'Ai, coitadinhos, eles não votam': Augusto Santos Silva é contra a redução da idade de voto e recusa "palavreado paternalista"

6 dez 2022, 19:53
Augusto Santos Silva (António Pedro Santos/ LUSA)

Na perspetiva do presidente da Assembleia da República, o combate à abstenção jovem não passa por baixar a idade mínima de voto

Foi numa entrevista à Rádio Universidade de Coimbra, na segunda-feira, que o presidente da Assembleia da República disse ser contra a redução da idade mínima para votar em Portugal para os 16 anos. Augusto Santos Silva defendeu que os jovens têm de ser proativos, procurar na política propostas que sejam do seu interesse e recusa qualquer "palavreado paternalista". 

"Eu lamento, posso até parecer um bocadinho rude nisto, mas acredito mesmo nisto. Já acreditava quando tinha 18 anos e agora com 66. É aos jovens que compete decidir o futuro e aquele palavreado paternalista de 'ai, coitadinhos, eles não votam, vamos baixar a idade da votação para ver se eles votam mais, vamos permitir o voto eletrónico para ver se votam mais porque assim não têm de sair do ecrã do seu computador para votar', tudo isto é um palavreado demasiado paternalista que não honra o facto de as pessoas aos 18 anos ou aos 19 anos serem seres autónomas e com personalidades formadas e informação." 

No arranque do processo de revisão constitucional, com uma proposta do PSD para baixar a idade mínima para votar, o presidente da Assembleia da República reconhece que existe "uma questão com a participação cívica, política e eleitoral dos jovens" mas, ainda assim, tem "uma grande dificuldade em compreender" essa mesma questão e voltou a criticar os discursos paternalistas.

"Eu detesto paternalismos e, portanto, se fosse jovem detestaria que me dissessem coisas como 'é porque as instituições não te acarinham', 'é porque os partidos não te ligam', 'é porque os políticos não te respeitam'. Isso é uma conversa paternalista que quando eu tinha 16, 17 e 18 anos me irritava profundamente", reforçou, acrescentando ainda: "Isto não são os paizinhos a tratar de vocês, vocês é que têm de agir, participar e encontrar as mensagens políticas que exprimam as perplexidades da vossa geração". 

Santos Silva explicou que a abstenção, apesar de grande, diminui com o avançar da idade e refere que, de todos os estudos que já leu sobre esta matéria, ainda não existe uma "resposta muito clara" sobre se se trata "de um efeito de envelhecimento ou geracional". Mas, aos olhos do presidente do Parlamento, nem tudo é negativo quando se olha para as gerações mais novas e deu um exemplo. 

"Quando olhamos para a participação cívica em geral, e não afunilamos apenas na participação eleitoral, verificamos que nas manifestações, nas petições, nas chamadas novas causas, nas causas ambientais, as causas contra a discriminação, contra as minorias, etc, a participação juvenil é forte e é a mais forte das faixas etárias." 

O presidente da Assembleia da República autoquestinou-se, "vem aí é um eleitorado mais abstencionista do que era o meu e o dos meus pais?", e respondeu à sua própria pergunta, "talvez, é difícil dar uma resposta 100% segura a essa pergunta".

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