Primeira manifestação dos dentistas é já amanhã e no Parlamento

Agência Lusa , DCT
18 out 2023, 13:28
Dentes (Pexels)

Neste momento, quem está a sair da faculdade nem consegue arranjar emprego, disse João Neto, elucidando que todos os anos cerca de 600 profissionais emigram “devido à crescente precariedade do setor”.

Os dentistas vão manifestar-se na quinta-feira frente ao Parlamento para exigir a criação da carreira especial de médico dentista no Serviço Nacional de Saúde e impedir a abertura de mais um curso perante a “espiral da desvalorização” da classe.

A manifestação, onde são esperados cerca de 300 profissionais, foi convocada pelo Sindicato dos Médicos Dentistas (SMD), por considerar que é “o momento de agir e lutar” pelos direitos de “uma classe esquecida pelos governantes”, que atravessa “a maior crise laboral, desde que existe em Portugal”.

Em declarações à agência Lusa, o presidente do SMD, João Neto, observou que é a primeira manifestação da classe em Portugal e que pretende alertar para a realidade vivida no setor.

“O médico dentista é visto sempre como uma classe privilegiada e não é. Há colegas a recorrerem ao Banco Alimentar, há colegas sem-abrigo, há situações de precariedade muito grave”, alertou, denunciando que há dentistas a trabalharem 50 horas por semana e com uma remuneração mensal de 300 euros.

Neste momento, quem está a sair da faculdade nem consegue arranjar emprego, disse João Neto, elucidando que todos os anos cerca de 600 profissionais emigram “devido à crescente precariedade do setor”.

“Em 10 anos, duplicou o número de dentistas. O rácio neste momento é de 800 habitantes para cada médico dentista e prevê-se que, em 2025, seja de 650 habitantes para cada médico dentista”, o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (1.800 habitantes por cada profissional), salientou.

João Neto adiantou que vão exigir no protesto a criação da carreira especial do médico dentista, porque diz ser “grave o que está a acontecer”, com profissionais, por exemplo, a trabalharem ilegalmente há 20 anos no SNS, porque são contratados como técnicos superiores.

“É uma carreira administrativa, portanto, eles nem podem exercer uma atividade clínica, mas estão assim contratados”, notou, contando que há outros dentistas que, não estando contratados como técnicos superiores, “estão a falsos recibos verdes, porque trabalham para empresas de trabalho temporário”, disse.

Segundo o sindicalista, esta situação reflete-se em situações de urgência: “se durante a noite ou um fim de semana um português precisar de uma urgência dentária, se não tiver meios económicos não existe médico dentista na urgência, tanto a nível hospitalar como no centro de saúde”.

Alertou também para a urgência de haver uma entidade que regule e fiscalize os planos de saúde, sublinhando cerca de três milhões de portugueses já os assinaram e estão “a ser enganados”.

“Se formos ver o Portal da Queixa, há milhares e milhares de queixas de portugueses sobre os planos de saúde e ninguém os pode defender porque não há neste momento nenhuma entidade que os possa supervisionar”, lamentou.

Por outro lado, os dentistas vão trabalhar, muitas vezes, para esses planos de saúde “a pensar que é uma coisa e depois vão fazer tratamentos gratuitos e como é uma atividade muito onerosa, estão a pagar para trabalhar”.

Outra das reivindicações dos profissionais “é a redução imediata dos ‘numerus clausus’”, “impedir a abertura de mais um curso de medicina dentária” e reformular o cheque-dentista.

Apelam ainda à alteração da legislação da publicidade em saúde, referindo que a “publicidade enganosa é um facto que tem vindo a desacreditar os médicos dentistas”.

“Urge regulamentar o setor com tolerância zero para os prevaricadores que prejudicam a classe”, defendem.

Segundo o sindicato, “as redes sociais têm sido o terreno perfeito para ludibriar a boa-fé dos portugueses com promessas de tratamentos milagrosos sem qualquer tipo de controlo”.

João Neto contou que vários profissionais dizem que recebem muitos pacientes que foram para essas entidades e que regressaram “com situações de tratamentos irreversíveis, muito graves”.

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