Autoestradas e estradas cortadas, camionistas obrigados a voltar para trás. Como o protesto dos agricultores está a paralisar o país

Agência Lusa
1 fev, 14:23

São centenas de viaturas em vários pontos de Portugal

Várias estradas de acesso à fronteira com Espanha estão esta quinta-feira bloqueadas por agricultores portugueses com os seus tratores, que aderiram aos protestos que acontecem noutros países da Europa, reclamando a valorização do setor e condições justas.

Em causa está uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores, que decorre um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).

Os agricultores começaram os protestos ao início do dia e, segundo a Guarda Nacional Republicana (GNR), pelas 07:30, várias estradas do país estavam condicionadas, entre as quais a A25, na Guarda, com uma concentração de 200 tratores entre o nó de Leomil e Vilar Formoso, que juntou agricultores de toda a Beira Interior.

A GNR cortou o acesso à Autoestrada 23 (A23) e impediu a entrada naquela via de agricultores do Oeste e Ribatejo que queriam bloquear o trânsito, constatou a agência Lusa no local.

Os cerca de 800 agricultores e 100 tratores que participaram hoje de manhã numa marcha lenta na Ponte da Chamusca, no distrito de Santarém, decidiram depois dirigir-se para a A23 para cortar a via ao trânsito, segundo informou o Movimento Civil de Agricultores.

No entanto, a GNR cortou o acesso à autoestrada, o que impediu os agricultores de bloquear a via.

Os agricultores reorganizaram-se e, segundo disseram à Lusa, dividiram-se em dois grupos que vão aceder à A23 em carrinhas, por outras vias de acesso, para cortarem o trânsito.

No distrito de Portalegre, junto à fronteira do Caia, a A6 está cortada em ambos os sentidos, no nó de Varche, bom como a EN371, em Fronteira do Retiro. Neste distrito é indicada como alternativa a EN4, saída de Borba.

O Itinerário Complementar (IC) 1 encontra-se cortado no distrito de Setúbal, na zona da Mimosa, no sentido Sul/Norte, sendo a alternativa a Autoestrada 2.

De acordo com a publicação, à mesma hora encontrava-se também cortada ao trânsito a EN 260, no distrito de Beja. O corte é total, em ambos os sentidos, em Vila Verde de Ficalho e Fronteira de Paimogo, sendo a alternativa a EN122 Pomarão.

Em Évora, a Estrada Municipal 256-1, em Mourão e Fronteira de S. Leonardo, está cortada em ambos os sentidos. Em alternativa, a GNR indica a EN 389, de Granja para Barrancos.

Já em Elvas, distrito de Portalegre, os agricultores concentrados junto à fronteira do Caia ameaçam mesmo levar os protestos até Lisboa, caso o Governo não os contacte sobre as reivindicações do setor.

Também em Santarém uma concentração de 100 veículos agrícolas provocou um condicionamento na ponte da Chamusca, enquanto em Beja, entre Vila Verde e Ficalho, na Estrada Nacional 260, os agricultores manifestaram-se com cerca de 45 tratores e quatro viaturas pesadas.

Camionistas espanhóis retidos na fronteira de Vila Verde de Ficalho, concelho de Serpa (Beja), devido ao corte da Estrada Nacional 260 (EN260) por agricultores alentejanos, disseram compreender o protesto, restando-lhes só a opção de regressarem à base.

Mais tarde, os cerca de 800 agricultores e 100 tratores concentrados na Ponte da Chamusca deslocaram-se para um novo ponto de protesto, com o objetivo de cortar o trânsito na Autoestrada 23, junto à saída da Cardiga, em direção a Tomar.

No distrito de Bragança, um grupo de agricultores com 60 tratores reuniu-se em Mogadouro para percorrer em marcha lenta a Estrada Nacional (EN) 221 até à fronteira da Bemposta.

Em Coimbra, centenas de tratores e máquinas agrícolas percorreram em marcha lenta a Estrada Nacional (EN) 111 em direção à Baixa de Coimbra, onde os promotores do protesto esperavam juntar, ao final da manhã, meio milhar de veículos.

Neste caso, a manifestação, aparentemente espontânea e não integrada na programação do protesto do Movimento Civil Agricultores de Portugal, partiu de um grupo de produtores agrícolas do Baixo Mondego, que se concentraram em Montemor-o-Velho, a cerca de 25 quilómetros de Coimbra.

Ao final da manhã, em declarações à SIC, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, disse que os agricultores devem confiar no Governo e que vai pedir autorização à Comissão Europeia para utilizar o Orçamento do Estado para evitar distorções no mercado.

“Os agricultores devem confiar no Governo e nas instâncias europeias. A PAC [política agrícola comum] é o único instrumento europeu para fazer face à produção de alimentos e, neste momento, não serve os desafios que os agricultores têm pela frente”, afirmou a governante.

Maria do Céu Antunes garantiu que o Governo vai pedir autorização à Comissão Europeia para utilizar o Orçamento do Estado para que não haja distorções no mercado, isto porque, entre os motivos do descontentamento, está a concorrência estrangeira.

A ministra realçou ainda que o Governo está a trabalhar com o setor e com as instâncias europeias para desbloquear os apoios extraordinários o mais rápido possível.

As ações de protesto junto à fronteira estão a ser acompanhadas pela GNR e pela Guardia Civil espanhola.

O Movimento Civil de Agricultores, que se apresenta como espontâneo e apartidário, garantiu que os agricultores portugueses estão preparados para “se defenderem do ataque permanente à sustentabilidade, à soberania alimentar e à vida rural”.

Em França, os agricultores estão a bloquear várias estradas para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira.

O protesto também tem crescido em países como Espanha, Bélgica, Grécia, Alemanha ou Itália.

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