Vítima e alegados agressores continuam a frequentar o mesmo estabelecimento. Os alunos mais novos andam assustados, segundo as autoridades
Um dos alegados agressores da criança de 11 anos sodomizada “com recurso a uma vassoura”, na escola de Vimioso, no distrito de Bragança, é o irmão da vítima, avança o presidente da Comissão de Proteção de Crianças de Jovens (CPCJ) de Vimioso, António Santos, à CNN Portugal. As autoridades falam num clima “de terror e de encobrimento”. Os alunos mais novos “andam assustados” e os suspeitos “sentem que são impunes” porque “ninguém lhes põe travão”.
“Isto tem-se tornado normal, mas ultimamente tem-se tornado cada vez mais grave. Os mais novos andam assustados. Isto é um meio pequeno e todos os miúdos têm conhecimento do caso”, afirma à CNN Portugal José Manuel Alves Ventura, presidente da Junta de Freguesia de Vimioso, que denunciou o caso.
O caso que está a chocar o país aconteceu na sexta-feira 19 de janeiro em plena escola, na presença de, pelo menos, uma funcionária que não nada terá feito para travar o grupo de oito jovens com idades entre os 13 e os 16 anos. A situação só chegou às mãos das autoridades três dias mais tarde quando, na segunda-feira seguinte, os pais da vítima levaram a criança ao médico devido às queixas de ferimentos. Tendo em conta os crimes em causa, a Guarda Nacional Republicana comunicou os factos à Polícia Judiciária.
Na terça-feira estiveram no local inspetores da Polícia Judiciária e, na quarta-feira, a vítima foi encaminhada para o Instituto de Medicina Legal, no Porto, para realização de perícias.
Mas a CNN Portugal sabe que este não foi um caso isolado. No passado, existiram vários casos de violência levados a cabo pelo mesmo grupo, que não só agride os colegas mais novos, como chegou a partir um dedo a uma funcionária, que tentou separar uma cena de violência entre os alunos. No entanto, António Santos garante que não há registo de casos contra professores.
“Este grupo de alunos mais velhos sente que é impune e ninguém lhes põe travão. Não obedecem aos pais, nem aos professores”, reforça José Ventura.
Fonte da direção do Agrupamento Escolar do Vimioso recusou-se a comentar o caso, mas a CNN Portugal sabe que, passado uma semana, tanto os suspeitos como a vítima, continuam a frequentar o mesmo estabelecimento de ensino. À agência Lusa, o Ministério da Educação confirma apenas que existiram “duas situações” na escola que foram sinalizadas, espoletando “a instauração de 10 processos disciplinares a alunos que terão estado envolvidos no caso”.
Fonte da GNR confirmou à CNN Portugal que têm sido destacadas equipas policiais todos os dias para o estabelecimento de ensino para prevenir novos casos e consultar os alunos para saber se estes têm conhecimento de mais casos. Até ao momento, 102 crianças foram ouvidas pelas autoridades e não foi feita qualquer denúncia. “As crianças estão constrangidas com a situação e há um clima de introversão. Esta nunca foi uma escola problemática”, garante o capitão Rui Bento, que admite a possibilidade de vir a abrir um canal de denúncias anónimas, para que as mesmas possam ocorrer sem medo de represálias.
O presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Vimioso também confirma a agressão sexual ao menor, sublinhando que só foi informado da situação pelas 16:35 de segunda-feira.
“Apercebendo-me de que a situação relatada, a ser verdade, era gravíssima, de imediato contactei a diretora do agrupamento escolar e a mãe da criança que, com algum sentimento de revolta, me descreveu tudo o que o filho, de 11 anos, lhe transmitiu mal regressou a casa vindo da escola por volta das 18:00 [de sexta-feira]”, explica António Santos.
O presidente da CPCJ de Vimioso deu ainda conta de que, “dado existirem nove crianças de menoridade” (agressores e vítima), estão agendadas para terça-feira reuniões, em separado, com a mãe da vítima e com os pais dos alunos envolvidos na alegada agressão.
“Para recolher autorizações para avaliar a situação de risco e, consequentemente, abrir processo de consentimento para obter toda a informação necessária à avaliação do risco e se existirão ou não motivos para medidas de promoção e proteção”, antecipa António Santos.