Reforço do Sporting por causa (e por troca) do central Franco

5 fev 2015, 10:05
Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo chegou a Alvalade com onze anos porque o Nacional não tinha capacidade para pagar cinco mil contos. Mesmo assim o vice-presidente financeiro torceu muito o nariz ao miúdo...

Houve um nome que sem o saber foi fundamental na carreira de Cristiano Ronaldo: esta história podia ser aliás muito diferente se não existe Franco no início dela.
 
O central que teve uma longa carreira, e que é mais fácil de lembrar pelo que fez sobretudo no Rio Ave, acabou por involuntariamente lançar Ronaldo para o sucesso no futebol.
 
Fê-lo através da transferência para o Sporting.
 
A história é contada ao Maisfutebol
por Aurélio Pereira: palavra então ao nome mítico da formação do clube leonino.
 
«O Nacional tinha uma dívida para com o Sporting de direitos da formação de Franco»,
conta. «O Franco tinha estado até aos juniores no Sporting, depois saiu para o Odivelas e um ano mais tarde assinou pelo Nacional, com contrato profissional.»

 
O Odivelas quis então fazer valer os seus direitos e apresentou uma queixa na Federação: exigia uma compensação pelos direitos de formação.


 
Ora a Federação deu procedência à queixa e intimou o Nacional a pagar os direitos de formação aos dois clubes anteriores de Franco: o Sporting e o Odivelas. No caso do Sporting, a indemnização era de cinco mil contos.
 
Vinte e cinco mil euros na moeda atual.
 
«Cinco mil contos em 1996 era uma fortuna: uma quantia realmente muito elevada para a realidade da altura»
, recorda Aurélio Pereira.
 
«Isto acontece no primeiro ano da presidência de Rui Alves no Nacional. Como o Nacional não tinha possibilidade de pagar essa quantia, lembrou-se do Cristiano Ronaldo. Falaram então com o presidente do núcleo sportinguista do Funchal, o Dr. Marques de Freitas, para ele expor a situação diretamente ao Sporting.»

 
Aurélio Pereira era nessa altura chefe do departamento de formação do Sporting e admite com toda a naturalidade que não conhecia Cristiano Ronaldo.
 
«Não havia nenhuma informação suportada e escrita sobre o miúdo. Hoje se houvesse um Cristiano Ronaldo em Vila Real ou nos Açores, toda a gente saberia tudo sobre ele. Naquele tempo não era assim»
, explica.
 
«Quando o Dr. Marques de Freitas falou comigo, até mais pela consideração que tinha pelo homem, disse-lhe que só havia uma solução: o Nacional pagava a passagem ao miúdo, ele ficava em Alvalade uma semana, nós observávamo-lo e depois logo se via.»

 
Assim aconteceu, de facto.



Aproveitando as férias da Páscoa de 1996, Cristiano Ronaldo viajou para Lisboa na companhia do padrinho Fernão Sousa e cumpriu uma semana de testes no Sporting.
 
«Ao segundo dia decidimos que tinha de ficar.»

 
Aurélio Pereira confessa que não viu o treino do primeiro dia, mas alertado pelos técnicos foi ver o segundo.
 
«Ficamos entusiasmados com o miúdo. Tinha traquejo com a bola, velocidade, imaginação. Mas acima de tudo reparei na forma como ele dominava completamente o ambiente. Falava, dava ordens, gritava. Todos os outros miúdos olhavam para ele como uma coisa rara, como um talento»
, lembra.
 
«Os miúdos selecionam como ninguém. Não dão descontos, como costumo dizer. São juízes implacáveis e se eles, ao segundo dia, já sabem o nome de outro miúdo e lhe passam a bola para ele jogar, é porque esse miúdo é bom jogador.»

 

Osvaldo Silva e Paulo Cardoso foram os dois treinadores que fizeram a observação. «Jogador de talento fora de série e tecnicamente muito evoluído. É de destacar a capacidade de drible em movimento ou parado», escreveram na ficha de avaliação, segundo revelou o jornal do Sporting.



 
Não havia dúvidas, portanto: Ronaldo era um miúdo muito promissor.
 
«Propusemos logo a troca dos cinco mil contos pelo miúdo. Depois fiz uma exposição à Dra. Rita Figueira, que era a diretora jurídica do Sporting. Mais tarde o vice-presidente para a área financeira, que era o Dr. Simões de Almeida, chamou-me ao gabinete dele.»

 
Foi um momento determinante.
 
«Disse-me que não fazia sentido trocar cinco mil contos por um miúdo de onze anos», conta Aurélio Pereira. «Expliquei-lhe a situação e disse-lhe que não podia ignorar o que tinha visto. Ele escutou-me, testou-me, viu a minha reação.»
 
«Meia hora depois de sair do gabinete dele, a Dra. Rita Figueira ligou-me a informar que o vice-presidente tinha assinado a autorização. Acho que viu nos meus olhos que não podíamos perder o miúdo.»
 
O futuro melhor jogador do mundo tornou-se por isso jogador do Sporting a custo zero. A troco, recorde-se, dos direitos de formação de um central júnior: que nunca chegou a defender a equipa profissional do Sporting, aliás.
 
No início da época seguinte, ainda só com onze anos, Cristiano Ronaldo chegava a Alvalade. A partir de onde haveria embarcar para conquistar o mundo.

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