Primeiro-ministro de São Tomé diz que a Europa "suga" os quadros africanos

Agência Lusa , HCL
19 jun 2023, 21:47
"Transparência e abertura totais": Patrice Trovoada defende apuramento da "verdade" sobre ataque ao quartel militar

Na sua intervenção, o primeiro-ministro Patrice Trovoada criticou o Fundo Monetário Internacional por “alterar as suas próprias regras”, a propósito da guerra na Ucrânia

O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, desafiou hoje em Acra o continente africano a apostar nos quadros que forma e que são “sugados” pelos países europeus, concluindo que África investe na Europa em vez de investir em si.

“Somos o continente mais jovem. Hoje em dia, a Europa aspira todos os nossos quadros, todos os que gastam dinheiro numa escola pública ou numa universidade para se formarem, a Europa fica com eles. Estamos a investir na Europa”, afirmou Patrice Trovoada, quando intervinha numa sessão das Reuniões Anuais do Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank).

“Por isso, temos de dar esperança aos nossos jovens, aos nossos gestores, para que fiquem nos nossos países. Temos de continuar a investir nos jovens e na educação”, reforçou.

Trovoada, que participou com outros chefes de Estado, de Governo e representantes de chefes de Governo, avançou três questões que África deve cumprir.

Sendo a primeira questão a aposta na educação e na criação de condições para os que os quadros africanos não sejam atraídos pelos países europeus, a segunda assenta no desenvolvimento tecnológico.

“Em segundo lugar, temos um acelerador de desenvolvimento sob a forma de tecnologia e que são a inovação e a digitalização. Não podemos perder este ciclo”, defendeu.

“E a terceira é a necessidade de preservar, porque apesar de tudo, apesar de toda a exploração de que temos [África] sido vítimas, no que diz respeito ao ambiente, ainda somos a zona mais bem preservada. E precisamos de a preservar”, sustentou.

Patrice Trovoada considerou que essa preservação “deve ser negociada pelo valor mais alto”.

“Ou seja, preservar e obrigar aqueles que destruíram o planeta a pagar muito mais para que possamos continuar a preservá-lo”, afirmou.

Na sua intervenção, o primeiro-ministro são-tomense criticou o Fundo Monetário Internacional por “alterar as suas próprias regras”, a propósito da guerra na Ucrânia.

“Sabemos como são as nossas relações com o FMI. Mas o FMI mudou as suas regras por causa da guerra na Ucrânia. Antes, o FMI não intervinha em países em conflito. Mudaram as regras. Agora estão a apoiar a Ucrânia”, disse.

Outro desafio que Trovoada lança a África é que o continente entenda qual o seu papel e como se deve preparar para o consolidar.

“Precisamos de pensar e saber qual é o nosso lugar no mundo.
Mas ao sabermos onde nos inserimos, também precisamos de ter consciência do nosso poder. E está na altura de trabalharmos em conjunto, pelo que reforçar o Afreximbank ou qualquer outro banco africano que tenha a mesma visão como banco é uma obrigação.
É uma necessidade de recursos”, salientou, destacando a necessidade de reforçar a bancarização no continente.

Patrice trovoada invocou a facilidade que representam atualmente os vários sistemas de pagamento existentes.

“É vital que existam muitas mais instituições financeiras africanas fortes, porque os bancos estrangeiros em África, atualmente, nem sequer analisam o risco. Analisam o ‘compliance’ e isso está a tornar-se cada vez mais crítico para nós, porque eles dizem que somos bancos com acionistas europeus ou americanos e que temos o nosso ‘compliance’. É mais um problema de risco de investimento em África”, vincou.

Nesse sentido, disse que uma das questões relacionadas com os recursos não é apenas a banca, “mas também a domiciliação dos lucros e dos recursos”.

“Porque na indústria extrativa aceitamos que o investidor estrangeiro que entra possa recuperar esses custos. Mas e depois? Porque não domiciliamos uma parte dos lucros, nem que seja uma parte deles em África, para ajudar o nosso setor privado nacional? É possível. Esse dinheiro dos lucros reforçará ainda mais a nossa economia”, acrescentou.

O Afreximbank, instituição financeira pan-africana criada em 1993, está reunido em Acra, capital do Gana, até esta quarta-feira para debater, entre outros temas, a continuação da consolidação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês).

Em Acra assinala-se ainda o 30.º aniversário do Afreximbank, criado sob os auspícios do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e financiador dos governos africanos e empresas privadas no apoio ao comércio intra-africano.

A reunião decorre sob o tema "Concretizar a visão: Construir a prosperidade para os africanos”, e centra-se no comércio africano, no financiamento do comércio e em questões de desenvolvimento, incluindo a aplicação da AfCFTA.

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