Mãe deixa bebé sozinha em casa para ir de férias. Agora foi condenada a prisão perpétua

CNN , Faith Karimi
22 mar, 15:06
Jailyn (DR)

Bebé de 16 meses morreu desidratada. Juiz apelidou o abandono de "derradeiro ato de traição"

Os gritos de Jailyn fizeram-se ouvir nas ruas tranquilas de Cleveland, na calada da noite. A criança choramingava e gemia, mas ninguém a veio salvar.

A mãe, Kristel Candelario, estava ausente numas férias de verão que duraram dez dias e deixou Jailyn sozinha num parque infantil com alguns biberões de leite, segundo a acusação. A câmara da campainha de um vizinho captou os gritos frequentes da criança de 16 meses, incluindo um por volta da uma da manhã, dois dias depois da mãe ter saído.

Mas Candelario estava a centenas de quilómetros de distância, em Porto Rico, com um amigo do sexo masculino, segundo as autoridades. Após alguns dias na praia e outra paragem em Detroit, regressou a casa a 16 de junho do ano passado e encontrou a filha morta. Tinha estado fora durante cerca de dez dias.

Kristel Candelario passou férias em Porto Rico e Detroit, enquanto a filha de 16 meses ficou sozinha num parque de brincar durante 10 dias. Foi condenada na segunda-feira a prisão perpétua. WOIO

Candelario declarou-se culpada no mês passado de uma acusação de homicídio agravado e de uma acusação de colocar uma criança em perigo.

Na sentença proferida na segunda-feira, a patologista forense Elizabeth Mooney disse no tribunal de Cleveland que as crianças sentem uma ansiedade de separação mais extrema entre os nove e os 18 meses. Contou os excruciantes últimos dias de Jailyn.

"A dor e o sofrimento que ela suportou duraram não apenas horas, não dias, mas possivelmente até uma semana", afirmou Mooney, lutando contra as lágrimas.

"Este sentimento de abandono durante dias a fio, aliado à dor da fome e da sede extrema, é um tipo de sofrimento que penso que nenhum de nós poderia alguma vez compreender completamente".

Criança foi encontrada desidratada e debilitada

Na segunda-feira, o juiz condenou Candelario a prisão perpétua, marcando o capítulo final de um caso tão sombrio que os investigadores envolvidos o descreveram como o mais horrível que testemunharam nas suas carreiras.

Os agentes de autoridade, incluindo a sargento Teresa Gomez, da polícia de Cleveland, lutaram contra as lágrimas ao descreverem o estado do bebé.

"Este é um caso que... nos ficará marcado na memória e no coração para sempre", afirmou Gomez aquando a sentença.

A procuradora-adjunta do condado de Cuyahoga, Anna Faraglia, exibiu um vídeo de vigilância que mostrava a mãe a carregar a mala para um carro a 6 de junho e a regressar a casa a 16 de junho. Minutos depois de regressar, Candelario ligou para o 112.

"Por favor, preciso de ajuda", gritou numa chamada para o 112 reproduzida durante a sentença. "Por favor, por favor, ajudem-me. A minha filha está a morrer".

Candelario vestiu Jailyn com uma roupa limpa antes da chegada da equipa de emergência, referiu o procurador. Mas a mudança de roupa não escondeu os horrores pelos quais a menina passou, e a história triste de Candelario começou a revelar-se.

Faraglia disse que Jailyn foi encontrada deitada num colchão coberto de urina e fezes. "Os animais cuidam melhor dos seus bebés", afirmou.

Segundo Mooney, a bebé estava debilitada, com os olhos encovados, os lábios secos e matéria fecal na boca e nas unhas. Pesava menos sete quilos do que na sua última consulta médica, dois meses antes.

Os investigadores disseram que Candelario tinha deixado Jailyn sozinha novamente por dois dias, pouco antes de sair de férias.

Pais de Candelario atribuíram atitudes a problemas de saúde mental

Os pais de Candelario pediram clemência ao juiz.

Numa declaração escrita, a mãe, Ketty Torres, disse que a filha tinha lutado contra problemas de saúde, incluindo doenças mentais e desmaios. Quando a filha deixou de tomar a medicação, isso agravou a sua depressão e ansiedade e contribuiu para a sua incapacidade de tomar decisões acertadas, acrescentou.

Torres disse que a família não tinha conhecimento do que estava a acontecer.

Ao tribunal, Candelario disse que reza diariamente para pedir perdão, acrescentando que acredita que Deus e Jailyn a perdoaram.

"Não estou a tentar justificar as minhas atitudes, mas ninguém sabia o quanto eu estava a sofrer e aquilo por que estava a passar", afirmou.

O juiz Brendan Sheehan, do Tribunal de Justiça do Condado de Cuyahoga, repreendeu-a ao proferir a sentença. Falando com severidade, o juiz disse que Candelario deixou a filha "presa numa pequena prisão" durante dias enquanto ela estava a divertir-se.

"O laço entre uma mãe e um filho é um dos laços mais puros e mais sagrados. É uma relação construída com base no amor, na confiança e na proteção inabalável. ... Cometeu o derradeiro ato de traição. Aquela bebé perseverou, à espera que alguém a salvasse. E poderia ter feito isso com um simples telefonema. Em vez disso, vejo fotos suas numa praia enquanto a sua filha comia as próprias fezes numa tentativa de sobreviver", afirmou Sheehan.

O juiz condenou-a a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

"Tal como não deixou Jailyn sair do seu confinamento até ela morrer, também deve passar o resto da sua vida numa cela sem liberdade", afirmou Sheehan. "A única diferença é que a prisão, pelo menos, dá-vos de comer."

Na sentença, o detetive principal T.J. Powell disse que Jailyn nunca será esquecida. Com a voz a tremer, leu um poema que escreveu em memória da bebé.

J é para a justiça que será recebida hoje.

A é para as asas de anjo que ela ganhou naquele dia terrível.

I é para a repetição crescente de suspense para uma... morte que claramente não faz sentido.

L é pela falta de amor enquanto esteve sozinha durante 11 dias.

Y é para uma vida jovem que foi levada embora.

N é pela nova vida eterna que Jailyn ganhou naquele dia. Nenhuma criança deveria ter de morrer desta forma.

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