Vítima foi agredida com um cinto depois de contar que tinha sido abusada na Igreja

13 fev 2023, 16:34
Igreja, acólitos, religião. Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino

Os relatos fazem parte do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa e mostram que alguns dos abusos foram cometidos além-fronteiras ESTE ARTIGO CONTÉM CONTEÚDO EXPLÍCITO QUE PODE CHOCAR OS LEITORES

O padre que dava a missa na aldeia de "F" abusava dela "sempre que tinha oportunidade". Aos 11 anos, na década de 1970, a menina, que era filha de emigrantes, foi vítima de abusos sexuais "na sacristia, no átrio, no carro dele, na casa da madrinha". É um dos relatos que constam do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.

O homem em causa era "conhecido e muito amigo" da família da vítima, a quem forçava a um abuso regular, nomeadamente através da manipulação de órgãos sexuais.

Já "M", que tinha nove anos quando começou a ser abusado numa cidade do interior, só se conseguiu libertar da situação quando regressou para casa dos pais, que viviam num país europeu. Vítima de várias formas de abuso sexual enquanto frequentava o terceiro ano, este homem, hoje na casa dos 60, contou à comissão que foi forçado a manipulação de órgãos sexuais, masturbação e sexo oral.

Abusos que se repetiam com regularidade dentro da igreja - "todos os meses do ano menos julho e agosto, sábado às 15:00" - e que ainda hoje deixam sequelas. No testemunho que deixou através do inquérito online o homem conta que nunca conseguiu ter uma relação íntima.

"Não aceito ser tocado, impossível. Vejo o sexo como uma coisa suja, não suporto ser beijado e não gosto de beijar ninguém."

Abusos portugueses na América

Mais de 10% dos abusos registados pela comissão surgiram de vítimas a viverem fora de Portugal, incluindo algumas na América do Norte. É um dos casos que chegam de relatos numa comunidade açoriana que ali estava instalada e que foi denunciado por um homem nascido na década de 1960.

Conta a vítima que um dos funcionários da sacristia abusava de várias crianças. Era um pessoa que "estava sempre na sacristia e mesmo em lugar de destaque no altar", atrás do qual chegaram a existir episódios de abusos como masturbação, sexo oral e sexo anal.

"Essas situações aconteceram a todos os meninos que ajudavam na Igreja. O padre sabia, mas nunca fez nada para afastar o homem", recorda a vítima, que foi agredida pelo pai com um cinto quando contou o que passava. "Estão malucos", disse-lhe o progenitor, falando também para o seu irmão gémeo. Ambos eram "altar boys" naquele local, tratavam da roupa dos padres, arrumavam cacifos e faziam outras tarefas.

Os abusos, esses, eram fáceis de identificar sempre que aconteciam: o homem andava sempre com dois meninos ao seu lado e forçava-os a relações sexuais "sempre que se ausentava". Aconteciam em qualquer sítio, fosse o salão paroquial, o escritório do padre ou, como já foi dito, atrás do altar.

O padre que chamava meninos e meninas

Foi depois da catequese que um padre chamou, à vez, meninos e meninas. Uma dessas crianças relatou o que se passou naquela tarde, quando tinha apenas seis anos.

Com os restantes colegas nunca soube o que se passou, exceto que o menino que saiu antes de si veio "em pranto". Mas lembra-se bem do que passou naquela "sala fechada". "Sentou-me no seu colo, abraçou-me, beijou-me, acariciou-me por todo o corpo e nas partes íntimas, enquanto ele gemia e eu conseguia sentir-lhe a ereção nas minhas coxas e depois a humidade quente da sua ejaculação."

Mesmo não percebendo o que aconteceu ao certo conseguiu concluir que algo não estava bem. Automaticamente ficou com uma sensação de "aflição, nojo e repulsa, de verdadeiro asco pelo padre em questão", mas também "por toda a vossa Igreja".

O padre em questão, diz, já morreu: "Na morte, dou-lhe o respeito que ele não teve para comigo e para com a minha inocência aos seis anos".

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