Economia portuguesa resiste e não entra em terreno negativo. É positivo, mas não faz “sentido atirar foguetes”

31 jul 2023, 08:00

Os dados da evolução da economia portuguesa e da União Europeia referentes ao segundo trimestre do ano são conhecidos hoje. As estimativas apontam para que a economia portuguesa tenha abrandado fortemente face ao primeiro trimestre, mas que, ainda assim, se tenha mantido em terreno positivo

A economia portuguesa deverá ter registado uma forte desaceleração no segundo trimestre, face ao registo verificado nos primeiros três meses do ano, mas, ainda assim, terá mantido um desempenho positivo. Um resultado que, a confirmar-se, deverá permitir a Portugal apresentar um crescimento anual superior ao da média da zona euro este ano.

Segundo um levantamento feito pela agência Lusa junto de departamentos económicos de bancos e de universidades, o crescimento registado no segundo trimestre terá atingido um valor entre 2,3% e 2,6%, face ao segundo trimestre do ano passado, enquanto o crescimento face ao primeiro trimestre do ano terá variado entre 0% e 0,3%. Valores que, a confirmarem-se mostram uma desaceleração face ao resultado do primeiro trimestre, período em que o crescimento atingiu 2,5% em termos homólogos e 1,6% em cadeia. Os valores do primeiro trimestre, recorde-se, acabaram por surpreender a generalidade dos analistas que esperavam um crescimento mais modesto e levaram várias instituições a rever em alta a sua estimativa de crescimento para Portugal.

O Banco de Portugal, por exemplo, previa em março, que a economia portuguesa iria crescer 1,8% em 2023, mas em junho alterou a sua previsão para um crescimento de 2,7%. Já o Governo começou por avançar com uma previsão de 1,3%, quando apresentou o Orçamento do Estado para 2023, ainda no ano passado, mas alterou-a para 1,8% no Programa de Estabilidade apresentado em abril deste ano. Mais recentemente, o ministro das Finanças, admitiu que o crescimento possa vir a chegar aos 2,7%.

Independentemente do resultado, todas as estimativas existentes apontam para que a economia portuguesa cresça acima da média da zona euro, cujas previsões apontam para valores de um crescimento em redor de 1%.

Turismo ajuda, mas não dá para tudo

“É um facto que o crescimento da economia portuguesa no primeiro trimestre surpreendeu pela positiva, o que conduziu a uma revisão em alta das projeções. Esse crescimento tem sido fundamentado, em grande medida, na procura externa, sendo de destacar o forte contributo do turismo, num contexto em que o consumo privado desacelerou”, começa por destacar o economista Ricardo Ferraz. Para o economista é “positivo” Portugal estar a “a crescer mais do que o esperado, e até acima da média da zona euro”, mas não faz sentido “atirar foguetes para comemorar” até porque “muitas pessoas estão a passar por enormes dificuldades” face a uma subida dos preços e do crédito que não foi acompanhada pelos salários. “Tem havido perda de bem-estar”, conclui o economista.

Para Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, o PIB de Portugal no segundo trimestre “deve já mostrar uma desaceleração”, uma vez que “as resilientes exportações de serviços no primeiro trimestre, sobretudo turismo, começam gradualmente a não compensar a perda de rendimento disponível pelas famílias, e as crescentes dificuldades de financiamento das empresas, devido ao significativo aumento das taxas de juro”.

E se a economia portuguesa ainda dá sinais de crescimento, segundo os economistas, a sua sustentabilidade não está garantida.

“É provável que o abrandamento económico seja uma realidade no segundo semestre”, sublinha Paulo Rosa, admitindo que “as dificuldades serão mais percetíveis no final do ano e em 2024, devendo a economia portuguesa ter um desempenho inferior no próximo ano ao registado em 2023, penalizada pelas elevadas taxas de juro e pela eventual fraca performance dos seus principais parceiros económicos, as maiores economias da zona euro”.  

Ricardo Ferraz lembra que “o crescimento português tem sido suportado, em grande medida, pelo turismo” e embora sublinhe que é importante aproveitar “os pontos fortes do país enquanto destino turístico verdadeiramente extraordinário”, defende que Portugal não deve depender “excessivamente” deste setor. “Certamente não queremos que o país se transforme na colónia de férias da Europa que só existe para satisfazer os turistas estrangeiros”, sublinha. Assim, para que o país possa crescer de forma sustentável este economista defende que são precisas reformas estruturais desde logo em matéria de impostos. “Não faz sentido continuarmos a ser um dos países da OCDE menos competitivos fiscalmente, enquanto, no espaço europeu, o nosso PIB per capita vai afundado sendo ultrapassado por países que entraram há menos tempo na União Europeia”, critica o economista, concluindo que Portugal precisa de “reter talento, de produzir bens e serviços inovadores e de qualidade e, acima de tudo, de ser mais ambicioso”.

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