Quem mentiu aos portugueses? Quem gozou com os portuenses?

1 jun 2021, 12:37
Chuteiras Pretas

«Chuteiras Pretas»

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

O primeiro-ministro disse isto. O presidente da câmara preferiu afirmar isto. A PSP, limitada na sua capacidade de decisão, referia isto a dois dias da final. Já com a casa arrombada, a ARS Norte colocou desta forma as trancas à porta. 

Todos falharam.  

Ainda se lembram daquilo que foi prometido aos portuenses (e aos portugueses) quando se soube que a final da Liga dos Campeões seria disputada no Estádio do Dragão? Ora leiam as palavras da ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva. 

«As pessoas que vierem à final da Champions virão e regressarão no mesmo dia, com testes obrigatórios feitos ainda antes de entrar no avião, e estarão sempre em situação de bolha. Ou seja, vêm em voo charter, serão dirigidos para duas zonas de espera de adeptos, daí para o estádio e depois do jogo de volta para o aeroporto.»

Não foi assim. Não foi nada assim. A quatro dias da final tive de me deslocar à baixa portuense, para tratar de uma burocracia, e fiquei desde logo preocupado com a grande movimentação de cidadãos britânicos, de cerveja na mão pela manhã e a camisola do Chelsea ou do City colada ao corpo. 

Isto prova que as autoridades tiveram tempo para reagir e acertar a estratégia para que a operação-Champions não se tornasse na vergonha que se tornou. Repito: V-E-R-G-O-N-H-A. 

Ter a final da Liga dos Campeões no Porto é bom para o país? Num contexto normal, claro que sim. Mas este não é um contexto normal. Este é um contexto ainda de pandemia e ainda de urgência sanitária. Valeu a pena o impacto financeiro? A nossa obrigação é fazer perguntas e exigir respostas. 

Quem mentiu aos portugueses? Quem gozou com os sacrifícios das famílias portuenses? 

No mesmo dia em que a minha família era obrigada a dividir-se em duas mesas num restaurante, respeitando as regras implementadas na restauração, milhares de adeptos/hooligans/turistas a tudo se permitiram. E tudo lhes permitiram. 

Consumo de álcool na via pública, ajuntamentos descontrolados, violência degradante, música até altas horas da madrugada. Tudo isto sem o uso de máscara. Um quadro impensável em tempos de pandemia, num país que tem milhares de famílias ainda a chorar a perda de entes queridos. 

Quem explica esta diferença de tratamento? Por calculismo político, preocupantes níveis de incompetência e diferentes graus de impunidade, as consequências voltarão a ser nulas. Revoltante. 

A incoerência dos responsáveis insiste em dar voz aos trogloditas do populismo. Parem! Não houve «bolha», não houve planeamento, não houve capacidade de reação. Houve um total alheamento da realidade.  

Os portuenses não mereciam isto. 

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