Christine Lagarde reúne esta quinta-feira o conselho de governadores do BCE. Apesar de os mercados apostarem que as taxas podem começar já a descer no final de março, há muita incerteza e o BCE apenas deverá afastar futuras subidas de taxas. Entretanto, as taxas Euribor estão a cair em dezembro em todos os prazos o que terá efeito nos contratos de crédito à habitação revistos em janeiro. Confira os efeitos
O Banco Central Europeu (BCE) deverá deixar as suas principais taxas diretoras inalteradas na reunião desta quinta-feira, a última de 2023. Esta é a única certeza que parece existir entre economistas e aquilo que os mercados estão a antecipar sobre a evolução futura dos juros. Já quanto aos sinais que Christine Lagarde irá deixar sobre o futuro, as dúvidas também são muitas.
A líder do BCE, Christine Lagarde, tem dito sempre que as decisões do BCE são assentes em dados económicos. E desde a última reunião da autoridade monetária, em outubro, quando o BCE decidiu deixar as taxas inalteradas depois de dez subidas consecutivas, já saíram muitos dados novos.
A inflação de novembro, por exemplo, registou uma quebra significativa, fixando-se em 2,4%, superando as estimativas da generalidade dos analistas. Foi o sétimo mês consecutivo de desaceleração da inflação que está, agora, num valor bem distante dos 10,6% que se registavam em outubro de 2022 ou dos 10,1% de novembro. E se a subida das taxas de juro parece estar a conseguir domar a inflação, também está a ter um efeito nefasto sobre a atividade económica. Já em dezembro, o Eurostat, o órgão estatístico da União Europeia, divulgou os dados do terceiro trimestre relativos ao Produto Interno Bruto, dando conta que a economia recuou 0,1% face ao trimestre anterior, deixando a área do euro à distância de mais um trimestre negativo para entrar oficialmente em recessão técnica.
Dados que levam alguns economistas a defender que é hora de o BCE sinalizar que vai antecipar a descida de taxas de juro porque a inflação está controlada e a economia a ser demasiado castigada. Mas que não são suficientes para convencer outros economistas que argumentam que a desaceleração expressiva da taxa de inflação só aconteceu devido a um efeito base (por ter estado muito alta há um ano), que o efeito da subida das taxas de juro ainda não chegou ao mercado de trabalho e que, assim sendo, este continua a pressionar os salários e, consequentemente, a criar pressões inflacionistas.
Para justificar esta mesma tese, estes economistas lembram que a taxa de desemprego na zona euro se mantém nos 6,5% desde março, apesar da desaceleração da economia, e que os salários negociados na mesma zona euro cresceram 4,69% no terceiro trimestre de 2023, o valor mais alto desde 2005.
Será entre estas duas realidades que Lagarde e restantes membros do conselho de governadores do BCE decidirão o que fazer esta quinta-feira e o que dizer na conferência de imprensa que se segue à reunião de política monetária. Mas a subida de juros, agora, ou no futuro, parece estar mesmo fora da mesa. Isabel Schnabel, um dos membros mais influentes e conservador do BCE, admitiu mesmo à Reuters, na semana passada, que o banco central poderia retirar da mesa novas subidas das taxas de juro.
Entre o fim das subidas de taxas e o momento de início da descida reside, assim, a grande dúvida. Mas há cada vez mais economistas a acreditar que o BCE vai mesmo descer taxas de juro mais cedo do que estava previsto inicialmente.
Uma sondagem feita pela agência Reuters entre 1 e 6 de dezembro junto de 90 economistas dava conta, por exemplo, que todos apontavam para uma manutenção de taxas na reunião desta quinta-feira, mas que mais de metade dos economistas - 51 em 90 - preveem pelo menos um corte nas taxas antes da reunião do Conselho do BCE em julho. Uma mudança em relação a uma sondagem de novembro, em que uma maioria (55%) esperava que as taxas se mantivessem nos níveis atuais, pelo menos até meados de 2024.
Mas nos mercados financeiros o otimismo é ainda maior e antecipa-se que o primeiro corte possa ocorrer em março do próximo ano e que, no conjunto do ano o total de descidas de taxas seja equivalente a um corte de 150 pontos base ou 1,5 pontos percentuais, o que levaria a taxa de depósito do BCE, atualmente em 4% para os 2,5%.
Uma crença que, no entanto, vários analistas contestam. "Prevemos alguns cortes nas taxas de juro para o próximo ano, mas não tão cedo nem tão acentuados como os mercados estão atualmente a prever... continuo a considerar setembro como o cenário de base para o primeiro corte de taxas, mas admito que possam ocorrer em junho ou julho", afirmou Bas van Geffen, economista do Rabobank em declarações à Reuters.
Também Franck Dixmier, Diretor Global de Investimentos em Obrigações, da Allianz Global Investors, numa nota enviada às redações, considerava as expetativas dos mercados de um corte nas taxas de juro já em março como “prematuras.”
O economista Ricardo Amaro, da Oxford Economics, acredita que o BCE irá deixar as taxas de juro inalteradas na reunião de hoje, mas, em entrevista à CNN Portugal, diz acreditar também que no discurso do BCE ainda não haverá indicações de descida de taxas de juro.
NOTA | O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,50%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 4%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,75%.
Hipótese de descida de juros chega ao crédito à habitação
Independentemente das convicções, as taxas de juro que mais diretamente interessa a quem tem crédito à habitação, as taxas Euribor, continuam a cair. Em novembro, a média mensal da Euribor 6 meses e 12 meses, recuou face a outubro e com base nos dados disponíveis de dezembro, estas taxas continuam a cair e mesmo a Euribor 3 meses também já está em queda.
Se os dados das Euribor de dezembro até dia 13 fossem os do mês completo, apesar da queda das Euribor, quem tem contratos de crédito à habitação a ser revistos em janeiro, ainda veria a sua prestação mensal subir face à última revisão, mas os valores de aumento são já muito baixos.
Num contrato de 150 mil euros a 30 anos, indexado à Euribor 6 meses e com um spread de 1%, por exemplo, a subida da prestação seria inferior a 12 euros face à última revisão.
Mas se esta quinta-feira o BCE ou as declarações de Christine Lagarde não disserem nada que interrompa a queda das taxas Euribor, no final do mês a descida de taxas poderá ser ainda maior e ter um efeito ainda mais positivo nos contratos de crédito à habitação que sejam revistos em janeiro.
Confira o seu caso:
Quanto já aumentou e quanto vai subir em janeiro a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1% || Valores das Euribor de dezembro até dia 13
EURIBOR A 3 MESES
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EURIBOR A 6 MESES
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EURIBOR A 12 MESES
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NOTA | O que são as taxas Euribor
Euribor é a abreviatura de Euro Interbank Offered Rate. As taxas Euribor baseiam-se nas taxas de juro que um conjunto de bancos europeus está disposto a pagar para emprestar dinheiro uns aos outros. No cálculo, os 15% mais altos e mais baixos de todas as cotações recolhidas são eliminados. As restantes taxas são calculadas como média e arredondadas a três casas decimais. O valor das taxas Euribor é determinado e publicado diariamente. Existem cinco taxas Euribor diferentes, todas com diferentes maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses).