Nem heresia, nem blasfémia. Vaticano tenta acalmar bispos após autorizar bênção de casais do mesmo sexo

4 jan, 12:11
Benção de casais do mesmo sexo (Martin Meissner/AP)

Vaticano reconhece que existem diferentes cenários para a aplicação da mudança, mas sugere que a nova doutrina deve ser seguida sempre que possível

A Igreja Católica garante que “não há espaço para se tomar distância doutrinal” em relação ao anúncio que passou a autorizar a bênção de casais do mesmo sexo.

Um comunicado publicado esta quinta-feira pelo Vaticano dá ainda conta de que esta decisão não consiste numa heresia ou blasfémia, tal como não contraria a Tradição da Igreja.

Esta posição da Igreja Católica surge depois de vários bispos terem reagido negativamente à aprovação da bênção de casais homossexuais. Em Moçambique, por exemplo, os bispos decidiram contrariar o Vaticano.

Ressalva o Vaticano que esta bênção acontece “sem forma litúrgica”, dando espaço e tempo a cada bispo para implementar a mudança, até porque existem diferentes contextos consoante os países.

“Em alguns lugares não existem dificuldades para uma aplicação imediata, em outros há a necessidade de não inovar nada enquanto se toma todo o tempo necessário para a leitura e a interpretação”, escreve o Vaticano, que sublinha que “cada bispo local tem sempre o poder do discernimento”, até porque “conhece” melhor aquelas pessoas.

Ainda assim, e apesar de “a prudência e a atenção ao contexto eclesial e à cultura local” poderem “admitir diversas modalidades de aplicação”, isso não significa “uma negação total ou definitiva deste caminho que é proposto aos sacerdotes”.

“Em diversos países existem fortes questões culturais e até mesmo legais que requerem tempo e estratégias pastorais a longo prazo”, justifica o Vaticano, sabendo-se que ainda há países onde práticas homossexuais são criminalizadas.

“Se existem legislações que condenam à prisão e, em alguns lugares, à tortura e até à morte o simples fato de declarar-se homossexual, entende-se que seria imprudente uma bênção. É evidente que os Bispos não queiram expor as pessoas homossexuais à violência”, continua o comunicado.

Na mesma nota o Vaticano esclarece que, apesar da mudança de doutrina, a Igreja Católica não passou a apoiar a união entre pessoas do mesmo sexo. "Ao dar esta bênção a duas pessoas que juntas se aproximam para implorá-la espontaneamente, não as estamos a consagrar, nem nos estamos a congratular com elas, nem estamos a aprovar o seu modo de união", lê-se, sublinhando o Vaticano que não está em causa nenhuma absolvição.

Apesar disso, conclui o Vaticano, as Conferências Episcopais devem seguir a doutrina sugerida e aprovada pelo Papa Francisco.

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