Santos Silva indigna-se com vídeo transmitido no site do próprio Parlamento: manda abrir investigação e faz pedido de desculpa seletivo

27 abr 2023, 20:52

Em causa está um vídeo polémico em que o presidente da Assembleia da República aparece ao lado do Presidente da República e do primeiro-ministro

Há um problema sério entre o presidente da Assembleia da República e os partidos que se sentam mais à direita no hemiciclo - tudo devido a um vídeo captado pelas câmaras da ARTV e que Augusto Santos Silva afirma ter sido divulgado de forma ilegal. Certo é que o momento foi transmitido em direto, tendo sido disponibilizado na Internet pelo próprio site do Parlamento, de onde foi entretanto retirado.

No referido vídeo, Augusto Santos Silva aparece ao lado do Presidente da República e do primeiro-ministro, bem como de outras personalidades. Decorre entretanto uma conversa que, em comunicado e mais tarde no próprio Parlamento, Augusto Santos Silva disse ter sido “informal e particular”, lamentando que as imagens e o som tenham sido publicados.

Já no plenário, e antes de dar início à ordem de trabalhos, Augusto Santos Silva foi interpelado pela Iniciativa Liberal e pelo Chega. Os primeiros, representados pelo líder, afirmaram que o vídeo mostra um “conjunto de apreciações” ao partido. Sem querer discutir “acústicas nem semântica”, Rui Rocha reiterou que a Iniciativa Liberal “não aceita lições de integridade de quem esteve anos e anos a fio ao lado de José Sócrates sem pedir desculpa pelo envolvimento”.

“Não aceitamos qualquer tipo de imputação de imaturidade porque não há nada mais imaturo que exercer as funções sem respeito Pelo parlamento e pelos partidos políticos que o integram. É uma falta de respeito aos portugueses, a nós não nos ofende quem quer”, acrescentou, questionando o presidente da Assembleia da República sobre se tem condições para continuar o cargo.

Já o Chega, pela voz do seu líder da bancada parlamentar, falou num episódio “lamentável”, acusando Augusto Santos Silva de uma “tentativa de humilhar dois partidos”. “Estão a tentar humilhar milhares de portugueses que votaram em nós. Passámos do lápis azul para o lápis cor de rosa”, sublinhou Pedro Pinto, comparando a censura do Estado Novo com o símbolo do PS.

Mantendo o tom do comunicado anteriormente divulgado, Augusto Santos Silva acrescentou um pedido de desculpas. Mas não aos partidos. “Tenho um pedido de desculpas a fazer, convicto e veemente: um pedido de desculpas do Parlamento aos representantes dos órgãos de soberania, aos órgãos de soberania e demais personalidades escutadas ilegitimamente, esse pedido de desculpas é devido”, disse, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e outras personalidades presentes no momento.

Num tom claramente agastado, o presidente da Assembleia da República permitiu que Chega e Iniciativa Liberal voltassem a intervir. Da terceira maior força política, Pedro Pinto voltou a repetir as acusações, enquanto os liberais, já pela voz de Rodrigo Saraiva, se limitaram a dizer que não necessitavam de um “porta-voz”, numa clara separação do Chega naquele momento.

Na sequência do caso, e ainda em resposta às intervenções dos partidos, Augusto Santos Silva anunciou a abertura de um processo de averiguações na Assembleia da República. "Eu determinei aos serviços da Assembleia da República a abertura de um processo de averiguação para averiguar em que condições foram recolhidas aquelas imagens, em que condições foi captado aquele som e em que condições foi colocado ao conhecimento público aquele vídeo, para que se saiba quem fez e, sobretudo, quem autorizou", informou.

O presidente da Assembleia da República considerou que as imagens e o som foram captados "em flagrante violação dos direitos e liberdades mais fundamentais das personalidades que foram vítimas desta operação, e o respetivo vídeo foi divulgado".

No vídeo em questão, Augusto Santos Silva surge sorridente a contar o incidente com o Chega na sessão de boas-vindas ao presidente do Brasil no plenário da Assembleia da República, numa roda em que estão também o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o secretário-geral do parlamento, Albino Azevedo Soares, entre outros.

Antes, durante a sessão de boas-vindas ao presidente do Brasil, a Iniciativa Liberal fez-se representar apenas pelo seu líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, deixando os restantes lugares vazios. Por sua vez, os deputados do Chega ergueram cartazes contra Lula da Silva em protesto e, sempre que o seu discurso foi aplaudido bateram com as mãos na bancada.

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