“Contra mobilização” e nova força populista alemã afetam partido de extrema-direita AfD

Agência Lusa , DCT
20 abr, 08:26
Bandeira alemã (Associated Press)

A AfD tem estado envolvida em vários escândalos. Um deles foi causado pela investigação do coletivo de jornalistas independentes Correctiv que deu conta de uma reunião, com a presença de membro da AfD, em que se discutiu a deportação de cidadãos. O mais recente caso envolve um dos seus membros, o número dois da lista para as europeias, Petr Bystron, que está acusado de ter aceitado dinheiro de uma plataforma pró Rússia. 

O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) tem sofrido ligeiras quedas nas sondagens nas últimas semanas que podem ser justificadas pela contra mobilização e por uma nova força política populista, apontam analistas ouvidos pela Lusa.

O partido, que surge em segundo lugar nas sondagens relativas às eleições europeias, e em primeiro lugar nas sondagens nos estados da Saxónia, Brandeburgo e Turíngia, que vão a votos para os seus parlamentos no outono, continua a beneficiar da impopularidade da governação da coligação tripartidária "semáforo" liderada por Olaf Scholz, mas tem perdido alguns pontos.

“Isso deve-se provavelmente menos aos escândalos que envolvem o partido, e mais à formação da coligação Sahra Wagenknecht (BSW). Nos estados federais de leste, o AfD continua a ser, de longe, o partido mais forte, pelo menos nas sondagens”, apontou o politólogo da Universidade de Mainz, Jürgen Falter, investigador nas áreas do extremismo político e xenofobia.

A AfD tem estado envolvida em vários escândalos. Um deles foi causado pela investigação do coletivo de jornalistas independentes Correctiv que deu conta de uma reunião, com a presença de membro da AfD, em que se discutiu a deportação de cidadãos. O mais recente caso envolve um dos seus membros, o número dois da lista para as europeias, Petr Bystron, que está acusado de ter aceitado dinheiro de uma plataforma pró Rússia. 

“Tal como os partidos populistas de direita radical noutros países, a AfD beneficia tanto dos protestos como das atitudes dos eleitores que estão de acordo com a sua ideologia. Isto inclui opiniões positivas sobre a Rússia. Por conseguinte, as reações a este escândalo são, na sua maioria, limitadas aos eleitores que não pertencem ao AfD”, considerou cientista político Marcel Lewandowsky em declarações à Lusa.

O politólogo Floris Biskamp acredita que a AfD continua a beneficiar da impopularidade das políticas do chanceler Olaf Scholz e dos três partidos que formam a coligação, o Partido Social Democrata (SPD), os Verdes e os Liberais.

“Muitos dos eleitores que se voltaram para ele ao longo de 2023 continuam a apoiá-lo nas sondagens. No entanto, a sua ascensão parou nos últimos meses e o partido perdeu algumas décimas”, revelou à Lusa o especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen, que aponta dois fatores prováveis.

“Um é a contra mobilização maciça nos últimos meses após o artigo do Correctiv. O outro, provavelmente o mais importante, é a fundação do ‘Bündnis Sahra Wagenknecht’, outro partido populista que canaliza os votos da base da AfD. Os escândalos, no entanto, não parecem afetar muito. De momento, a AfD parece estar imune a este tipo de escândalos”, realçou.

Ainda antes das eleições europeias, a 09 de junho, e das regionais nos estados da Turíngia, Saxónia e Bradenburgo, a 01 de setembro, a AfD espera obter bons resultados nas autárquicas também na região da Turíngia, a 26 de maio.

“As políticas no leste e no oeste são muito diferentes. A AfD é muito mais bem-sucedida no leste do que no oeste. Isto é verdade para as eleições locais, estatais, nacionais e europeias. No entanto. Os estados de leste representam apenas cerca de um quinto da população e têm uma taxa de participação bastante baixa, razão pela qual o seu peso é limitado”, salvaguardou Floris Biskamp.

“As eleições autárquicas na Turíngia irão muito provavelmente mostrar como a AfD é capaz de mobilizar os seus eleitores para além das sondagens. O mesmo se aplica aos outros partidos. Assim, tanto a direita radical populista como os partidos tradicionais tentarão aproveitar as eleições de maio como um marco para o que acontecerá em setembro”, esclareceu Marcel Lewandowsky.

O cientista político, que publicou recentemente um livro sobre o populismo, duvida, ainda assim, que as regionais do outono sejam um barómetro para as federais do próximo ano na Alemanha.

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