretos teve de enfrentar na altura, recordam três dos agentes que falaram com a Reuters, indicando que a polícia descobriu uma bomba no aeroporto de Manila e outra no centro de conferências da cimeira em Subic Bay vários dias antes da chegada dos Clinton a Manila.

O Departamento de Estado dos EUA alertou para ameaças contra diplomatas norte-americanos em Manila um dia antes da chegada dos Clinton.
 
Citado pela Reuters, Dennis Pluchinsky, um analista de terrorismo reformado que trabalhou no Departamento de Estado, conta que soube da tentativa de assassinato a Bill Clinton só em 2020, quando pesquisava a história do terrorismo contra os EUA. O analista salienta que, em 1995, Bill Clinton emitiu a Diretiva de Decisão Presidencial 39, na qual o presidente norte-americano se comprometia a "dissuadir, derrotar e responder vigorosamente a todos os ataques terroristas" contra norte-americanos dentro do país ou no estrangeiro, bem como a "prender e processar os responsáveis".
 
Apesar da lei, só em agosto de 1998, depois de 220 terem sido mortas nos atentados bombistas da Al-Qaeda contra as embaixadas dos EUA no Quénia e na Tanzânia, é que Bill Clinton decidiu responder aos ataques, retaliando com mísseis de cruzeiro. Mesmo assim, a história sabe que nem estas retaliações conseguiram impedir Bin Laden de planear novos ataques.

E.U.A.

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